Economia
‘Chegou o momento de ser mais ambicioso nas pretensões regionais’, diz Haddad na Argentina
Segundo o ministro, a moeda comum entre Brasil e Argentina pode ‘favorecer o intercâmbio entre quaisquer dois países’
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu maior ambição no projeto de integração regional entre os países da América do Sul e afirmou que o plano de moeda comum do Brasil com a Argentina também servirá como modelo para nações vizinhas.
As declarações ocorreram em coletiva de imprensa do petista na Argentina, nesta segunda-feira 23, após um encontro bilateral entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Alberto Fernández.
O petista e o peronista anunciaram que estão estudando a criação de uma moeda comum, que não deve implicar no fim do real e do peso argentino e seria usada em transações do comércio exterior.
“Eu vejo como uma obrigação histórica a gente recolocar o debate de uma integração que, do meu ponto de vista, deveria ser um pouco mais radical do que o que foi tentado até aqui“, afirmou ele, a empresários. “Eu acho que o Mercosul foi uma grande iniciativa, mas eu penso que chegou o momento de a gente ser mais ambicioso nas nossas pretensões regionais.”
Haddad diz ter identificado uma perda de espaço do Brasil no mercado da Argentina, de aproximadamente 40% nos últimos dez anos, devido a uma linha de crédito restrita oferecida pelos brasileiros aos hermanos.
Segundo ele, o fechamento da conta externa entre o Brasil e a Argentina é de 30 dias, e outros países que oferecem aos argentinos um prazo maior para o pagamento da dívida, como a China, saem na frente e exportam produtos que poderiam ser vendidos pelos brasileiros. É o caso, por exemplo de manufaturados.
De acordo com o ministro, o governo Lula passa a estudar, a partir de fevereiro, uma fórmula para estender o prazo oferecido pelo Brasil. O crédito, no entanto, não deve colocar os bancos públicos brasileiros em risco. Haddad afirmou que o desafio do Ministério é criar um “fundo garantidor soberano” para assegurar as cartas de crédito a serem emitidas pelo Banco do Brasil para os exportadores brasileiros.
O que está sendo assumido pelo governo brasileiro é o “risco de conversibilidade” do peso em real. Haddad lembrou que os argentinos sofrem um problema de escassez de divisas. A ideia, portanto, é de que as negociações ocorram fora do dólar. Ainda não há um nome para a moeda comum, nem uma previsão de data para que entre em vigor, mas há a expectativa de que ultrapasse a parceria bilateral.
“Uma moeda comum entre os dois países vai fortalecer o comércio exterior na região e não vai ser exclusiva do Brasil e da Argentina“, declarou. “É um mecanismo que vai ser criado e que pode vir a favorecer o intercâmbio regional entre quaisquer dois países.”
Haddad não determinou o nível do financiamento dessas operações, mas mencionou os valores de 5 e 10 bilhões de reais. Lula e Fernández não souberam fornecer detalhes do funcionamento da nova moeda.
Segundo o ministro da Fazenda, Lula se dirige a Montevidéu ainda nesta semana para emitir uma mensagem de integração ao presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou. Antes disso, o presidente se reúne com outros líderes da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, a Celac, em Buenos Aires.
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