Os tucanos têm conversas iniciais com o Podemos, que incorporou o PSC, e o MDB, outro objeto de desejo em função da bancada generosa no Congresso. Eventual composição com os emedebistas já era tida como pouco provável por pessoas próximas ao presidente Baleia Rossi (MDB-SP). Agora, é vista como ainda mais distante pelo fato de o MDB negociar ser base do governo eleito.
— A prioridade é fortalecer o centro político a partir da discussão com outros partidos para uma eventual ampliação da federação — disse o governador tucano.
“Atualização de bandeiras”
Ao GLOBO, Leite ponderou que a ampliação deve se dar também do ponto de vista programático.
— Vamos ter que promover um congresso que estabeleça uma revisão programática, atualize as bandeiras que devam ser erguidas pelo partido para que a gente possa estar sintonizado com o que se observa de demanda da sociedade e, assim, recuperar o protagonismo do centro — disse.
À frente do PSDB, Leite será o responsável por dar os contornos do posicionamento do partido no governo Lula. No segundo turno da disputa no estado, o tucano optou pela neutralidade.
A expectativa é que, sob Leite, o PSDB não seja base da gestão petista e exerça uma “oposição saudável” no Congresso, com críticas a Lula, mas apoio a pautas de interesse da legenda, como a reforma tributária ou a PEC da Transição — os senadores tucanos Tasso Jereissati (CE) e Alessandro Vieira (SE) apresentaram propostas alternativas, prevendo a abertura de um espaço fiscal menor. Tucanos como o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Carlão Pignatari, têm defendido publicamente que o partido resgate o seu histórico antipetismo, que nas últimas duas eleições foi concentrado pelo bolsonarismo.
Mas manter a bancada na oposição pode ser uma tarefa difícil com a continuidade do orçamento secreto já sinalizada pelo PT, que nesta semana declarou apoio à reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados.
A escolha de Leite para a direção do PSDB teve a chancela do atual dirigente da legenda, Bruno Araújo, e certo consenso interno. As poucas resistências ocorreram em seu reduto, Rio Grande do Sul, e entre tucanos de Minas. Não por oposição a seu nome, mas por uma suposta incompatibilidade entre o cargo de governador e de dirigente partidário.
Tucanos dos dois estados argumentaram que Leite terá dificuldades de criticar o governo Lula ao mesmo tempo em que estará à frente do Palácio Piratini e precisa manter uma boa relação com a administração federal. Temem que o governador gaúcho repita o que ocorreu com Doria em São Paulo, que, após romper com Jair Bolsonaro, sofreu boicote do Planalto.
A expectativa é que o tucano traga novos ares para a executiva do partido e faça uma reciclagem de lideranças, dando mais espaço para nomes que se fortaleceram no pleito deste ano, como a governadora eleita de Pernambuco, Raquel Lyra, e o governador eleito no Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel.
— Leite terá de reconstruir e reinventar o PSDB como uma força alternativa aos dois polos que predominam desde 2018 — afirma o ex-deputado Marcus Pestana, candidato derrotado do PSDB ao governo de Minas, acrescentando. — Penso que uma das tarefas será reconquistar uma base social que hoje nos falta e que o bolsonarismo e o petismo têm. Além disso, superar as ambiguidades dentro do partido e negociar uma possível fusão para a criação de um partido forte que represente o centro.