Política
Bolsonaro usou o governo para vender joias e receber dinheiro vivo, indica PF
O objetivo de ‘driblar’ o sistema bancário seria, segundo a investigação, o de ocultar a origem, a localização e a propriedade dos valores


A Polícia Federal formulou duas hipóteses para explicar o esquema de desvio de presentes recebidos em viagens oficiais pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A corporação entende que a conduta está diretamente ligada ao uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens.
Ao desvio dos presentes, sustenta a PF, segue-se um movimento de ocultação da origem, da localização e da propriedade dos valores provenientes da negociação.
O relatório foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que autorizou uma operação de busca e apreensão cumprida nesta sexta-feira 11 contra:
- o general do Exército Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
- o segundo-tenente do Exército Osmar Crivelatti, braço direito de Mauro Cid;
- o advogado Frederick Wassef, que defendeu a família Bolsonaro em diversos processos.
A hipótese levantada pela PF estabelece que, entre 2019 e o fim de 2022, Bolsonaro, Mauro Cid, Marcelo Costa Câmara (então assessor), Crivelatti, Marcelo da Silva Vieira (então chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência) e outros se uniram com o objetivo de desviar, em proveito de Bolsonaro, presentes recebidos em caráter oficial e entregues por autoridades estrangeiras. A PF menciona pelo menos quatro conjuntos de alto valor.
Após serem apropriados pelo então presidente, os itens foram transportados, de forma oculta, para os Estados Unidos, em 30 de dezembro de 2022, em um avião presidencial. Depois, foram levados a lojas especializadas na Flórida, em Nova York e na Pensilvânia, para serem avaliados e vendidos.
Na sequência, indicam os investigadores, os mesmos personagens se uniram em 2023, nos Estados Unidos, para esconder a origem, a localização e a propriedade dos recursos financeiros decorrentes da venda dos bens desviados do acervo público brasileiro.
Esse dinheiro ficou sob responsabilidade do general Mauro Cid e, posteriormente, foi transferido em espécie para Jair Bolsonaro.
“Identificou-se, em acréscimo, que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-Presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, diz a decisão de Alexandre de Moraes, com base nas conclusões da PF.
No despacho, Moraes reforça que os recursos chegariam em dinheiro vivo ao ex-presidente, “evitando, de forma deliberada, não passar pelos mecanismos de controle e pelo sistema financeiro formal, possivelmente para evitar o rastreamento pelas autoridades competentes, conforme informado pela Polícia Federal”.
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