Política

Em debate, Boulos aponta ‘fake news’ de Russomanno e Covas foge de ataques

Encontro promovido pela TV Cultura foi o último antes do primeiro turno das eleições municipais

Reprodução/TV Cultura
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A TV Cultura promoveu na noite desta quinta-feira 12 o último debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo. O primeiro turno da eleição acontece neste domingo 15.

No primeiro bloco, os candidatos responderam a perguntas pré-determinadas pelos jornalistas da emissora. A partir do segundo bloco vieram os “confrontos” entre os postulantes à Prefeitura.

O cenário eleitoral em São Paulo está indefinido. Pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira 11 apontou o prefeito e candidato à reeleição pelo PSDB, Bruno Covas, com 32% das intenções de voto. Pela primeira vez a partir de dados do instituto, Guilherme Boulos do PSOL, com 16% das intenções, apareceu numericamente à frente de Celso Russomanno (Republicanos), que tem 14%. Em quarto lugar, Márcio França, do PSB, tem 12%.

Bruno Covas:

No debate, o prefeito evitou os confrontos diretos e tentou se concentrar no que considera pontos positivos de sua gestão.

Quando questionado sobre sua posição em relação à obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 na cidade de São Paulo, afirmou que “a Ciência vai determinar quem será vacinado primeiro e quem será vacinado em segundo”, quando houver um imunizante disponível.

Em um embate com a candidata Joice Hasselmann, do PSL, Covas teve sua participação mais incisiva nesta noite. Joice acusou o prefeito de pintar um ‘mundo de Alice’ em sua propaganda eleitoral.

“Não foi o meu programa que perdeu tempo na Justiça por conta de fake news. Foi o seu. Eu me orgulho muito de tudo o que fizemos na cidade de São Paulo. Mas sei que ainda há muito a fazer. O coronavírus trouxe uma crise econômica e social que precisa ser enfrentada. Eu tenho confiança de que a população vai me dar mais um mandato, porque temos muito a fazer e eu me sinto preparado para encarar esse desafio”, rebateu Covas.

Quando provocado pelo candidato Arthur do Val, do Patriota, sobre a possibilidade de um lockdown em São Paulo para conter a disseminação do coronavírus, afirmou que “a cidade tem índices cada vez melhores no que diz respeito à pandemia. Estamos na 24ª semana consecutiva de redução de óbitos. Não há nada que aponte segundo pico na cidade de São Paulo”, respondeu Covas.

Guilherme Boulos:

O principal embate do candidato do PSOL se deu contra Russomanno. O postulante do Republicanos tornou a acusar o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) de fazer uso de empresas fantasmas em sua campanha.

“Me admira muito a sua cara de pau. Ontem você fez uma acusação leviana com um suposto jornalista que foi preso pela PF a mando do STF porque faz parte do inquérito de fake news. A Justiça determinou que ontem o vídeo fosse retirado do ar por ser mentira. Você quer trazer o Gabinete do Ódio para São Paulo. Vamos entrar com um pedido de apreensão do seu celular e desse meliante, com bloqueio e abertura das contas bancárias, para saber quem paga pelas suas fake news. Eu tenho muito orgulho de andar com sem-teto e sem-terra. Eu só não ando com sem-vergonha, como você”, disparou Boulos. Essa afirmação motivou um pedido de resposta por parte de Russomanno, atendido pela direção da TV Cultura.

Ainda em referência a Russomanno, candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, Boulos declarou que “eles querem repetir 2018. Na reta final, o Gabinete do Ódio entrou em São Paulo. Essa eleição é municipal, mas tem impacto nacional. É preciso defender a democracia. Lamentavelmente, tem gente querendo baixar o nível e trazer a eleição para a mentira”.

O candidato do PSOL também defendeu a necessidade de valorizar o serviço público e os servidores da cidade de São Paulo. Outro ponto abordado por ele foi o transporte público, área classificada como “caótica” sob a gestão de Bruno Covas.

“Vamos expandir os corredores. A Prefeitura atual fez apenas 3 quilômetros de corredores. Vamos integrar ciclovias com terminais de ônibus, estações de metrô, trem e bicicletários. Passe livre para desempregados, estudantes e mulheres com crianças de colo. Vamos enfrentar a máfia dos transportes”, prometeu.

Ao encerrar sua participação no debate, afirmou: “Vamos chegar ao segundo turno e ganhar a eleição. Não é preciso abrir mão dos nossos sonhos para fazer política. Em 2018, muitos votaram com ódio. Agora, vamos votar com esperança”.

Celso Russomanno:

Além dos ataques contra Boulos, o candidato do Republicanos protagonizou um embate com Arthur do Val. O postulante pelo Patriota provocou Russomanno por seu apoio a candidatos em eleições anteriores. “Você apoiou Maluf, Temer, Lula, acelerou com Doria e agora diz que é conservador e está com Bolsonaro. Onde tem poder, tem Russomanno. É quase uma venda casada”, afirmou Do Val.

Russomanno rebateu: “Seu apelido na Assembleia Legislativa é ‘Mamãe, faltei”, porque você falta o tempo todo, não comparece às sessões e é motivo de riso entre os deputados”.

Em disputa com Jilmar Tatto, candidato do PT, Russomanno citou figuras que deixaram o partido e e se filiaram a outras siglas. “O PT perdeu Marina Silva, Marta Suplicy, Erundina. Você não tem medo de perder o Boulos para o Lula?”, perguntou.

Ao abordar o problema da Cracolândia, no centro de São Paulo, o candidato de Jair Bolsonaro defendeu “fazer convênio com a Guarda Civil Metropolitana, a Polícia Militar e a Polícia Civil”. Segundo ele, “com inteligência vamos resolver parte do problema. As pessoas ali precisam de inclusão, com trabalho e habitação”.

Russomanno também prometeu a volta do programa Leve Leite, a construção de corredores de ônibus e a criação do programa Auxílio Paulistano. Ele ainda afirmou que desde 2012 tem se candidatado à Prefeitura para “mudar a história de São Paulo” e “trabalhar da periferia para o centro”.

Em suas considerações finais, Russomanno declarou: “Defendo seus direitos e sua família. Pense bastante. Estou aqui me apresentando para ser o zelador dessa cidade, o melhor prefeito que a cidade já teve.

Márcio França:

O candidato do PSB centrou sua estratégia em se colocar como o antagonista das gestões do PSDB, tanto sob Bruno Covas, quanto sob João Doria. “Gostaria que os servidores resgatassem a autoestima. Governador João Doria, que representa Bruno Covas, chamou servidores aposentados de ‘vagabundos’. Isso é uma ofensa a todos os brasileiros que são de bem”, disse França.

Em diferentes oportunidades, ele criticou candidatos que, para concorrerem à Prefeitura, se dispõem a abrir mão de cargos no legislativo. “Sempre que me elegi, cumpri meus mandatos. Aquilo que eu combinar com você é o que vou cumprir. Jamais desviaria um milímetro”, prometeu. Também apontou, em diversos momentos, que seus concorrentes desrespeitavam as recomendações quanto ao uso de máscara no estúdio da TV Cultura quando não estivessem com a palavra.

França teceu críticas, entre outros pontos, à gestão tucana na área da Cultura, que, segundo ele, “acabou sendo esvaziada ao longo dos anos”. Ele ainda se colocou contra a estratégia de construção de hospitais de campanha para receber pacientes com Covid-19. “Poderiam ser hospitais definitivos, como um legado pós-pandemia”, analisou.

Em suas considerações finais, França pediu: “Quero que reflitam sobre quem tem condições de chegar ao segundo turno e ganhar do PSDB. Aceito o apoio de todos no segundo turno. Se for prefeito, serei o melhor que São Paulo já teve”.

Outros momentos:

Jilmar Tatto concentrou sua estratégia em críticas às gestões de Bruno Covas na Prefeitura e de João Doria no governo do estado. Ao falar sobre o Minhocão, por exemplo, provocou: “Moradores em situação de rua, sem iluminação… E é o bairro onde mora o prefeito. Se o prefeito não cuida nem do bairro dele, imagina do resto da cidade?”. Tatto também chamou Russomanno de “campeão de perder eleição”. “Você perde todas! Só ganha para deputado federal porque faz aquela demagogia no seu programa. Você errou achando que Bolsonaro iria te eleger”, disparou o petista.

Joice Hasselmann falou reiteradamente em enfrentar “máfias”: do transporte, do lixo e das creches, segundo ela. Também reforçou sua proposta de “cortar o IPTU em 20%”. A candidata ainda criticou a gestão de Covas na Saúde, classificada por ela como “um caos absoluto”.

Arthur do Val repetiu, como de praxe, ser o “único candidato que abriu mão do fundo público para fazer campanha”. Ele defendeu a necessidade de rever o Plano Diretor e atacou preferencialmente Guilherme Boulos, que, segundo ele, “agora se vende como Boulinhos paz e amor” mas teria incentivado atos de vandalismo em manifestações.

Marina Helou, da Rede, prometeu resolver o problema do saneamento básico em São Paulo estabelecendo essa questão como uma prioridade. “Vamos cumprir 100% de coleta e 100% de tratamento. É investimento em saúde e dignidade”, disse. Ela também reforçou a importância de votar em mulheres nestas eleições municipais.

Andrea Matarazzo, do PSD, defendeu a necessidade de avançar com um programa de urbanização de favelas. “Quando estava na Prefeitura, fizemos mais de 200 mil unidades de urbanização de favelas. Estrutura de bairro: clube, AMA, delegacia. Dá dignidade e endereço às pessoas”, afirmou.

Orlando Silva, do PCdoB, por sua vez, tentou ressaltar o aspecto nacional das eleições municipais. Ele criticou duramente a gestão de Jair Bolsonaro diante da pandemia – que classifica como “genocida” – e destacou a importância de pensar a educação em São Paulo a partir de uma ótica antirracista. “O racismo estrutural determina a segregação, a retirada de direitos de uma parcela tão importante da população. Quero ser prefeito de São Paulo para incluir a luta antirracista em todas as áreas da administração”, declarou.

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