Política

Doria se diz arrependido de ter votado e feito campanha por Bolsonaro

Governador disse que ‘não esperava’ que atitudes de Bolsonaro fossem tão ‘irresponsáveis’ e ‘condenáveis’ como têm sido na pandemia

Governador João Doria (Foto: Governo de SP)
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O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), declarou em entrevista à Folha de S. Paulo nesta quarta-feira 22 que está entre os arrependidos de terem votado no presidente Jair Bolsonaro em 2018 – e, no caso dele, de também ter feito campanha angariando votos para ele e para o então candidato do PSL à Presidência. Para ele, naquela época, Bolsonaro ainda não aparentava ter comportamentos “irresponsáveis”, “distantes da verdade” e “condenáveis”.

“Fiz campanha me posicionando contra esquerda, o PT. O outro candidato era Jair Bolsonaro. Por ser candidato, eu tinha que ter um lado, que não poderia ser o do nulo ou em branco. […] Mas não tinha a perspectiva de ter um presidente que pudesse vir a ter comportamentos tão irresponsáveis, tão distantes da verdade, tão condenáveis sobretudo numa situação de pandemia como essa”, disse o governador ao jornal.

Doria ainda complementa que Bolsonaro só está acompanhado por líderes autoritários que, neste momento de pandemia, negam as medidas para barrar o crescimento da covid-19. “Três são ditadores, um da Nicarágua e dois de repúblicas que pertenceram à União Soviética [Belarus e Turcomenistão]. E o outro foi o presidente Jair Bolsonaro, que felizmente não conseguiu implementar a sua irresponsabilidade”, continua.

Nos constantes embates que o governador tem entrado com o presidente, houve uma retaliação expressiva do governo federal, até o momento, em relação ao estado mais atingido pelo coronavírus no Brasil: a resistência em aprovar um plano de auxílio aos estados devido à perda de arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

 

“É uma atitude claramente retaliatória. Não produziu resultado, o governo foi derrotado por 432 a 70 votos, numa demonstração clara de independência do Legislativo”, disse Doria. O projeto tramita no Senado e deve sofrer alterações decorrentes de negociações com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Em atos recentes que pediam intervenção militar e até mesmo a volta do AI-5, os apoiadores de Bolsonaro também clamavam pelo impeachment do governador. Em relação à resposta dada pelo estado, especialmente pela polícia, às faixas inconstitucionais de volta da ditadura, Doria se limitou a dizer que as pessoas têm “liberdade de expressão”, apesar de repudiar as atitudes.

O governador também comentou sobre o plano de flexibilização gradual da quarentena no estado, que deve tomar forma a partir do dia 11 de maio, 1 dia após o fim do atual decreto que implementa o fechamento de escolas, comércio e recomenda o afastamento social. Atualmente, São Paulo registra 15.385 casos da doença e 1.093 vidas perdidas à covid-19.

Questionado sobre o preço político de ter que lidar com críticas de prefeitos e outras autoridades sobre o fechamento do comércio, que gera fortes impactos na economia, Doria afirma que não está fazendo essa conta agora, apesar da futura flexibilização da quarentena. Segundo ele, uma reabertura gradual do comércio está amparada na ciência.

Para obter dados mais precisos sobre a epidemia, o governo promete zerar a fila de testes que estão para ser processados nos laboratórios associados, e estima uma testagem de 8 mil pessoas por dia em todo o estado. No entanto, apenas a manutenção do distanciamento social em torno de 60%, com um ideal a ser alcançado de 70%, pode achatar ainda mais a curva de crescimento da covid-19 em São Paulo, argumenta Doria.

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