Política

Bolsonaro volta a dizer que não tem qualquer culpa pela inflação: ‘Sou malvadão?’

Como de praxe, o ex-capitão omitiu dados que apontam a deterioração do cenário brasileiro na comparação com outros países do G20

Paulo Guedes e Jair Bolsonaro. Foto: Mauro Pimentel/AFP
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O presidente Jair Bolsonaro voltou a se eximir de qualquer responsabilidade pelo avanço galopante da inflação, que dinamita o poder de compra dos brasileiros. Nesta segunda-feira 22, ele tentou mais uma vez culpar governadores que tomaram atitudes para frear a disseminação da Covid-19 no País.

Em contato com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada, ele tornou a ligar a situação brasileira a um movimento global. Mas, como mostrou CartaCapital, essa alegação ignora que a inflação do País é a 3ª mais alta entre as nações do G-20, de acordo com levantamento da Trading Economics, plataforma que analisa os dados históricos e as projeções de quase 200 países.

“A inflação que está aí é consequência do ‘fique em casa, a economia a gente vê depois'”, repetiu. “Estamos com um problema de inflação. Chegou a 10%. Os alimentos subiram mais que isso. Agora, é no mundo todo, pela política do ‘fique em casa’. Agora que chega a conta, eu sou o culpado? Sou malvadão?”

O monitoramento da Trading Economics leva em consideração a inflação acumulada nos últimos 12 meses, até outubro. A pior situação, com sobras, é a da Argentina, onde o índice chega a 52,1%, seguida pela da Turquia, com 19,89%.

Em 10 de novembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística informou que a inflação no Brasil voltou a acelerar em outubro e chegou a 10,67% no acumulado em 12 meses, maior índice desde janeiro de 2016. No ano, a taxa tem alta de 8,24% e registrou, no mês passado, elevação de preços em todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados.

Na conversa com militantes, Bolsonaro também debochou da possibilidade de o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos) se lançar na disputa ao Planalto em 2022.

“Não tenho acompanhado esse cara, não. Ficou comigo um ano e pouco. Eu quero ver ele em um carro de som falando com o povo. Só isso, mais nada. Não vou criticar ninguém, não”, disse.

O ex-capitão insistiu em lançar dúvidas sobre os institutos de pesquisa que indicam a liderança de Lula (PT) na disputa presidencial.

“No passado, era comum parte do eleitorado que não tinha grandes conhecimentos [dizer]: ‘Eu não vou votar em quem vai perder, vou votar em quem vai ganhar’. Então, veio essa cultura e se compra a maioria dos institutos de pesquisa”, declarou, sem apresentar quaisquer evidências.

Ao analisar o ano eleitoral, Bolsonaro ainda fez novas declarações em tom de ameaça contra a TV Globo, que passará por um processo de renovação da concessão. A licença atual vence em 5 de outubro de 2022.

“A Globo tem encontro comigo ano que vem, encontro com a verdade. Não vou perseguir ninguém. Tem que estar com as certidões negativas em dia, um montão de coisas aí”, afirmou. “Igual à parada matinal do Exército: tem que estar arrumadinho. Ela e qualquer outra empresa.”

Não é a primeira vez que Bolsonaro faz ameaças veladas à emissora. Ainda que ele decidisse não renovar a concessão, porém, dependeria de “aprovação de, no mínimo, dois quintos do Congresso Nacional, em votação nominal”, de acordo com a Constituição Federal.

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