Justiça

Cid afirma em delação que Braga Netto cogitou bancar plano golpista com dinheiro do PL

Iniciativa só não avançou por recusa do tesoureiro do partido. Valores seriam destinados à execução do plano para assassinar Lula, Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes

Cid afirma em delação que Braga Netto cogitou bancar plano golpista com dinheiro do PL
Cid afirma em delação que Braga Netto cogitou bancar plano golpista com dinheiro do PL
(Rio de Janeiro - RJ, 17/02/2018) General Braga Netto, Comandante Militar do Leste. Foto: Alan Santos/PR
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O tenente-coronel Mauro Cid afirmou em delação premiada que o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil sob Jair Bolsonaro (PL), cogitou utilizar dinheiro do PL para financiar as ações da trama golpista que buscava anular o resultado das eleições de 2022. A iniciativa só não avançou por resistência do tesoureiro do partido, segundo o relato do militar.

As declarações constam da colaboração firmada pelo ex-ajudante de ordens com a Polícia Federal no ano passado. Os valores oriundos da legenda iriam para a efetivação do plano para assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, responsável por tornar público o conteúdo da delação nesta quarta-feira 19.

Cid afirmou aos investigadores que chegou a imprimir documento com detalhamento de “valores para deslocamento aéreo, locomoção terrestre, alimentação e, provavelmente, gastos com celulares” para ser entregue a um dirigente do PL, cujo nome não foi revelado. O tesoureiro teria dito que “não poderia utilizar dinheiro do partido para esse tipo de operação”, segundo a transcrição dos depoimentos.

“O valor de cem mil (R$ 100 mil), inicialmente, fui eu que falei, assim, até de maneira brincando. né? Não tinha nem ideia de gasto. E o General Braga Netto me orientou a perguntar se o partido poderia custear isso aí. Aí eu fui conversar com o coronel lá que era responsável pelo partido. Eu não me recordo o nome dele. Inclusive, ele viu o documento“, explicou o militar.

A defesa de Braga Netto não comentou as afirmações do tenente-coronel. O pedido para utilização do dinheiro da sigla teria ocorrido em 12 de novembro, durante reunião na residência do ex-ministro, da qual também participaram da reunião os coronéis Oliveira e Ferreira Lima.

Nesse encontro, de acordo com o relato feito pelo ex-ajudante de ordens aos investigadores, foram discutidas “ações que mobilizassem a população contra o resultado da eleição e que gerassem caos social com o objetivo de Bolsonaro assinar o estado de defesa, estado de sítio ou algo semelhante”.

Os três militares concordaram, na ocasião, sobre a necessidade de “ações que gerassem uma grande instabilidade e permitissem uma medida excepcional pelo Presidente da República”, impedindo a posse de Lula. Num determinado momento, disse Cid, o general pediu que ele deixasse a reunião porque os demais discutiriam “planos operacionais para ações que pudessem gerar caos social e instabilidade”.

Dias depois, o tenente-coronel foi procurado por Oliveira em busca de dinheiro para realizar as operações discutidas na reunião do dia 12. Cid, então, buscou Braga Netto para informá-lo do contato com o militar e ouviu dele que deveria tentar obter os valores no PL.

No depoimento a Moraes, o ex-ajudante de ordens confirmou que recebeu das mãos do ex-ministro uma sacola de vinho contendo o dinheiro solicitado para a operação. A colaboração registra que Cid afirmou não se lembrar o local onde o encontro acontece – se no Palácio do Planalto ou no da Alvorada. Na ocasião, Braga Netto teria dito apenas que os recursos foram obtidos junto ao “pessoal do agro”.

O ex-ministro de Bolsonaro, que também foi seu companheiro de chapa na tentativa de reeleição em 2022, consta entre os mais de trinta denunciados pela Procuradoria-Geral da República no inquérito do golpe. O general foi enquadrado em cinco crimes, entre eles organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e dano qualificado contra o patrimônio da União.

Braga Netto está preso desde o início de dezembro na Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro. Ele foi detido sob suspeita de atuar para obstruir as investigações sobre a tentativa de golpe.

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