Política
‘Coach’ de Silveira na crise, Bolsonaro quer levar embate com STF para a campanha eleitoral
Avaliação de estrategistas ligados ao presidente é que chefe do Executivo vive seu melhor momento

O presidente Jair Bolsonaro (PL) quer levar o embate com o Supremo Tribunal Federal (STF) para o centro da disputa eleitoral neste ano. A avaliação de estrategistas da campanha é que, ao conceder o perdão, ou graça, ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a oito meses e nove meses de prisão pela Corte, Bolsonaro vive seu melhor momento. A ideia é tirar proveito eleitoral do confronto com a Corte. Para isso, Bolsonaro tem se encarregado pessoalmente de orientar Silveira em como se comportar diante dos acontecimentos.
O presidente e o deputado se falam várias vezes durante o dia por mensagens de WhatsApp sobre os desdobramentos do caso. Em uma das conversas, segundo relatos obtidos pelo GLOBO, Bolsonaro orientou o aliado a não ir diretamente para o embate e disse que caberia a ele mesmo confrontar os ministros do STF. Como já havia mostrado a colunista Bela Megale, o titular do Planalto tem agido como uma espécie de ‘coach’ do parlamentar fluminense.
De acordo com interlocutores do governo, Silveira tem cumprido uma “missão” do presidente, que quer transformá-lo em um “símbolo” dos embates com o STF. Nesta quarta-feira, o deputado desceu a rampa à frente até mesmo antes de Bolsonaro para participar de uma cerimônia de parlamentares da bancada evangélica e da bancada da segurança pela “liberdade de expressão”, que se tornou um ato de apoio a Silveira. Nas mãos, carregava o quadro com o decreto do indulto individual, que ganhou momentos antes na Câmara, do deputado Coronel Tadeu (PL-SP).
Nesta quarta-feira, Silveira foi escolhido como membro de cinco comissões da Câmara, entre elas a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). As outras comissões são Cultura, Educação, Esporte e Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, da qual foi eleito vice-presidente. A votação foi secreta entre os integrantes do grupo.
No dia anterior, Silveira passou a circular pela Câmara sem a tornozeleira eletrônica, que ele deveria usar desde o dia 31 de março. De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) do Distrito Federal, o equipamento está descarregado desde o domingo de Páscoa. Ao ser questionado, o parlamentar ironizou dizendo que “nem era para eu ter usado ela.”
Orientado pelo presidente, Silveira tem evitado se estender nas declarações à imprensa. Nesta quarta-feira, em quando atendia a pedido de fotos no Salão Nobre do Planalto, o deputado disse que não há nada que o impeça de se candidatar.
— Pela lei, nada me impede. Só se alguém tiver uma imaginação muito fértil pra tentar me tirar isso, pela lei, não — disse Silveira.
Em decisão proferido na terça-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, afirmou que o presidente tem a prerrogativa de conceder o benefício do indulto, mas indicou que o decreto não afasta a inelegibilidade.
O argumento de aliados do presidente é que, com a extinção da pena pelo indulto, a inelegibilidade deva ser discutida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na ocasião do registro da candidatura e dando a oportunidade de Silveira fazer sua defesa.
Neste tempo, a expectativa é que o parlamentar mantenha sua campanha. Daniel Silveira tem o apoio de Bolsonaro para disputar o Senado pelo Rio de Janeiro. Em conversas reservadas, o presidente argumenta que a visibilidade do deputado conquistada após a prisão por fazer ameaças aos ministros do STF retornará em voto em outubro.
Integrantes do primeiro escalão do governo e pessoas próximas ao núcleo familiar avaliam que, desde o início do enfrentamento do presidente com o STF, este é o momento mais favorável a Bolsonaro.
Logo após o STF condenar Silveira por dez votos a um, estrategistas do governo levaram ao presidente que havia uma forte reação também sobre a pena de oito anos e nove meses de prisão em regime fechado, considerada pesada demais até mesmo por outros magistrados. Ao conceder o indulto, Bolsonaro, segundo seus interlocutores, fez um aceno à sua militância, mas também quis dar uma medida que deixava poucas brechas para contestação no tribunal.
No final de semana, a fala do ministro Luís Roberto Barroso afirmando que as Forças Armadas estão sendo orientadas a atacar o “processo eleitoral” também foi capitalizado por Bolsonaro. A declaração irritou não apenas militares que ocupam cargos no governo, mas o alto escalão das Forças. Com o aval do presidente, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Oliveira, emitiu uma nota chamando a afirmação de Barroso de “irresponsável.”
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