Política

‘Bom dia, meu líder’: o que a PF descobriu sobre Carlos Jordy e fez Moraes autorizar operação

A Polícia Federal terá 20 dias para analisar o material apreendido e produzir um relatório parcial

O deputado federal bolsonarista Carlos Jordy. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
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Uma decisão de 21 páginas assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a 24ª fase da Operação Lesa-Pátria, deflagrada nesta quinta-feira 18 pela Polícia Federal. O principal alvo de busca e apreensão é o deputado federal bolsonarista Carlos Jordy (PL-RJ), líder da Oposição na Câmara.

Esta etapa da Lesa-Pátria visa identificar mentores intelectuais e responsáveis por planejar, financiar e incitar os atos golpistas de 8 de Janeiro de 2023.

No despacho, assinado em 4 de janeiro, Moraes transcreve uma representação na qual a PF detalha as razões pelas quais a operação deveria ocorrer. A corporação sustenta que o início da investigação esteve ligado aos bloqueios de rodovias após a vitória de Lula (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) em 2022, além dos acampamentos de caráter golpista em frente a quartéis do Exército.

A primeira menção a Jordy no documento da PF ressalta suas “fortes ligações” com Carlos Victor de Carvalho, vereador suplente na Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ) e servidor da Assembleia Legislativa do Rio. Ele seria uma liderança dos movimentos de extrema-direita no município, onde organizaria atos criminosos.

Informações da Polícia Judiciária indicam que Victor estava em Brasília no 8 de Janeiro.

Para a PF, a relação entre Victor e Jordy “transpassa o vínculo político, vindo denotar-se que o parlamentar além de orientar tinha o poder de ordenar as movimentações antidemocráticas, seja pelas redes sociais ou agitando a militância da região”.

“O que esta autoridade policial julga mais grave é que o vínculo entre o parlamentar e o apoiador não seja
apenas para fins políticos partidários, mas também com a intenção de ordenar a prática de crimes contra o Estado de Direito.”

O relatório expõe uma troca de mensagens entre Victor e Jordy em 1º de novembro de 2022, logo após o segundo turno da eleição presidencial.

“Bom dia, meu líder”, diz Carlos Victor de Carvalho a Jordy. “Qual direcionamento você pode me dar? Tem poder de parar tudo.”

Jordy, então, respondeu com a seguinte mensagem de texto: “Fala irmão, beleza? Está podendo falar aí?”. Carlos Victor afirmou que o deputado poderia telefonar.

Naquele dia, reforça a PF, já ocorriam bloqueios de rodovias em todo o País, inclusive em Campos. O fato de Carlos Victor se referir a Jordy como “meu líder” e pedir orientação a fim de “parar tudo” reforça as suspeitas dos investigadores de que o parlamentar bolsonarista participou dos atos ilegais.

A PF também lista como mais um foco de suspeita contra Jordy o fato de ele ter telefonado para Carlos Victor em 17 de janeiro de 2023, quando o servidor já era considerado foragido. “Como parlamentar, representante da população brasileira, ao tomar conhecimento do destino do foragido seu dever como agente público seria comunicar imediatamente a autoridade policial”, diz o relatório.

Instada a se manifestar, a Procuradoria-Geral da República concordou com a necessidade de busca e apreensão contra Carlos Jordy e outros representados.

Os recados de Moraes

Em relação a Carlos Jordy, escreveu o ministro Alexandre de Moraes, as diligências da PF revelaram uma “forte ligação” com Carlos Victor de Carvalho, “responsável não somente pela administração de vários grupos de WhatssApp com temática de extrema-direita, mas também pela organização dos inúmeros eventos antidemocráticos na cidade de Campos/RJ”.

Há, ainda, indícios de que o deputado “seria a pessoa que efetivamente orientava as ações em tese organizadas por Carlos Victor, não se tratando, portanto apenas de uma relação de afinidade entre ambos”.

Em um trecho de sua decisão, Moraes afirma que a democracia brasileira “não irá mais suportar a ignóbil política de
apaziguamento, cujo fracasso foi amplamente demonstrado na tentativa de acordo do então primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain com Adolf Hitler”.

Ele voltou a afirmar que todos serão responsabilizados por envolvimento em atentados ao Estado Democrático de Direito e às instituições, seja por ação ou omissão.

Além de autorizar busca e apreensão de equipamentos eletrônicos, armas e munições de Jordy e dos outros nove representados, Moraes afastou o sigilo de dados telefônicos e telemáticos dos dispositivos apreendidos, assim como de endereços de e-mail e contas em redes sociais.

A Polícia Federal terá 20 dias para analisar o material apreendido e produzir um relatório parcial.

O outro lado

Em vídeo gravado e publicado nas redes sociais, Carlos Jordy disse ter sido acordado por agentes da PF às 6h. Ele confirmou que teve arma e celular apreendidos.

“É inacreditável o que nós estamos vivendo. Esse mandado de busca e apreensão que foi determinado pelo ministro Alexandre de Moraes é a verdadeira constatação de que nós estamos vivendo uma ditadura”, disse o bolsonarista, que negou ter incitado ou apoiado os atos golpistas do 8 de Janeiro.

“É óbvio que tem viés totalitário, intimidatório e não tem respaldo legal.”

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