Política
Compromisso com o erro
Depois da malfadada tentativa de dispersão, Tarcísio de Freitas recicla a aposta nas internações forçadas
Em dez anos de trabalho na Cracolândia, nunca vi uma situação tão grave”, lamenta o psiquiatra Flávio Falcone, que desenvolve atendimento à população de rua do Centro da capital paulista com abordagem humanizada, vestido como palhaço. “A hipocrisia é gritante. O governo estadual fala em ‘revitalizar’ o Centro, como se não existisse vida ali.” A conversa começou por telefone e continuou com uma caminhada pelas ruas da região onde o “fluxo” de usuários de drogas está espalhado desde que a Praça Princesa Isabel foi desocupada pelas polícias Civil e Militar, em meados de 2022.
No percurso, Falcone é frequentemente abordado por dependentes químicos, que o cumprimentam como um velho amigo. Pudera, Palhaço, como é conhecido, convive com eles diariamente e promove diversas atividades culturais, como o slam do fluxo, uma espécie de batalha de poesias – sim, existem poetas na Cracolândia. Na avaliação do psiquiatra e pesquisador da Unifesp, a situação só piorou desde que foi deflagrada a Operação Caronte, que desocupou a praça sem nenhum plano de acolher as centenas de pessoas que viviam por ali, em uma das maiores cenas abertas de consumo de drogas do mundo. Se antes os usuários estavam concentrados no mesmo local, agora o fluxo foi pulverizado em vários logradouros do Centro.
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