Política

Braga Netto ‘culpa’ outro general por nomeação de Rivaldo Barbosa na chefia da Polícia Civil do Rio

Em nota, ex-interventor da Segurança Pública no Rio diz que o suposto autor do plano para matar Marielle foi levado ao cargo por indicação do general Richard Nunes

Negociatas. Braga Netto chefiou uma intervenção suspeita – Imagem: Marcelo Camargo/ABR
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O general Walter Braga Netto rompeu o silêncio, no final da noite deste domingo 24, sobre ter assinado a nomeação de Rivaldo Barbosa, suposto autor do plano para matar Marielle Franco, ao cargo de chefe da Polícia Civil. A nomeação foi oficializada no dia 13 de março de 2018, apenas um dia antes do assassinato da vereadora. Na época, Braga Netto era o interventor na Segurança Pública do estado.

Segundo Braga Netto, porém, não foi ele quem escolheu o delegado para o cargo. A nomeação, diz o militar em nota, foi de responsabilidade de Richard Nunes, um general do Exército que ocupava, naquele momento, o posto de Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro.

“A seleção e indicação para nomeações eram feitas, exclusivamente, pelo então Secretário de Segurança Pública, assim como ocorria nas outras secretarias subordinadas ao Gabinete de Intervenção Federal, como a Defesa Civil e Penitenciária”, argumenta Braga Netto sem citar nominalmente o colega de farda.

A assinatura na nomeação de Rivaldo Barbosa, sustenta o general, se deu por mera ‘questão burocrática’.

“O ato administrativo era assinado pelo Interventor Federal que era, efetivamente, o governador na área de segurança pública no RJ”.

Richard Nuns, o ‘acusado’ por Braga Netto, confirmou em depoimento à PF ter sido o responsável pela indicação do nome de Barbosa ao posto. Tem alegado, após a prisão do ex-chefe da polícia, ter sido ‘ludibriado’ pelo delegado.

A nota de Braga Netto vem a público após a GloboNews apontar que o general Braga Netto contrariou uma recomendação do setor da inteligência da polícia e bancou, pessoalmente, a nomeação de Rivaldo Barbosa para o comando da corporação. Antes da promoção, Barbosa ocupava a chefia do Departamento de Homicídios.

Não está claro as motivações do setor de inteligência para recomendar o impedimento do delegado ao cargo, nem por qual motivo Braga Netto teria, supostamente, ignorado o apontamento. Sabe-se, porém, que Barbosa teve um enriquecimento incompatível com o seu salário durante o período que comandou a divisão de investigação de homicídios da Polícia Civil. É possível que o fato tenha sido apontado e ignorado.

À PF, Nunes confirma ter tido contato com a recomendação, mas disse ter decidido seguir com a indicação por não ter visto ‘dados objetivos’ no relatório de inteligência.

“A Subsecretaria de inteligência contraindicou o nome de Rivaldo, mas o depoente decidiu pelo seu nome, tendo em vista que tal contraindicação não se pautava por dados objetivos. Teve contato com Rivaldo na época da força de pacificação”, diz o depoimento.

Braga Netto, como se vê, não menciona qualquer contato com a recomendação citada pelo canal de TV. A nota, assinada pelos seus advogados, se limita apenas a tentar afastar o general da indicação.

As circunstâncias da nomeação de Barbosa ao cargo de chefe da Polícia, importante frisar, são suspeitas. Como citado, ela se deu apenas um dia antes da morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes, que, segundo a Polícia Federal, foi ‘meticulosamente planejada’ pelo delegado em parceria com os mentores do crime, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão.

Barbosa, diz a investigação, prometeu ainda como chefe de Departamento de Homicídios a impunidade para a dupla de mandantes do crime. Na cadeira de comando da Polícia pôde, efetivamente, travar a investigação em todas as instâncias da corporação. Contou, para isso, o auxílio do delegado Geniton Lages e do comissário Marco Antônio de Barros Pinto.

A participação de Barbosa no crime foi apontada pela delação do executor do crime: o ex-policial Ronnie Lessa. As informações foram confirmadas pela PF em diferentes diligências, incluindo movimentações financeiras de Barbosa, sua esposa e empresas em seu nome. Outros depoimentos de envolvidos no assassinato também corroboraram com o relato de Lessa.

No domingo 24, Barbosa foi preso pela PF na operação Murder Inc., que também levou os irmãos Brazão para a cadeia. Os três foram apontados como autores intelectuais – os mandantes – do crime contra a vereadora. As motivações seriam divergências políticas, em especial, sobre a regularização de um terreno de interesse da milícia em Jacarepaguá.

A participação de Barbosa surpreendeu familiares das vítimas. O delegado, relatam os entes de Marielle e Anderson, prometia elucidar o caso como uma ‘questão de honra’. Dizia-se também amigo pessoal da vereadora.

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