Cinzas do golpe

O bloco conspirador liderado por Bolsonaro tem encontro marcado com a Justiça

A reunião golpista prova: só no Brasil conspiradores são capazes de produzir provas contra si mesmos. Bolsonaro e sua trupe facilitaram a vida do ministro Alexandre de Moraes – Imagem: Redes sociais e Marcelo Camargo/ABR

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Jair Bolsonaro passou o carnaval no Rio de Janeiro e na Quarta-Feira de Cinzas embarcou para Brasília. Nos próximos dias, estará mergulhado na preparação de um ato que convocou para 25 de fevereiro na Avenida Paulista – até desistiu de ir à Paraíba receber um título honorífico na sexta-feira 16. A manifestação em São Paulo será um apelo às ruas no esforço para evitar, ou ao menos adiar, um destino cada vez mais provável: uma denúncia criminal à Justiça por tentar, no fim de 2022, crepúsculo do mandato presidencial, anular o resultado da eleição e tirar de cena parte da ­cúpula do Judiciário. “Quero me defender de todas as acusações que têm sido imputadas à minha pessoa”, afirma no vídeo no qual convoca apoiadores para o, digamos, “Bloco dos Golpistas” e os orienta a não levar faixas contra ninguém. “Mais do que um discurso, (importa) uma fotografia de todos vocês.”

A batida policial de 8 de fevereiro contra ele e uma penca de colaboradores militares e civis, quatro dos quais presos preventivamente, não mudou a cabeça dos fãs do capitão, nem a divisão política nacional. A consultoria Quaest constatou naquele dia que a ação da Polícia Federal foi o assunto mais comentado nas redes sociais brasileiras, desde o quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. As menções ao episódio atingiram 56 milhões de internautas, dos quais 58% contra o ex-presidente e 42% a favor. Segundo seus partidários, Bolsonaro é perseguido. Para Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, Paulo Gonet, procurador-geral da República, e Fábio Shor, delegado da PF, ele é possível autor de crime. Que houve crime, o trio concorda: ilícitos tipificados nas leis do Estado Democrático de Direito, de 2021, e das Organizações Criminosas, de 2013. Os três utilizaram a expressão “materialidade” na papelada que assinaram e deu origem à batida. Materialidade, em situações criminais, quer dizer existência de provas da ocorrência de um ilícito.

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2 comentários

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 18 de fevereiro de 2024 06h03
Para os apoiadores de Bolsonaro mesmo que se mostrasse o ex presidente cometendo crimes publicamente em tempo real, a cegueira é tamanha que seu público relativizaria e diria que seu líder estaria sendo perseguido pelo STF, Polícia Federal, mídia, Lula, o PT. Não adianta dar satisfação para essa gente pois a ideologia bolsonarista se incrustou como uma doença incurável nesses seus apoiadores. Bolsonaro mostra todo o seu medo e desespero ao convocar para o dia 25 de fevereiro essas pessoas para apoia-lo na Avenida Paulista. O fato é que Bolsonaro falou, conspirou, tramou, arquitetou o golpe, está tudo gravado e documentado nas redes, nas buscas e apreensões policiais. O que ele irá dizer? Qual será a sua defesa em face dos inquéritos pelas prisões de seus aliados e buscas e apreensões determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes? Depois de 4 anos de governo, melhor, desgoverno, com total falta de decoro, quebra de liturgia do cargo, crimes cometidos, quase que diariamente, chegou a hora do Jair pagar pelos seus atos ilícitos com prisão, seja hoje, seja amanhã seja na Paulista, seja onde estiver a depender do que falar e o Brasil passar a limpo essa fase tragicômica da nossa recente história de golpes e tentativas de golpes.
CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 19 de fevereiro de 2024 11h09
Recentemente, andei lendo algumas obras sobre o papel dos militares em 1964. As informações trazidas pela atual investigação sobre a tentativa de golpe demonstram que os métodos ora utilizados são praticamente iguais aos de então: uso de desinformação e informação falsa/falsificada, coronéis insuflando a caserna, reuniões secretas… A única diferença é o uso do wathsapp, que, utilizado para articular o grupo, parece ser o instrumento que os está denunciando. Ao menos desta vez, as redes sociais parecem estar trabalhando ao lado do Estado Democrático e Constitucional de Direito.

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