Política

Corregedor que denunciou pressão na Receita Federal sob Bolsonaro pede demissão

Tafner afirma ter sido pressionado a arquivar um processo contra o servidor que acessou sem justificativa dados de desafetos de Bolsonaro

Corregedor que denunciou pressão na Receita Federal sob Bolsonaro pede demissão
Corregedor que denunciou pressão na Receita Federal sob Bolsonaro pede demissão
O deputado federal Eduardo Bolsonaro e João José Tafner. Foto: Reprodução
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O corregedor da Receita Federal, João José Tafner, pediu exoneração do cargo. A demissão será formalizada no Diário Oficial da União nos próximos dias.

No fim de fevereiro, o jornal Folha de S.Paulo revelou que Tafner afirma ter sido pressionado em 2022 pelo antigo comando do órgão a arquivar um processo disciplinar contra o servidor que acessou sem justificativa legal dados sigilosos de desafetos do clã Bolsonaro.

Em 2019, primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro (PL), o chefe da inteligência da Receita, Ricardo Feitosa, acessou e copiou registros fiscais sigilosos de três personas non gratas pelo bolsonarismo àquela altura. São elas:

  • o então procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, que investigou o suposto esquema de “rachadinhas“;
  • o empresário Paulo Marinho, que havia rompido com Bolsonaro; e
  • o ex-ministro Gustavo Bebianno, em condição semelhante à de Marinho.

Conforme documentos internos e depoimentos obtidos pela Folha, Tafner acusou o então secretário da Receita, Julio Cesar Vieira Gomes, e o então subsecretário-geral, José de Assis Ferraz Neto, de pressioná-lo a arquivar o caso e não punir Feitosa.

Os dois acusados, que já deixaram seus respectivos cargos, negam ter exercido qualquer espécie de pressão.

Vieira Gomes também comandava a Receita Federal quando o governo Bolsonaro tentou entrar no Brasil com um pacote de joias estimado em 16,5 milhões de reais. Em 30 de dezembro de 2022, um dia depois de tentar recuperar o conjunto, ele foi nomeado para o cargo de adido da Receita Federal na Embaixada do Brasil em Paris.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anulou a nomeação, assinada por Hamilton Mourão, presidente em exercício naquele momento – Jair Bolsonaro viajou aos Estados Unidos exatamente em 30 de dezembro.

“Já no ano passado eu me senti muito desconfortável com a criação desses adidos no exterior. Me parecia uma coisa muito imprópria, sendo feita a toque de caixa. Eram Abu Dhabi, Paris, outras cidades”, relatou Haddad na última segunda-feira 6. “Solicitei ao presidente que em 1º de janeiro ele extinguisse essas adidâncias, para evitar que esses servidores pudessem sair do Brasil e ganhar uma pequena fortuna de salário no exterior sem responder pelo que eventualmente pudessem estar fazendo no Brasil, dada a pressa com que a coisa foi feita.”

Segundo o ministro, o objetivo de extinguir os cargos era impedir que pessoas deixassem o Brasil até o governo “entender” o que ocorria na Receita.

“Hoje fica mais claro que algo estranho estava acontecendo, que precisa ser apurado, investigado e eventualmente punidos os responsáveis.”

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