Política

Em Copacabana, Bolsonaro defende empresários golpistas e centra ataques em Lula

Diante do relativo fracasso dos atos em Brasília, o presidente usou a passagem pelo Rio de Janeiro para demonstrar força política

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu nesta quarta-feira 7, durante a comemoração do Bicentenário da Independência, no Rio de Janeiro, os empresários que foram alvos de uma operação da Polícia Federal por defenderem um golpe em caso de vitória do ex-presidente Lula (PT) na eleição deste ano.

“Hoje estive com os empresários acusados de golpistas. Pelo amor de Deus. Eles tiveram a privacidade violada”, afirmou o ex-capitão. “Queremos que os empresários e que vocês tenham liberdade para decidir o seu futuro. Somos escravos das nossas decisões. Veja a vida pregressa, principalmente para tomar as suas decisões. Tenho certeza que vocês sabem o que fazer para se manter no caminho certo”.

O presidente se referia a Luciano Hang, da Havan, Afrânio Barreira, do restaurante Coco Bambu, José Isaac Peres, dono da rede de shopping Multiplan, Ivan Wrobel, da Construtora W3, José Koury, dono do Barra World Shopping, André Tissot, empresário do Grupo Sierra, Meyer Nirgri, da Tecnisa, e Marco Aurélio Raimundo, da Mormaii.

Em um discurso que durou menos de 20 minutos em Copacabana, o ex-capitão também atacou o seu principal adversário na disputa pela Presidência.

“Falo palavrão, mas não sou ladrão”, declarou ao se referir a Lula. Na ocasião, Bolsonaro ainda atacou políticos de esquerda de países vizinhos.

“Compare o Brasil com a Argentina, a Venezuela e a Nicarágua. Eles são amigos do quadrilheiro que disputa a eleição”, acrescentou. “Esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública, teremos um governo muito melhor com a nossa eleição, com a graça de Deus”.

Mais cedo, em Brasília, o presidente usou o evento para criticar o Supremo Tribunal Federal e desacreditar as pesquisas eleitorais que apontam para a sua derrota.

“Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal, o mal que perdurou por 14 anos em nosso País e que que agora deseja voltar à cena do crime”, discursou Bolsonaro. “Não voltarão. O povo está do nosso lado, está do lado do bem. O povo sabe o que quer. A vontade do povo se fará presente no próximo 2 de outubro”.

O presidente aproveitou a presença de apoiadores no evento na capital federal para pressionar ministros do STF que têm tomado decisões contrárias aos seus desejos.

“Tenho pedido força para resistir e coragem para decidir. Podem ter certeza, é obrigação de todos jogarem dentro das quatro linhas da nossa Constituição”, acrescentou Bolsonaro. “Com uma reeleição, nós traremos para dentro dessas quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora dela”.

Na capital federal, o presidente ainda buscou falar para a sua base de apoiadores ao retomar o discurso contra pautas progressistas.

“Somos uma pátria majoritariamente cristã que não quer a liberação das drogas e não quer legalização do aborto”, disse Bolsonaro.” Que não admite a ideologia de gênero. Um país que defende a vida desde a sua concepção. Que respeita as crianças na sala de aula. Que respeita a propriedade privada e que combate a corrupção para valer. Isso não é virtude, é obrigação de qualquer chefe do Executivo”.

Feriado, desfile militar e comício

Normalmente fechada aos veículos nos domingos e feriados, a orla de Copacabana viveu uma mistura de feriado, desfile militar e comício eleitoral em um Sete de Setembro ensolarado. Desde as primeiras horas da manhã, os esportistas, turistas e crianças que habitualmente aproveitam o bom tempo para ocupar as faixas da Avenida Atlântica viram chegar os grupos de apoiadores de Bolsonaro, em sua maioria vestindo o uniforme da Seleção, camisas com o rosto do ex-capitão ou outros temas em verde e amarelo.

“Estamos aqui na rua para mostrar que Bolsonaro tem muito mais apoio do que os 30% que aparecem nas pesquisas manipuladas”, diz o aposentado Thadeu Figueiredo, que promete repetir o voto no “mito” em outubro: “Quem é brasileiro de verdade está com o Bolsonaro”, resume, dando o tom do que se dizia nas ruas de Copacabana. A pé, de metrô ou em ônibus fretados por pastores ou prefeitos, muitos apoiadores chegaram a tempo de assistir a primeira salva de tiros realizada por grupos de artilharia do Exército às oito da manhã e também ao desfile naval organizado em seguida pela Marinha.

Após uma sucessão de políticos e religiosos se dividindo em trios elétricos, por volta de 14h30 houve alvoroço com a chegada da motociata liderada por Bolsonaro – e algum empurra-empurra antes da subida do presidente ao palanque, ladeado por seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, e o ex-ministro e candidato a vice Walter Braga Netto.

Ao contrário do que se viu, por exemplo, em Brasília, no ato do Rio havia poucas faixas com palavras de ordem antidemocráticas ou pedindo uma intervenção militar e o fechamento do STF. Algumas foram abertas em frente ao palanque onde Bolsonaro discursou: “Abaixo a ditadura da toga! Fora Xandão!”, gritava a comerciante Silvia Ferreira, em alusão ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, um dos alvos preferenciais durante o ato no Rio.

O outro alvo era Lula, presente aqui e ali na forma de boneco ou em camisetas que, em geral, estampavam desenhos do ex-presidente atrás das grades: “Não podemos permitir a volta dessa corja que roubou demais o país”, vibrava o capitão da reserva Leandro Caldas, ao fim da motociata. Ele, assim como muitas outras pessoas na manhã e tarde ensolaradas de Copacabana, diz acreditar na vitória de Bolsonaro. Na pior das hipóteses, a multidão reunida produziu uma boa imagem de campanha para o ex-capitão: “A virada começou”.

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