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Efeito Alckmin

Marcelo Freixo está prestes a anunciar o tucano César Maia como seu vice, mas o arranjo enfrenta resistências

Freixo e Maia. Imagem: Redes sociais e Ricardo Stuckert
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A complexa trama que antecede a confirmação das chapas para as eleições no Rio de Janeiro ganhou ares de thriller nas últimas semanas com a aproximação de forças políticas que jamais se bicaram no estado. Marcelo Freixo, do PSB, está prestes a anunciar como vice Cesar Maia, ex-prefeito da capital e pai do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o autor da iniciativa. Executada com a bênção de Lula, a movimentação é vista pelos protagonistas como decisiva para assegurar a vitória do campo antibolsonarista contra o governador Cláudio Castro, do PL, candidato à reeleição e em situação de empate técnico com Freixo nas pesquisas. Se a inusitada aliança for concretizada, espera-se efeito eleitoral imediato, uma vez que Cesar, hoje no PSDB e em seu segundo mandato como vereador, seria o “Alckmin do Freixo”, como define um dirigente do PT, além de um trunfo para reverter a rejeição que o pré-candidato a governador ainda enfrenta em setores conservadores e no interior do estado.

O suspense desse enredo cresce a cada dia, uma vez que o arranjo entre Freixo e Cesar mexe com o quadro político regional e pode significar um inédito apoio dos tucanos a Lula no Rio. O desejo da cúpula petista é também trazer para a aliança o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PSD, partido que lançou como pré-candidato ao governo estadual o ex-presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Precocemente de olho em 2026, Paes, que nunca escondeu seu desejo de ser governador, tem atuado até agora como um candidato oculto na pré-campanha, preocupado com a possibilidade de ter de enfrentar um Freixo candidato à reeleição daqui a quatro anos. A tarefa de convencer Paes a aderir ao possível futuro adversário não é simples. Mas, se ­bem-sucedida, forçosamente implicará modificações na estrutura da chapa encabeçada pelo PSB e obrigará um ou mais pré-candidatos majoritários a desistir de concorrer ao Senado ou ao Palácio Guanabara, o que só faz aumentar a tensão política durante as negociações.

A movimentação visa reverter a rejeição do candidato do PSB em setores conservadores e no interior do estado

Para atrair Paes, que foi lançado na política por Cesar, a ideia de Rodrigo Maia é oferecer ao PSD a candidatura ao Senado na chapa de Freixo. A proposta, em princípio, desagrada igualmente ao deputado federal Alessandro Molon, do PSB, e ao ­deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Rio, ­André ­Ceciliano, do PT, que protagonizam nos bastidores uma ferrenha disputa para ver quem será o candidato apoiado por Lula e ­Freixo ao Senado no estado. Procurados por ­CartaCapital, os dois parlamentares não quiseram comentar a possibilidade de desistência mútua em favor de Santa Cruz. Após o TSE ter reiterado na semana passada que uma mesma coligação pode lançar mais de um candidato a senador, a discussão agora nos partidos é se vale a pena pulverizar as candidaturas do campo antibolsonarista ao Senado ou se é melhor concentrar em um único nome: “O problema é que ninguém se entende sobre quem vai abrir mão de sua candidatura”, diz uma fonte próxima à campanha de Freixo.

O tema foi tratado durante encontro que reuniu Lula e Paes em 20 de junho. Na conversa, o prefeito afirmou que a candidatura de Santa Cruz ao Palácio Guanabara será mantida e fez a Lula e à presidente do PT, Gleisi Hoffman, a proposta de oficializar o apoio do PSD no estado e abrir mais um palanque para o ex-presidente… desde que este não tenha mais Freixo como “candidato exclusivo”. A ideia foi pessimamente recebida no PSB, como era de se esperar, mas não é de todo desagradável à direção petista: “Eu defendo que o Lula transite nas três chapas. Que esteja nos palanques do Felipe, do Freixo e também no do Rodrigo Neves (pré-candidato do PDT ao governo estadual) e busque apoio de todos os setores que se desloquem ou se oponham ao bolsonarismo”, afirma o vice-presidente nacional do PT e coordenador da campanha de Lula no Rio, Washington Quaquá.

Ao participar no domingo 26 de um evento na Universidade de Oxford, na Inglaterra, Rodrigo Maia defendeu publicamente, pela primeira vez, o nome do pai como vice de Freixo. “Temos que interromper um ciclo eleitoral que foi iniciado no Rio em 1998. Cesar Maia e Eduardo Paes tentaram romper esse ciclo, mas perderam as eleições (para o governo). Como mudar esse ciclo no Rio? O Freixo é um bom cara, de diálogo, que tenta ampliar sua base”, disse a jornalistas. O ex-presidente da Câmara também deixou clara sua posição sobre a candidatura de Santa Cruz ao governo: “Hoje, o Felipe só tira votos do Freixo e não tira do Cláudio Castro. Então, é uma candidatura a serviço do governador, queira o Felipe ou não”.

Imagem: Tânia Rêgo/ABR

De olho em 2026, Eduardo Paes atua nos bastidores contra a aliança

Apesar da aliança articulada por Rodrigo Maia, o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, avalia ser muito difícil que neste momento inicial da campanha eleitoral possa haver um acordo que implique desistências e consolidação de um apoio desde já a Santa Cruz para o Senado e a Freixo para o governo: “O jogo ainda não começou para valer. Com base em experiências anteriores, eventualmente a eleição no Rio de Janeiro só se define na última quinzena antes da votação. Pode até ser que o Santa Cruz aceite ser candidato ao Senado, mas aí ele terá que enfrentar todos os demais. Acho difícil convencer Ceciliano ou Molon a abrir caminho ao Santa Cruz na disputa pelo Senado como o único com o apoio de Lula”.

No que depender dos esforços de Freixo e Rodrigo Maia, neoaliados que se acusavam, respectivamente, de “radical” e de “bolsonarista” quando foram adversários na disputa pela presidência da Câmara em 2019, o ex-prefeito do Rio será confirmado como vice independentemente da composição completa da chapa estadual. A aliança trará dividendos políticos a ambos. “Estamos conversando e o diálogo tem sido muito positivo. Tanto o Cesar quanto o Rodrigo são pessoas que eu respeito muito e têm muito a contribuir para o nosso estado”, afirmou Freixo a CartaCapital. O pré-candidato ao governo pelo PSB não rechaça a possibilidade de composição de chapa com Santa Cruz para o Senado. “Todos os que vierem para somar e ajudar o Rio de Janeiro a virar a página do bolsonarismo são bem-vindos”, diz.

Para os Maia, que ingressaram no ­PSDB em março, a aproximação com ­Lula e Freixo pode significar a redenção política em níveis regional e nacional. O patriarca, uma vez confirmado como candidato a vice-governador, gozaria novamente de um protagonismo que hoje só é exercido através do filho. Já Rodrigo seria elevado à condição de principal interlocutor do PSDB em um eventual governo Lula/Alckmin e fortaleceria sua posição dentro do partido, que em 2023 passará por um processo de reconstrução. Procurado, Cesar Maia disse estar “em isolamento fechado pelo menos até julho”, ainda em consequência da Covid longa contraída no ano passado. O ex-prefeito disse que Rodrigo, “como presidente do partido no Rio, é quem tem negociado as eleições deste ano”. Cesar não quis comentar as movimentações para atrair Eduardo Paes: “Não tenho participado dessas articulações e, portanto, não tenho como opinar”.

Senado. Mais uma vez pode não sobrar espaço para Alessandro Molon nos acordos costurados por Freixo – Imagem: Redes sociais

Provavelmente com as orelhas ardendo de tanto que o seu nome tem sido mencionado nas negociações, Santa Cruz se diz tranquilo e reafirma a candidatura ao Palácio Guanabara: “Não há nenhuma articulação de nossa parte para outras composições, seja para o Senado ou para deputado. Nem eu tenho esse projeto de vida. Estou a serviço da reconstrução do meu Estado, não sou político profissional. Se não fosse candidato a governador, voltaria ao meu escritório para advogar”. O ex-presidente da OAB diz que a executiva estadual do PSD aprovou sua candidatura por unanimidade e que Paes confirmou a manutenção de seu nome a Lula. Mas deixa as portas de seu futuro palanque abertas para o petista: “Eu sou filho, sobrinho e neto de fundadores do PT. Sou um profundo admirador do presidente Lula, resisti à Lava Jato e às agendas da ultradireita que governa o Brasil. Ficaria muito feliz em ter o Lula no meu palanque e em fazer campanha para ele, a quem sempre admirei. Todas as vezes que foi candidato à Presidência, Lula teve o meu voto”.

Ismael diz que as negociações em curso são decisivas porque “a eleição para o governo ainda está em aberto” e provavelmente será realizada em dois turnos. “Não há garantia de quem estará lá. Ainda haverá os debates, a internet e a campanha de rua. Apesar de Castro e Freixo aparecerem à frente nas pesquisas, essa é apenas a foto da largada. A terceira via no Rio não é uma possibilidade que possa ser descartada neste momento. A polarização ainda pode ser quebrada”, analisa.

Já Quaquá ressalta que a tarefa primordial para o PT é eleger Lula e derrotar o bolsonarismo. “Neste momento do ­País, o ideal seria uma chapa que ­juntasse ­Freixo, Ceciliano, Neves e Santa Cruz, independentemente de para qual cargo cada um fosse escalado. Mas isso não está dentro da realidade política construída. Neste caso, acho que Lula deveria transitar em todos os palanques, assim como Ceciliano.” O dirigente petista apoia a aproximação com os Maia: “O anúncio dessa aliança dá fôlego à candidatura do Freixo, que anda num território muito estreito na classe média de esquerda”. A expectativa é que o nome de Cesar como vice seja confirmado até o ato que reunirá Lula e Freixo na Cinelândia em 7 de julho e que terá o ex-prefeito como insuspeito convidado. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1215 DE CARTACAPITAL, EM 6 DE JULHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Efeito Alckmin”

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