Justiça
Cid afirma em delação que Braga Netto cogitou bancar plano golpista com dinheiro do PL
Iniciativa só não avançou por recusa do tesoureiro do partido. Valores seriam destinados à execução do plano para assassinar Lula, Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes


O tenente-coronel Mauro Cid afirmou em delação premiada que o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil sob Jair Bolsonaro (PL), cogitou utilizar dinheiro do PL para financiar as ações da trama golpista que buscava anular o resultado das eleições de 2022. A iniciativa só não avançou por resistência do tesoureiro do partido, segundo o relato do militar.
As declarações constam da colaboração firmada pelo ex-ajudante de ordens com a Polícia Federal no ano passado. Os valores oriundos da legenda iriam para a efetivação do plano para assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, responsável por tornar público o conteúdo da delação nesta quarta-feira 19.
Cid afirmou aos investigadores que chegou a imprimir documento com detalhamento de “valores para deslocamento aéreo, locomoção terrestre, alimentação e, provavelmente, gastos com celulares” para ser entregue a um dirigente do PL, cujo nome não foi revelado. O tesoureiro teria dito que “não poderia utilizar dinheiro do partido para esse tipo de operação”, segundo a transcrição dos depoimentos.
“O valor de cem mil (R$ 100 mil), inicialmente, fui eu que falei, assim, até de maneira brincando. né? Não tinha nem ideia de gasto. E o General Braga Netto me orientou a perguntar se o partido poderia custear isso aí. Aí eu fui conversar com o coronel lá que era responsável pelo partido. Eu não me recordo o nome dele. Inclusive, ele viu o documento“, explicou o militar.
A defesa de Braga Netto não comentou as afirmações do tenente-coronel. O pedido para utilização do dinheiro da sigla teria ocorrido em 12 de novembro, durante reunião na residência do ex-ministro, da qual também participaram da reunião os coronéis Oliveira e Ferreira Lima.
Nesse encontro, de acordo com o relato feito pelo ex-ajudante de ordens aos investigadores, foram discutidas “ações que mobilizassem a população contra o resultado da eleição e que gerassem caos social com o objetivo de Bolsonaro assinar o estado de defesa, estado de sítio ou algo semelhante”.
Os três militares concordaram, na ocasião, sobre a necessidade de “ações que gerassem uma grande instabilidade e permitissem uma medida excepcional pelo Presidente da República”, impedindo a posse de Lula. Num determinado momento, disse Cid, o general pediu que ele deixasse a reunião porque os demais discutiriam “planos operacionais para ações que pudessem gerar caos social e instabilidade”.
Dias depois, o tenente-coronel foi procurado por Oliveira em busca de dinheiro para realizar as operações discutidas na reunião do dia 12. Cid, então, buscou Braga Netto para informá-lo do contato com o militar e ouviu dele que deveria tentar obter os valores no PL.
No depoimento a Moraes, o ex-ajudante de ordens confirmou que recebeu das mãos do ex-ministro uma sacola de vinho contendo o dinheiro solicitado para a operação. A colaboração registra que Cid afirmou não se lembrar o local onde o encontro acontece – se no Palácio do Planalto ou no da Alvorada. Na ocasião, Braga Netto teria dito apenas que os recursos foram obtidos junto ao “pessoal do agro”.
O ex-ministro de Bolsonaro, que também foi seu companheiro de chapa na tentativa de reeleição em 2022, consta entre os mais de trinta denunciados pela Procuradoria-Geral da República no inquérito do golpe. O general foi enquadrado em cinco crimes, entre eles organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e dano qualificado contra o patrimônio da União.
Braga Netto está preso desde o início de dezembro na Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro. Ele foi detido sob suspeita de atuar para obstruir as investigações sobre a tentativa de golpe.
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