Economia

Economistas lançam manifesto para Lula revisar a meta fiscal de déficit zero

Iniciativa do professor Pedro Paulo Zahluth Bastos reúne dezenas de profissionais da área

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Lula. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Dezenas de economistas assinaram um manifesto a reivindicar que o presidente Lula (PT) reavalie a meta fiscal para 2024. A iniciativa, encabeçada pelo economista Pedro Paulo Zahluth Bastos, professor da Universidade Estadual de Campinas, tem o apoio de pelo menos 45 estudiosos da área.

O texto menciona declarações recentes de Lula sobre a dificuldade de o governo federal alcançar o déficit zero no ano que vem. A manutenção da meta, defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), poderia evitar que o saldo entre as despesas e as receitas do governo seja negativo.

Segundo os economistas do manifesto, a perspectiva de Lula, que contraria Haddad, estaria a favor da “importância de políticas inclusivas e socialmente justas”.

Os pesquisadores afirmam que “a política fiscal deve ser voltada à promoção do crescimento e desenvolvimento socioeconômico, com responsabilidade ambiental e com estabilidade macroeconômica”.

“A adoção de metas de resultado primário excessivamente restritivas e potencialmente inviáveis fortalece aqueles que buscam subverter nossos valores democráticos e os direitos sociais e humanos, que foram consagrados na Constituição Federal de 1988 e reafirmados pelas urnas”, dizem os economistas.

Os profissionais sustentam ainda que a meta do déficit zero “inviabiliza a expansão quantitativa e qualitativa dos serviços públicos com o intuito de mercantilizá-los” e “amplia riscos políticos e econômicos, como o acionamento de sanções previstas no Regime Fiscal Sustentável”.

Eles também afirmam que o “irrealismo” da meta provoca “ameaças aos pisos constitucionais da saúde e da educação e até mesmo crimes de responsabilidade que não deixarão de ser cobrados pelos veículos de comunicação, políticos e economistas próximos do mercado financeiro”.

Entre os signatários do texto estão o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, consultor editorial de CartaCapital, e Leda Paulani, economista da Universidade de São Paulo, a USP.

Conforme mostrou CartaCapital, o governo tem até 16 de novembro para apresentar uma proposta de emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias em tramitação no Congresso Nacional, se tiver o objetivo de mudar a meta fiscal. Atualmente, o projeto prevê meta de déficit zero.

Parte dos auxiliares do governo reivindica um déficit equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto. De acordo com o relator da LDO, Danilo Forte (União-CE), os congressistas devem evitar a elaboração de um “Orçamento fictício”, mas ele argumenta que a responsabilidade de propor a alteração da meta é do governo.

Veja o texto na íntegra e os signatários

Manifesto pela reavaliação da meta de resultado primário

As declarações recentes do Presidente Lula pela reavaliação das metas fiscais encontram apoio de uma coletividade de economistas, acadêmicos e especialistas em economia e orçamento público, que atuam não só no Brasil, mas também em diversos outros países. Em um contexto no qual forças autoritárias ainda ameaçam a estabilidade democrática do nosso país, o posicionamento do Presidente emerge como um bastião contra o retrocesso, reiterando a importância de políticas inclusivas e socialmente justas. A política fiscal deve ser voltada à promoção do crescimento e desenvolvimento socioeconômico, com responsabilidade ambiental e com estabilidade macroeconômica. A quem interessa que metas fiscais irrealistas não sejam alcançadas?

A adoção de metas de resultado primário excessivamente restritivas e potencialmente inviáveis fortalece aqueles que buscam subverter nossos valores democráticos e os direitos sociais e humanos, que foram consagrados na Constituição Federal de 1988 e reafirmados pelas urnas. Adicionalmente, inviabiliza a expansão quantitativa e qualitativa dos serviços públicos com o intuito de mercantilizá-los. Como se não bastasse, amplia riscos políticos e econômicos, como o acionamento de sanções previstas no Regime Fiscal Sustentável, as ameaças aos pisos constitucionais da saúde e da educação e, dado o irrealismo das metas, até mesmo crimes de responsabilidade que não deixarão de ser cobrados pelos veículos de comunicação, políticos, e economistas próximos do mercado financeiro.

No atual cenário econômico, torna-se imprescindível a priorização do investimento em obras e serviços públicos essenciais e dos programas sociais, em detrimento de uma adesão rígida e dogmática a metas de resultado primário irrealistas. A gestão orçamentária deve prezar pela sustentabilidade fiscal, empregando seus instrumentos para criar as condições necessárias para o crescimento econômico dos diferentes setores de atividade, para alcançar o pleno emprego, para garantir a estabilidade de preços e para fomentar a prosperidade da população brasileira, em especial da parcela mais desfavorecida.

Defendemos uma abordagem fiscal e orçamentária que esteja alinhada com os objetivos de promover o bem-estar social, a justiça econômica e o desenvolvimento sustentável. Rejeitamos metas potencialmente inatingíveis e contracionistas que conduzam a cortes e contenções de recursos para investimentos e políticas sociais e demais políticas públicas, desacelerando a economia e exacerbando as desigualdades. Portanto, com o objetivo de garantir a estabilidade macroeconômica e o progresso e a justiça social, com a preocupação de salvaguardar a democracia, manifestamos a urgência pela alteração da meta de resultado primário para 2024.

Subscrevem este manifesto:

  1. Luiz Gonzaga Belluzzo – IE-Unicamp
  2. Leda Paulani – USP 
  3. Rosa Maria Marques – PUC-SP
  4. Carlos Aguiar de Medeiros – UFRJ
  5. Alfredo Saad-Filho – King’s College London
  6. Denise Lobato Gentil – UFRJ
  7. Ladislau Dowbor – PUC-SP
  8. Carolina Alves – University College London
  9. Pedro Paulo Zahluth Bastos – IE-Unicamp
  10. Simone Deos – IE-Unicamp
  11. Luiza Nassif – IE-Unicamp e diretora do MADE-FEA/USP
  12. Luiz Fernando de Paula – UFRJ
  13. Adriana Nunes Ferreira – IE-Unicamp
  14. César Locatelli – Doutorando pela UFABC e ABED-SP
  15. Eduardo Fagnani – IE-Unicamp
  16. André Paiva – Doutorando na UNB
  17. Clara Brenck – Made-USP
  18. Davi Deccache – Assessor do Congresso Nacional
  19. Magda Biavaschi – Desembargadora do trabalho aposentada e pesquisadora do CESIT Unicamp
  20. Paulo Kliass – doutor em economia (Paris 10)
  21. Júlio Pires – PUC-SP e FEA-RP/USP
  22. José Eduardo Roselino – UFSCar
  23. Marco Antonio da Rocha – IE-Unicamp
  24. Ana Rosa R. Mendonça Sarti – IE-Unicamp
  25. Pedro Rossi – IE-Unicamp
  26. Paulo Bretas (Abed MG, Membro da Coordenação Executiva Nacional da ABED)
  27. Joana Salem – UFABC
  28. Daniel Negreiros Conceição – UFRJ
  29. Marcelo Manzano – IE-Unicamp
  30. Carolina Baltar – IE-Unicamp
  31. Marilane Teixeira – Economista e pesquisadora do CESIT
  32. Ademir Figueiredo – Economista ABED-SP
  33. Maria Luiza Falcão Silva (UNB e ABED-DF)
  34. Bárbara Vallejos – IE-Unicamp
  35. Rodrigo Vilela Rodrigues – UFSCar
  36. Cláudio Da Costa Manso – CNTU
  37. José Eduardo Roselino (UFSCar – Universidade Federal de São Carlos)
  38. Ricardo Lacerda (Universidade Federal de Sergipe e ABED)
  39. Carlos Fernandez da Silveira (Economista aposentado e Fórum 21)
  40. André Luiz Passos Santos – Doutorando pelo Instituto de Economia da Unicamp
  41. Dario Silva PUC Campinas / Doutorando PPG-EPM UFABC)
  42. Valcir Bispo (Universidade Federal do Pará  e ABED)
  43. Antonio Fernando Gomes Alves (Universidade de São Caetano do Sul)
  44. Rubens Sawaya- PUC-SP
  45. Antônio JC Prado – Economista (Ex-Cepal)

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