Política

Eleição pode marcar enfraquecimento do bolsonarismo e cansaço da polarização

Especialistas ouvidos por CartaCapital afirmam que pleito municipal deste ano mostra um cenário para 2022

Foto: Marcos Corrêa/PR Foto: Marcos Corrêa/PR
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As eleições municipais que ocorrem neste domingo 15 podem representar o início de um novo ciclo na política brasileira. Se os resultados confirmarem as tendências que aparecem nas pesquisas de opinião, o presidente Jair Bolsonaro deve sair enfraquecido do pleito. A opinião é compartilhada por especialistas que conversaram com CartaCapital.

Para Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a eleição deste ano deve confirmar o cansaço da polarização e, em consequência, o refluxo do bolsonarismo.

“Percebemos que uma parcela da população começa a se sentir cansada da polarização ideológica e por conta disso tem tentado ser mais pragmática. Ou seja, não está querendo experimentações como ocorreu em 2018. Vale ressaltar que experimentaram o Bolsonaro, que se elegeu com duas grandes bandeiras: o neoliberalismo do Paulo Guedes e o combate à corrupção com o Moro, mas as coisas não andaram. Uma parcela dos eleitores parece que começa a sair de um discurso polarizado e pensar mais pragmaticamente ao centro”, diz Prando.

Segundo o professor, “a eleição municipal não tem diretamente um impacto em 2022, mas mostra um cenário”.

“Parece que a maior tendência é um enfraquecimento do bolsonarismo. O presidente tem uma dificuldade de emplacar candidatos que ele apoiou, que ficaram em uma situação desconfortável ou de difícil competição com os adversários”, afirma.

O principal motivo para o cenário é a política do governo federal de combate à pandemia do novo coronavírus, que já vitimou mais de 165 mil brasileiros.

“Quando Bolsonaro trata a pandemia com desprezo, chama o brasileiro de maricas, diz que tem que enfrentar a Covid-19 de peito aberto e não usar máscara, fica claro que os prefeitos e governadores que se afastaram dele tiveram uma atitude que a população tem lido como correta”, avalia Prando.

“A pandemia mexeu com a sociedade e fez com que as pessoas pensassem que o discurso ideológico e a postura polarizadora não deram certo. Daí, eles votam nos candidatos contrários ao presidente”, acrescenta.

A ideia de que o eleitor busca moderação é defendida também pelo cientista político Antonio Lavareda, que recentemente lançou o livro “Eleições Municipais, novas ondas na política” com Helcimara Teles.

“Até agora, as pesquisas confirmam o pêndulo do eleitorado se deslocando para a direita. Agora, a direita não é exatamente o bolsonarismo que explodiu em 2018. Esta direita que avança nas capitais é sobretudo representada pelo DEM, PSD e o PP. Eles são os principais autores do crescimento da direita nas capitais. Quando você olha para essas cidades, percebe-se que os partidos alinhados com o bolsonarismo não lideram as disputas”, apontou Lavareda em conversa recente com a reportagem.

O cientista político aponta que, além da pandemia – que tem potencial para mitigar a polarização no País -, outros fatores que podem dificultar a vida política do presidente.

“A ausência de uma estratégia partidária do bolsonarismo, já que o presidente saiu do PSL e deixou órfãos os partidários, e, por fim, a guinada do presidente que deixou a postura de confrontação e aderiu ao presidencialismo de coalização”, opina Lavareda.

Na avaliação de Prando, “um discurso assentado no ódio, no confronto e no ataque é desgastante para a sociedade”.

“As pessoas começam a dar um recado de cansaço e pode ser por causa da pandemia. Não adianta prometer, tem que entregar. O presidente e uma parte dos seus apoiadores são muito bons na retórica e no discurso. Ganharam em 2018 com força de comunicação, só que não estão fazendo a gestão e as pessoas perceberam”, diz.

Como exemplo, ele cita a disputa em São Paulo, que tem, segundo as últimas pesquisas Ibope e Datafolha, Bruno Covas (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB) nas três primeiras colocações. O candidato apoiado pelo presidente, Celso Russomanno (Republicanos), que chegou a ficar na segunda colocação, caiu para a quarta.

“As pessoas começam a entender onde elas entraram com o governo Bolsonaro.  Ele tem apoio, mas a rejeição já chegou a 50% em São Paulo. Os eleitores derreteram o Russomanno e isso é um recado da sociedade mostrando descontentamento”, afirma Prando.

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