Como Haddad atua para baixar a temperatura em nova crise com evangélicos

O ministro da Fazenda telefonou para lideranças do Congresso e explicou que medida de acabar com isenção fiscal a salário de pastores não envolve 'perseguição'

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assume o cargo em cerimônia no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) | Marcelo Camargo/Agência Brasil

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), telefonou para lideranças da bancada evangélica nesta quinta-feira com objetivo de arrefecer os ânimos em torno da decisão que anulou isenções fiscais a líderes religiosos. O ato, assinado no governo Bolsonaro, foi suspenso ontem pela Receita Federal.

A medida repercutiu mal entre lideranças evangélicas, que classificaram a mudança como um “ataque explícito ao segmento religioso”. Diante do cenário, segundo relatos feitos a CartaCapital, o petista foi aconselhado por aliados a atuar para abaixar a fervura sobre o tema.

Haddad, então, conversou por telefone com o deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM) e o senador Carlos Viana (Podemos-MG), representantes da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso. Na conversa, pontuou que a decisão da Receita não significaria nenhum tipo de “perseguição” aos líderes protestantes.

O petista também ouviu reclamações sobre o tratamento dispensado pelo governo Lula aos evangélicos, mas voltou a reforçar que o Planalto tem se empenhado para se reaproximar do segmento e disse estar “aberto ao diálogo” sobre o tema.

A reportagem apurou que Haddad teria se comprometido ainda a criar um grupo de trabalho com representantes da bancada, da Receita e do Ministério para estudar questões fiscais relativas aos templos religiosos. Nós entramos em contato com o ministro e sua equipe, que ainda não se manifestaram sobre o tema.

Nos bastidores, porém, parlamentares evangélicos sustentam que só haverá diálogo caso a medida seja revogada. A interpretação favorável à isenção tributária sobre a contribuição previdenciária de líderes religiosos foi assinada por Bolsonaro às vésperas das eleições presidenciais de 2022. À época, o ex-presidente buscava consolidar o apoio do segmento evangélico à sua tentativa de reeleição.


Agora, o temor é que os montantes pagos por igrejas e entidades vocacionais a pastores e outros líderes religiosos voltem a ser considerados uma forma de remuneração direta e, assim, sujeitos a contribuição.

Ao derrubar o ato de Bolsonaro, o secretário especial da Receita, Robinson Barreirinhas, alegou que a medida não passou pela avaliação de impacto do órgão – um relatório do Tribunal de Contas da União, por exemplo, estimou uma perda de 300 milhões de reais aos cofres públicos com a desoneração.

O movimento de Haddad acontece em meio à nova tentativa do governo Lula em estreitar os laços com os evangélicos, segmento que representa cerca de 30% do eleitorado brasileiro.

Como mostrou CartaCapital, o petista escalou seus principais auxiliares para articular um encontro com parlamentares da chamada ‘Bancada da Bíblia’, logo após a retomada dos trabalhos no Legislativo. Um dos ministros que têm feito o corpo a corpo é o advogado-geral da União, Jorge Messias.

Desde o ano passado, houve algumas tentativas de aproximação por parte do Planalto, mas os desafios permanecem. Agora, sondagens demonstram o interesse no diálogo com parlamentares evangélicos tidos como “moderados”.

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