Economia

Em carta a Paulo Guedes, presidente do Banco Central culpa ‘fenômeno global’ por inflação alta

Em 2021, a alta chegou a dois dígitos, maior taxa desde 2015

Roberto Campos Neto e Paulo Guedes. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, divulgou uma carta enviada ao ministro da Economia, Paulo Guedes, na qual diz que a alta da inflação em 2021 “foi um fenômeno global”. O texto vem a público após o Brasil atingir uma taxa de 10,06% da inflação, a maior desde 2015 e a 3ª mais alta entre países do G-20.

“A aceleração significativa da inflação em 2021 para níveis superiores às metas foi um fenômeno global, atingindo a maioria dos países avançados e emergentes”, escvreveu.

Campos Neto elencou como principais fatores da ultrapassagem do “limite superior de tolerância” os seguintes itens:

  • Forte elevação dos preços de bens transacionáveis em moeda local, em especial os preços de commodities;
  • Bandeira de energia elétrica de escassez hídrica;
  • Desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos;
  • Gargalos nas cadeias produtivas globais.

Ainda segundo ele, as pressões sobre os preços das commodities e sobre as cadeias produtivas globais “refletem as mudanças no padrão de consumo causadas pela pandemia, com parcela proporcionalmente maior da demanda direcionada para bens e impulsionada por políticas expansionistas”.

Segundo ele, “esses desenvolvimentos, que ocorreram em nível global, geraram excesso de demanda em relação à oferta de curto prazo de diversos bens, causando um desequilíbrio que, em diversos países e setores, foi exacerbado por falta de mão-de-obra, problemas logísticos e gargalos de produção”.

O Banco Central anunciou que vai continuar a “calibrar a taxa de juros” e lembrou que tomou medidas de “estímulo monetário”, mas uma “sequência de surpresas altistas nos dados de inflação nos últimos meses de 2020” fez com que o País encerrasse aquele ano com inflação de 4,52%, diante de uma meta de 4%.

As “surpresas” ensejaram uma mudança na comunicação do Comitê de Política Monetária, o Copom, “que culminou com o início de ciclo de aperto monetário no primeiro trimestre de 2021”.

Ao longo do ano passado, diz Campos Neto, “a inflação corrente, as projeções condicionais para o horizonte relevante e o balanço de riscos foram se deteriorando” como reflexo dos fatores enunciados. De outubro a dezembro, a taxa Selic passava de 7,75% para 9,25%.

“A elevação da taxa Selic e as expectativas dos agentes sobre seus movimentos futuros, coordenadas pela comunicação de política monetária, levaram a um aumento expressivo da taxa real de juros”, escreveu Campos Neto. “Esse movimento significou a passagem da política monetária do campo expansionista para o território contracionista.”

O presidente do Banco Central diz ainda que “o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira segue sendo essencial para o crescimento sustentável da economia” e que “eventual esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”.

De acordo com Campos Neto, a projeção é de que a inflação entre “em trajetória de queda” já no início deste ano e pode chegar em dezembro com um patamar menor ao visto no mesmo período do ano passado, em 4,7%, chegando a 3,2% em 2023 e 2,6% em 2024, ante metas para a inflação de 3,5%, 3,25% e 3%.

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