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Cobrança para o Brasil definir o Hamas como terrorista é ‘pura ignorância’, diz Aloysio Nunes
‘Esse carimbo de terrorista é algo que decorre de uma posição das Nações Unidas’, afirmou o ex-chanceler a CartaCapital


O Brasil segue o padrão ditado pela Organização das Nações Unidas e não passa de “pura ignorância” a tese de que o País deveria definir o Hamas como uma organização terrorista. A avaliação é de Aloysio Nunes, ex-ministro das Relações Exteriores, em contato com CartaCapital nesta segunda-feira 9.
“Esse carimbo de terrorista a um país ou a um movimento que atua internacionalmente é algo que decorre de uma posição das Nações Unidas, e o Brasil segue a opinião das Nações Unidas”, afirmou Nunes, um quadro histórico do PSDB.
Ele lembra que a Frente para Libertação Nacional do Vietnã foi considerada terrorista por diversas nações, mas se tratava de um movimento de luta pela independência do país.
“Não estou comparando as duas coisas. O Hamas é uma organização sectária, violenta, que não abre nenhuma perspectiva política para os palestinos, uma vez que coloca como objetivo a destruição do Estado de Israel – independentemente de outras considerações, um objetivo inatingível. Mas a classificação como terrorista é algo em que o Brasil segue o padrão da ONU”, reforçou.
Aloysio Nunes destaca o fato de a representação brasileira, na condição de presidente rotativa do Conselho de Segurança da ONU, ter convocado uma reunião neste fim de semana. Apesar de não haver a divulgação de uma resolução comum, dadas as divergências entre membros do grupo, o Brasil demonstra que seguirá em sua tradição de “favorecer todas as ações que possam gerar a paz”, segundo o ex-chanceler.
Ele avalia, ainda, que a ofensiva violenta do Hamas sobre Israel é condenável em todos os sentidos, mas mostra não ser viável buscar uma solução duradoura para o conflito sem considerar a reivindicação dos palestinos pelo direito à sua terra.
“São dois povos que têm uma existência secularmente enraizada na região e que têm aspirações a serem donos de seu destino. Os palestinos têm essa aspiração, aspiração legítima, reconhecida pelas Nações Unidas e que o Brasil sempre reconheceu como legítima”, prosseguiu. “Não é possível uma normalização das relações entre Israel e demais países árabes sem levar em conta a questão palestina, uma solução que pelo menos detenha a expansão da colonização das Cisjordânia e garanta minimamente condições de existência víavel de um Estado palestino.”
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