Caseiro usa provas de rachadinha para chantagear ex-mulher de Bolsonaro, diz revista

O ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Marcelo Nogueira dos Santos, volta ao centro das suspeitas do caso das rachadinhas no clã de Jair Bolsonaro. Ele, que também é ex-caseiro de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente, diz agora ter provas em áudio e vídeo do funcionamento do esquema nos gabinetes da família. De acordo com a revista Veja, Nogueira estaria usando as supostas provas para chantagear e ameaçar Ana Cristina.

O caso foi revelado a partir de trocas de mensagens de Whatsapp entre Nogueira, a ex-mulher do presidente e pessoas próximas a ela. Nas conversas, Nogueira pede 200 mil reais em troca de seu silêncio. Em outro momento, ameaça matar Ana Cristina caso não cheguem a um acordo. O ex-assessor promete ainda ‘ferrar politicamente’ o senador Flávio Bolsonaro e seu aliado Fabrício Queiroz. Pouco depois, volta atrás da última ameaça e diz querer apenas ‘destruir’ a ex-patroa. Ele ainda admite que as suas gravações podem ‘destruir’ o presidente Bolsonaro.

Nogueira ganhou mais notoriedade após revelar novos detalhes do esquema de rachadinha montado pela família Bolsonaro. Em entrevista recente ao site Metrópoles, confirmou fazer parte do esquema e devolver 80% do salário a Ana Cristina, na época, ainda casada com Bolsonaro. Foi ele quem afirmou que o comando da rachadinha foi tirado da advogada após Bolsonaro descobrir uma traição.

Nas conversas divulgadas nesta sexta, o caseiro inicialmente pede 200 mil reais a Ana Cristina em troca do seu silêncio. A conversa ocorreu pouco depois de ele deixar o emprego na casa da advogada e cobrar o pagamento de direitos trabalhistas não realizados na sua saída. Ao questionar o valor, ele retoma uma mensagem em que insinua que, em caso de não ter um acordo, pode implicar Ana em ‘certos eventos’. Ela então deixa de responder. Nogueira passa a fazer ameaças a Ana em conversas com pessoas próximas a ela.

“Eu também já cansei. Fala logo que não vai fazer nada para eu resolver minha vida. Ficar me enrolando, ficar me levando em banho-ma­ria, isso não vai rolar não, porque minha situação tá apertada aqui e eu tenho que resolver isso, entendeu? Então dá logo um ponto-final que eu resolvo, porque eu também já tô cansado, eu não posso aguardar mais não. E já tô aqui correndo atrás, fechando as coisa, entendeu?”, questiona o ex-funcionário em áudio.

“Já tô aqui fechando com o Jornal Nacional porque não posso fazer nada escondido não. Até com Ministério Público eu já falei, mandei meu advogado falar que eu só presto queixa se for com a imprensa, entendeu? Mas primeiro eu tô entrando em contato com o senador pra poder pedir proteção à testemunha. Estou ficando sem dinheiro, não tô tendo como sobreviver mais, então preciso dar um rumo nisso aí, entendeu?”, acrescenta em seguida.

Mais adiante nas mensagens, ele diz que pode ‘ferrar com Flávio’, já que há uma nova busca por provas após a anulação de parte dos inquéritos contra o senador no Superior Tribunal de Justiça.

“Agora, minha filha, com esse negócio aí (que) o Flávio se livrou da coisa do Queiroz lá, eles vão cair de pau em cima disso aí, né? Pra poder ferrar com eles. Então, não quero nem saber. E esse momento pra mim será o ideal e coitada dela, né? Infelizmente ela vai estar correndo um grande risco de vida também”, destaca Nogueira.

Mais tarde, ele recua da intenção de implicar Flávio e Queiroz com suas revelações e volta a focar apenas em Ana Cristina. Em outras gravações, o ex-assessor do clã escala nas ameaças e revela que pensa em matar a ex-esposa do presidente.

“Isso agora é uma briga que só vai terminar com a morte dela, com a minha morte ou então o dia que eu ver ela totalmente destruída. Enquanto nada disso acontecer, não sossego. Eu vou catucar, eu vou cavucar o quanto puder, mas não se preocupa que não vai envolver mais ninguém. Não precisa se preocupar com isso, que isso aí já tá uma coisa já acertada. Agora tudo que tenho em tela dela eu vou expor. Ano que vem vai sair tudo. Eu vou expor todos os segredos que tenho dela sem prejudicar ninguém politicamente, mas os segredos dela vão ser todos expostos, vão ser todos reunidos, todos narrados por mim”, promete Nogueira.

“Se eu não conseguir abalar a estrutura dela, se isso não acontecer, como te falei, tenho que acabar com essa briga. Eu vou caçar ela no inferno, eu vou acabar com a vida dela. Nem que eu vá parar na cadeia, mas eu vou acabar com a vida dela. Que eu vou matar ela eu vou”, completa em outro trecho das conversas.

Por fim, Nogueira ainda diz que pode, caso não seja atendido por Ana Cristina, ‘armar contra’ Jair Renan Bolsonaro e admite que, contra sua vontade, suas revelações irão implicar o presidente e ‘acabar o que ele construiu’.

“Eu bem que poderia armar pra matar a mãe, o pai ou o filho daquela desgraçada”, destaca. “Meu ódio maior é ela ter acabado com a minha vida e por isso vai acabar com tudo que o presidente construiu. Ele não merecia isso”, completa em seguida. Pouco antes nas mensagens volta a falar em matar Ana Cristina.

Procurado pela revista, Nogueira confirmou a existência das provas sobre a rachadinha e admitiu que elas podem, de fato, implicar Bolsonaro e seus filhos. Quanto às ameaças e chantagem contra Ana Cristina, ele nega. Segundo diz, os 200 mil pedidos seriam seus direitos trabalhistas e diz, apesar dos prints reproduzidos pela revista, que nunca ameaçou a advogada.

Ana Cristina, por sua vez, disse que as chantagens são ‘inócuas’ e que ‘está com medo das ameaças’, ela desafiou ainda o ex-fun­cionário a provar o que diz. Para ela, o objetivo de Nogueira seria atingir Bolsonaro, de quem ele diz ser amigo de longa data. Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro, dá justificativa parecida:

“Tudo isso é parte de mais um plano para envolver o presidente e a família dele num escândalo que não existe. Está absolutamente claro que estão usando esse moço para extorquir e ameaçar com objetivos políticos”, alega o advogado.

Nogueira e Ana Cristina são alvos de um novo pedido de quebras de sigilos fiscal e bancário. O Tribunal de Justiça do Rio iniciou o julgamento da questão na última quarta-feira. As solicitações do Ministério Público também implicam Flávio e outras 34 pessoas.