Política
Câmara aprova a PEC da Anistia, que pode salvar partidos de multas de R$ 23 bilhões
Com o aval dos deputados, a matéria segue para o Senado


Depois de uma série de recuos, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira 11 uma proposta de emenda à Constituição para perdoar sanções impostas a partidos que não cumpriram a cota mínima de recursos a candidaturas de mulheres e negros nas eleições de 2022.
No primeiro turno, houve 344 votos a favor e 89 contra. No segundo, o placar foi de 338 a 83. Para ser promulgada, uma PEC precisa de pelo menos 308 votos favoráveis na Câmara e 49 no Senado, em dois turnos.
A proposta chegou a ser incluída na pauta da Casa na semana passada, mas não entrou em votação. Após o aval dos deputados, ela será submetida ao crivo do Senado e, se aprovada, seguirá para promulgação.
Originalmente apresentada pelo deputado baiano Paulo Magalhães (PSD), a matéria aglutinou o apoio de parlamentares de diversos partidos, do PT de Lula ao PL de Jair Bolsonaro.
Foi aprovada em maio pela CCJ da Câmara e seguiu para uma comissão especial. O colegiado não chegou a votar o texto, mas, devido ao término do prazo de 40 sessões, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), desengavetou a matéria e a levou ao plenário.
Para vencer as resistências, o deputado Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP), relator, precisou fazer algumas modificações. O novo parecer prevê um piso de 30% para envio de recursos a candidaturas de pessoas pretas ou pardas, com validade já nas eleições municipais deste ano. Na versão anterior, o índice era de 20%.
Outra mudança no texto é a dispensa da emissão de recibo eleitoral em caso de doações dos Fundos Eleitoral e Partidário feitas por transferências bancárias e Pix pelos partidos aos candidatos.
Ainda assim, a proposta dá margem para que as legendas transfiram o valor a apenas um candidato, sem obedecer à proporcionalidade das candidaturas de políticos negros. Também há brechas para que os diretórios nacionais escolham uma determinada região do Brasil para enviar as verbas de campanha.
Com a aprovação do texto, as siglas ficarão livres de pagar multas ou ter recursos dos Fundos Eleitoral e Partidário suspensos devido a prestações de contas realizadas antes da promulgação da matéria. Organizações de transparência eleitoral estimam que o valor devido pelos partidos chega a 23 bilhões de reais.
O relator ainda retirou de seu parecer um artigo que concedia apenas ao Congresso Nacional a atribuição de criar políticas afirmativas voltadas a minorias no cenário eleitoral.
Também há a previsão de criação do Programa de Recuperação Fiscal, voltado à renegociação de débitos dos partidos e de seus institutos, com isenção de juros e multas acumuladas. O pagamento dos débitos deverá ser feito em até 60 meses para as obrigações previdenciárias e em até 180 meses para as demais, a critério das legendas.
As siglas poderão usar recursos do Fundo Partidário para parcelar multas eleitorais, outras sanções e débitos de natureza não eleitoral. O parecer ainda estabelece que as legendas terão imunidade tributária – ou seja, não serão obrigadas a pagar impostos.
A Constituição Federal já reconhece a imunidade tributária para os partidos, mas, segundo o relator, a aplicação do benefício enfrenta a “imposição de sanções de natureza tributária, de forma que compromete a gestão financeira dos partidos”.
Por isso, no texto da PEC, o relator reforça a imunidade e cancela sanções aplicadas e processos em curso que desrespeitem a norma, “especialmente em casos em que a ação de execução supera o prazo de cinco anos”.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Lira interrompe comissões da Câmara para acelerar a regulamentação da reforma tributária
Por Wendal Carmo
Justiça arquiva pedido de investigação de Lira contra Felipe Neto
Por CartaCapital