Política

‘É uma grande mentira’, diz Ivan Valente, sobre troca de cargos entre PSOL e Baleia Rossi

Em entrevista a CartaCapital, deputado comenta posição do PSOL na eleição da Câmara: ‘Se alguém falou pelo PSOL, falou contra o partido’

O deputado federal Ivan Valente também encaminhou ofícios ao governo cobrando explicações sobre a compra do programa espião (PSOL-SP). Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
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“É mentira, é uma grande mentira. Não há essa possibilidade. E se alguém falou pelo PSOL, que eu não sei quem, falou contra o partido e a própria bancada.” É assim que o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) avalia a acusação de que seu partido tenha negociado cargos por apoio ao candidato a presidente da Câmara Baleia Rossi (MDB-SP), assunto que motivou discussão pública entre os parlamentares da sigla nas redes sociais, nesta sexta-feira 22.

A história havia sido reproduzida pela candidata a presidente da Câmara do próprio partido, Luiza Erundina (PSOL-SP). “É lamentável que o PSOL negocie suas convicções e compromissos políticos históricos ao aderir ao fisiologismo e à barganha por cargos na Mesa da Câmara. Essa é uma prática dos partidos de direita com a qual eu não compactuo”, escreveu. O texto gerou incômodo entre os colegas de bancada.

A acusação de Erundina parte de uma publicação do site da emissora CNN Brasil, na quinta-feira 21: “PSOL avalia aderir ao bloco de Baleia; candidatura de Erundina seria mantida”. Segundo o jornalista Fernando Molica, a aliança teria objetivo de “reforçar o grupo na disputa das vagas da Mesa Diretora”. Conforme completou: “Caso a proposta seja aprovada, o PSOL, que tem dez deputados federais, ajudaria o grupo de Rossi a tentar garantir quatro dos seis cargos titulares”.

A eleição para presidente da Câmara ocorre em 1º de fevereiro. São oito candidatos – estão à frente Baleia Rossi, indicado por Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Arthur Lira (PP-AL), nome de Jair Bolsonaro. Mas o pleito não elege somente o presidente da Casa, como também a Mesa Diretora, composta por dois vice-presidentes e quatro secretários. Outros quatro são escolhidos como suplentes. Ou seja, nessa eleição, cada deputado votará em 11 nomes. Para serem eleitos, os candidatos precisam ter maioria absoluta entre os 513 deputados.

Ao rebater Luiza Erundina, Marcelo Freixo (PSOL-RJ) disse que “a entrada do PSOL na coalizão junto com os demais partidos de esquerda daria maioria ao bloco e impediria que a Comissão de Constituição e Justiça e o Conselho de Ética, por exemplo, ficassem nas mãos de aliados de Bolsonaro”. Ou seja, a presidência da Câmara poderia ser um canal para garantir espaços em comissões importantes, já que os titulares desses espaços são definidos por meio de articulação com o chefe da Casa.

Procurado por CartaCapital para comentar o tema, o deputado não quis se pronunciar. Junto a Freixo, os deputados David Miranda (RJ), Fernanda Melchionna (RS), Sâmia Bomfim (SP) e Vivi Reis (PA) também afirmaram ser favoráveis ao apoio do PSOL à candidatura de Baleia Rossi. No entanto, a proposta foi vencida, de acordo com votação publicada em resolução do partido, em 15 de janeiro.

Em entrevista, Ivan Valente diz que “ninguém assumiu” suposta negociação de troca de cargos. Segundo ele, todos os dez deputados da bancada se comprometeram a votar em Luiza Erundina. “Não ficou nada mal resolvido. A discussão que teve na bancada ficou para trás, porque o partido já tomou uma posição. Nós temos que superar.”

O deputado também cita “ansiedade” na disputa contra o presidente Jair Bolsonaro, e diz que os setores de esquerda que apoiam Baleia Rossi “desapareceram” do debate político, ficaram na “retaguarda”.

“Alguns vão dizer que precisamos derrotar o Bolsonaro, e o melhor nome é o Baleia Rossi. Eu não concordo com isso. Baleia Rossi é do Centrão, votou o tempo todo com a agenda bolsonarista, até mais do que o Lira.”

Confira a seguir os principais trechos da entrevista de Ivan Valente a CartaCapital.

https://twitter.com/fernandapsol/status/1352631355293708290

CartaCapital: Como foi o processo interno no PSOL até chegar à posição de não apoiar Baleia Rossi?

Ivan Valente: Primeiro, fizemos uma reunião da bancada, que ficou dividida entre o lançamento da candidatura própria e o apoio a Baleia Rossi. Então, houve um acordo de que o partido decidiria. E o partido decidiu por uma larga margem: 13 votos a 4. E o nome sugerido e aceito foi o da Luiza Erundina.

A posição oficial do partido não era só lançar uma candidatura nossa, poderia ser uma candidatura de esquerda. Mas como a oposição, e outros partidos, estão fechados em apoiar o Baleia Rossi, que é a nossa divergência, então o nome da Erundina está na disputa.

CC: Sobre a suposta troca de cargos entre o PSOL e Baleia Rossi em negociação de apoio, senhor visualizou isso dentro da bancada?

IV: Não. Na bancada, não tem ninguém afirmando que fez isso. O PSOL não barganha cargos, esse é um princípio do partido. O PSOL inclusive tem uma tradição: todas as vezes lançou candidatura própria. Ou foi o Chico Alencar, a própria Luiza Erundina, o Freixo no ano passado. Nunca negociamos cargo.

Alguns vão dizer que precisamos derrotar o Bolsonaro, e o melhor nome é o Baleia Rossi. Eu não concordo. Baleia Rossi é do Centrão, votou o tempo todo com a agenda bolsonarista, até mais do que o Lira. Certamente tem um diferencial, tanto assim que a posição oficial do PSOL é de que, tanto no primeiro como no segundo turno, não haverá nenhum voto para Arthur Lira. Agora, é uma falsidade dizer que a vitória do Baleia depende dos votos do PSOL. Isso é irreal.

Se o Lira conseguiu ultrapassar os 257 votos, não foi com os votos do PSOL. Aliás, foi com os votos, aí sim, do DEM, do PSDB, do próprio MDB, do PSB e possivelmente outros partidos da oposição que têm votos para o Lira. E o PSOL não tem nenhum voto para o Lira.

CC: Nem todos os deputados concordam, não é?

IV: É legítima a posição de outros companheiros da bancada. É uma discussão sobre a melhor saída para combater o bolsonarismo. Nós entendemos que é apresentando um programa para a sociedade. Outros acham que não, que tem que ir de Baleia logo de cara, mesmo sabendo que o Baleia é isso: também como o Lira, é corrupção, participou do golpe de 2016. Não estamos colocando sinal igual, tanto que no segundo turno, vamos votar no menos pior.

CC: A deputada Fernanda Melchionna pediu respeito a Luiza Erundina após declaração no Twitter sobre troca de cargos. Isso não mostra que a decisão ficou mal resolvida?

IV: Esse debate só veio a público porque houve uma fake news, colocando uma questão que não está no horizonte do PSOL. Então isso vai se resolver dentro da bancada. É vida que segue. Nós temos uma candidatura própria, e os dez votos da bancada vão para a Luiza Erundina, e mais o que ela conseguir angariar de deputados progressistas, democráticos e socialistas.

Não ficou nada mal resolvido. A discussão que teve na bancada ficou para trás, porque o partido já tomou uma posição. Nós temos que superar. O que aconteceu é que essa ansiedade… entendeu? É mentira, é uma grande mentira. Não há essa possibilidade. E se alguém falou pelo PSOL, que eu não sei quem, falou contra o partido e a própria bancada.

CC: Causa desconforto votar em Baleia Rossi no segundo turno?

IV: No segundo turno, você vota por redução de danos. Tem uma disputa na sociedade que diz que é melhor derrotar o Bolsonaro com qualquer um. Nós preferimos, primeiro, colocar a nossa proposta. Depois, se for possível, a gente ajuda a derrotar o Bolsonaro de qualquer jeito. Mas a melhor proposta é a nossa, não é a do Baleia. Então, no segundo turno, não me sinto nada desconfortável.

Exatamente por isso que eu acho que parte da sociedade não tem compreensão do regimento interno da Câmara. Tem oito candidatos. Estão pressionando só o PSOL. Em vez de pressionar os deputados do PSB, que aderiram ao bloco… Mesmo dentro do PT, o Enio Verri teve agora que desmentir que tem voto, mas teve posição a favor do Lira dentro do PT. Tem posição a favor do Lira dentro do PDT. Mas não tem dentro do PSOL.

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