Política

Deputado bolsonarista Gustavo Gayer é alvo de operação da PF por suposto desvio de cota parlamentar

Investigação mira o político do PL e seus assessores que teriam montado um esquema de falsificação de documentos para apropriação indevida dos recursos públicos

Deputado bolsonarista Gustavo Gayer é alvo de operação da PF por suposto desvio de cota parlamentar
Deputado bolsonarista Gustavo Gayer é alvo de operação da PF por suposto desvio de cota parlamentar
O deputado Gustavo Gayer (PL-GO). Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
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A Polícia Federal realiza, na manhã desta sexta-feira 25, uma operação para cumprir 19 mandados de busca e apreensão em Brasília e Goiás como parte de uma investigação que apura um suposto desvio de recursos públicos de cota parlamentar.

A investigação está centrada no gabinete do deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO). O político da extrema-direita e seus assessores tiveram os endereços revistados. Um dos funcionários do parlamentar foi flagrado com mais de 70 mil reais em dinheiro vivo.

Gayer se antecipou e comentou a operação nas redes sociais, afirmando que foi acordado por agentes da PF “esmurrando a porta”. Ele também confirmou que teve seus aparelhos eletrônicos apreendidos. O vídeo foi divulgado por aliados do deputado nas redes sociais.

Os 19 mandados de busca e apreensão foram autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). As ordens são cumpridas em Brasília (DF) e em quatro cidades de Goiás: Cidade Ocidental, Valparaíso, Aparecida de Goiânia e Goiânia. Os demais alvos são:

  • ANTONIO CARLOS GOMES DA SILVA
  • BRUNO AMARAL MACHADO
  • DENIS MARQUES SOARES BARBOSA
  • JOELSON PEREIRA MARTINS
  • JOSELENE MARIA SERGIA BASTOS
  • LINCOLN MACIEL BARROS
  • MARLON WANDERSON LIMA BARBOSA
  • MARTA MARIA GOMES DE CARVALHO
  • MIOGRE TAVARES CORONHEIRO
  • PRISCILLA ANDRADE MORALES
  • RENAN DOS SANTOS GAMA
  • STEFANI MAURICIO VIEIRA BRANCO
  • STEPHANY CRISTINA AGUIAR SILVA
  • SUELI EDNA MACIEL
  • TÁCILO CAIKY ALVES PEREIRA
  • VANDERLY ARAUJO DE CARVALHO
  • VILMA MARIA DE LIMA

Conforme apurado, a organização civil ligada ao grupo foi criada com uma ata de constituição falsificada e com data retroativa, incluindo em seu quadro social crianças de 1 a 9 anos. A operação investiga possíveis crimes de associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e peculato.

“A análise dos dados extraídos das mídias eletrônicas apreendidas revelou indícios de que o Deputado Federal GUSTAVO GAYER teria utilizado espaço físico (Rua T-38, nº 147, QD 116,LT 11, Setor Bueno, Goiânia/GO) alugado com verbas de cota parlamentar, supostamente destinado ao funcionamento de Gabinete Parlamentar, para a operação da empresa Loja Desfazueli (CNPJ nº 49.602.710/0001-80) e escola de inglês Gayer Language Institute”, diz um trecho da investigação.

O entorno do deputado, conforme cita o ministro Alexandre de Moraes na decisão que autorizou a operação, formava “um agrupamento de pessoas, com estrutura ordenada e divisões de tarefas, inserta em ambiente político, voltado para tredestinar verbas parlamentares, no caso sob a rubrica do Deputado Federal Gustavo Gayer, mediante expedientes fraudulentos, consistentes em falsificações de documentos (ideal e externa), além do empenho de custos empresarias à conta pública.”

Ainda conforme decisão do ministro, investigadores citam que o parlamentar bolsonarista era o comandante do esquema de desvio de recursos:

“No caso concreto, identificou-se com nitidez que Gustavo Gayer era quem dava a última palavra (autoria intelectual)”, anota Moraes ao mencionar um trecho da apuração policial. “era Gayer quem direcionava seus assessores na organização de seus empreendimentos privados (‘Loja Desfazueli’ e escola de inglês ‘Gustavo Gayer Language Institute’), as quais eram mantidas, no mesmo
endereço e de forma concomitantemente, a seu gabinete político, o qual era naturalmente mantido com recursos públicos”, completa.

Os supostos crimes

Na decisão, Moraes divide os crimes investigados em uma lista de cinco supostos crimes. São eles:

  1. Associação criminosa centralizada na pessoa do deputado federal Gustavo Gayer;
  2. Peculato desvio, supostamente configurado na contratação do assessor João Paulo de Sousa Cavalcante;
  3. Peculato desvio, supostamente configurado através do uso de verba parlamentar para o funcionamento de empresas particulares;
  4. Aquisição de associação com posterior falsificação de documento particular/falsidade ideológica para qualificá-la como entidade do terceiro setor, com o fim de perceber verbas públicas;
  5. Associação criminosa.

Quem é Gustavo Gayer

Esta não é a primeira vez que Gayer é envolvido em controvérsias. O parlamentar acumula acusações de racismo, disseminação de fake news e assédio eleitoral. Em 2022, ele foi condenado pela 7ª Vara do Trabalho de Goiânia a pagar R$ 80 mil de indenização por coagir funcionários a votar no então presidente Jair Bolsonaro (PL). A decisão apontou conduta de “assédio moral eleitoral” e “desrespeito ao ordenamento jurídico”.

Em novembro de 2023, deputadas do PSOL acionaram o STF, acusando Gayer de incitar preconceito racial, após uma fala em que o apresentador Rodrigo Arantes comparou o QI da população africana ao de macacos, com aparente concordância do deputado. Ainda em 2022, ele viralizou ao associar a população nordestina a uma “galinha que corre atrás de migalhas”, em evento na Bahia, crítica que direcionou a políticas sociais de governos de esquerda.

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