Justiça
Bolsonaro sancionou a lei que define o crime de atentado à soberania
No processo sobre a conspiração de 2022, o ex-capitão responde a outros dois crimes previstos na nova legislação


Ao determinar medidas cautelares contra Jair Bolsonaro (PL), o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes apontou indícios da prática de três crimes, um dos quais — o mais representativo — consta de uma lei sancionada pelo próprio ex-capitão.
Além de coação no curso do processo e obstrução de investigação, Moraes concluiu haver elementos de que o ex-presidente cometeu o crime de atentado à soberania.
Trata-se de uma prática tipificada pelo artigo 359-L do Código Penal: “Negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o fim de provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo”. A pena é de reclusão de três a oito anos. Essa dosimetria sobe para quatro a doze anos “se o agente participa de operação bélica com o fim de submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país”.
Bolsonaro sancionou a lei em 1º de setembro de 2021. Também assinaram o ato os então ministros Anderson Torres, Walter Braga Netto, Damares Alves e Augusto Heleno.
O Congresso Nacional concluiu em 30 de agosto daquele ano a aprovação do projeto que revogava a Lei de Segurança Nacional e incluía na legislação crimes contra o Estado Democrático de Direito.
No processo sobre a conspiração de 2022, Bolsonaro responde a outros dois crimes previstos na nova legislação: golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
A operação da Polícia Federal nesta sexta-feira 18 não faz parte da ação penal sobre a trama golpista, mas de uma investigação aberta em 11 de julho, dois dias depois de Donald Trump anunciar pesadas tarifas contra produtos brasileiros. Os investigadores suspeitam que Bolsonaro tenha financiado iniciativas para ferir a soberania nacional, atuando para que um governo estrangeiro — o dos Estados Unidos — impusesse sanções ao Brasil e às suas autoridades. A estratégia, segundo a PF, buscava intimidar a Justiça brasileira e interferir em processos contra o ex-presidente.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Do incentivo a golpistas à tornozeleira: o inferno de Bolsonaro em quase mil dias
Por Leonardo Miazzo
‘Suprema humilhação’: o que disse Jair Bolsonaro após ter instalado tornozeleira eletrônica
Por CartaCapital
Os destaques da decisão de Moraes que impôs tornozeleira e toque de recolher a Bolsonaro
Por Vinícius Nunes