Política

Em 7 meses, Doria sai de São Paulo três vezes mais do que Haddad

O prefeito acumula 17 viagens a 16 destinos diferentes. No mesmo período, o petista viajou cinco vezes, todas a Brasília

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Há 230 dias à frente da Prefeitura de São Paulo, João Doria se ausentou de São Paulo três vezes mais do que o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) no mesmo período de mandato. Com 42 dias longe da capital paulista, o tucano já embarcou a 16 destinos diferentes, sendo seis deles internacionais. Nos últimos dias, sua agenda se distanciou do tradicional eixo centro-sul e concentra-se no Nordeste. 

O roteiro de Doria pela região teve início na terra natal de sua família. Ex-deputado, o pai do tucano, homônimo ao filho, nasceu e cresceu na Bahia. A primeira parada do prefeito paulistano na região poderia remeter ao orgulho patriótico, mas a viagem a Salvador tinha como objetivo um encontro com o prefeito da cidade, Antônio Carlos Magalhães Neto, do Partido Democrata, legenda com a qual Doria têm mantido uma relação cordial.

Nesta sexta-feira 18, o prefeito volta ao Nordeste. Primeiro aterrissa em Fortaleza, onde pretende “mostrar resultados de sua gestão”, e em seguida segue para Recife (PE) para participar de um jantar com empresários. Só nesta semana, ele já passou por Palmas (TO) e por Natal (RN).

Nas duas cidades, os encontros tinham políticos como anfitriões, o que foge de sua agenda tradicional, marcada por constantes encontros com empresários. Na capital de Tocantins, Doria se encontrou com Carlos Amastha (PSB), prefeito da cidade, e participou do 2º Encontro Estadual do PSDB no estado. Já em Natal, recebeu o título de cidadão natalense, homenagem realizada pelo vereador Raniere Barbosa (PDT), afastado do cargo por ser acusado de um desvio de 22 milhões de reais quando foi secretário municipal de Serviços Urbanos da capital do Rio Grande do Norte.

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Diferentemente da recepção baiana que foi regada a ovos contra Doria e ACM Neto, nas duas ocasiões o prefeito foi recebido com faixas lançando seu nome para a corrida presidencial de 2018. Sob gritos de “Doria presidente”, o prefeito declarou durante cerimônia na Câmara Municipal de Natal que “a esquerda não é a salvação para o Brasil”.

Cortejado pelo presidente Michel Temer para migrar para o PMDB, o prefeito declarou em recente entrevista que pretende permanecer tucano, mas movimenta as peças no campo conservador com sua postura diplomática em relação a outras legendas.

Embora afirme que não possui intenções de se candidatar à presidência nas próximas eleições, o roteiro de viagens por históricos redutos petistas e a relação com partidos de dentro e fora da base aliada questionam sua fidelidade ao governador do estado de São Paulo, seu padrinho Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB.

Sua agenda de viagens deste mês conta ainda com visitas a Campina Grande (PB), Aracaju (SE) e Vila Velha (ES). Para outubro, está prevista outra visita ao norte do país, Belém (PA), e a sétima viagem internacional, para Milão, na Itália.

No mesmo período como prefeito, o ex-mandatário de São Paulo Fernando Haddad foi mais modesto na rodagem: a agenda se limitou a cinco viagens, todas a Brasília, para audiências periódicas com a ex-presidenta Dilma Rousseff.

Na capital federal, Haddad se reunia também com os ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e Joaquim Levy, e a ex-ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão Miriam Belchior, encontros que tratavam prioritariamente da renegociação da dívida de São Paulo com a União. Ao fim de seu mandato, as dívidas da cidade com a União caíram de 64,8 bilhões de reais para 28 bilhões de reais, uma redução de 36,8 bilhões de reais.

Curiosamente, a agenda de viagens de Haddad teve uma reviravolta depois de sua saída da prefeitura. Embora a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tenha colocado a candidatura de Lula como “plano A, plano B e plano C”, a movimentação de Haddad mostra que ele pode ser uma alternativa ao ex-presidente.

Em tese, caso a condenação de Lula a 9 anos e meio de prisão seja confirmada na segunda instância, ele não poderá se candidatar. As viagens de Doria e Haddad coincidem com a caravana de Lula pelo Nordeste, iniciada na quinta-feira 17. O roteiro começa por Salvador e passará por 28 cidades em apenas 20 dias.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também deve enfrentar a rejeição nordestina ao PSDB paulista com uma viagem programada à capital do Ceará, Fortaleza. Para garantir sua candidatura e desidratar Doria, o governador tem se apoiado em sua experiência política, um contraponto à imagem de gestor moderno vendida pelo prefeito paulista.

Em uma recente palestra em Porto Alegre (RS), Alckmin afirmou que “2018 será a eleição da experiência”. O tucano deve se apoiar também na rejeição sofrida pelo partido em 2006, quando o então prefeito de São Paulo, José Serra, renunciou ao cargo para concorrer ao governo. No comando do estado, novo afastamento: em 2010, Serra se licenciou do cargo para concorrer à presidência, quando foi derrotado por Dilma Rousseff. 

A experiência eleitoral de Serra pode servir de exemplo a Doria. A decisão do atual senador de se afastar dos cargos para os quais foi eleito com o objetivo de concorrer a postos mais relevantes gerou incômodo no eleitorado paulistano. Em 2012, Serra, derrotado por Haddad, teve sua pior votação em segundos turnos em São Paulo, dois anos após ser candidato a presidente.

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