Política
Bolsonaro participou de telefonema para tentar resgatar joias, diz ex-funcionário da Presidência à PF
Conteúdo do depoimento de Marcelo da Silva Vieira foi revelado pelo site G1 nesta quinta-feira


O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de um telefonema entre Mauro Cid, seu ajudante de ordens, e Marcelo da Silva Vieira, um ex-funcionário do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), sobre o ofício do governo que pleiteava o resgate das joias sauditas junto à Receita Federal.
A informação consta no depoimento do ex-funcionário à Polícia Federal revelado pelo blog de Andréia Sadi, no site G1, nesta quinta-feira 13. De acordo com o relato de Vieira à PF, ele se recusou a assinar o ofício produzido por Mauro Cid e, em seguida, recebeu uma ligação. Do outro lado da linha, diz, estava o ajudante de ordens, que anunciou estar no viva-voz ao lado do ex-presidente. Na conversa, ele pediu para que Vieira explicasse ao ex-capitão a situação e os motivos de ele se negar a assinar o ofício. A ligação ocorreu em dezembro de 2022, nos últimos dias de gestão.
“Mauro Cid colocou a ligação no modo viva-voz e pediu ao declarante para que explicasse ao Presidente da República essa situação e por que não poderia assinar. Vieira afirma, então, que deu explicações técnicas sobre a impossibilidade e que Bolsonaro disse ‘ok, obrigado’”, diz o trecho do depoimento revelado pelo site.
No depoimento, Vieira disse não se lembrar quem teria feito a ligação. Naquela ocasião, ele era chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH). Sua função era justamente revisar os itens que poderiam integrar o acervo do presidente ou deveriam ser encaminhados para a União. Ele deixou o cargo nos primeiros dias de governo Lula (PT) em uma leva de exonerações promovidas pela nova gestão.
Este seria o segundo telefonema com a participação de Bolsonaro nas tentativas de liberar as joias sauditas avaliadas em 16,5 milhões de reais. Na primeira ligação, Bolsonaro teria conversado diretamente com o Julio Cesar Vieira Gomes, chefe da Receita Federal na ocasião. Ele tentou, nos últimos dias, deixar a carreira de auditor-fiscal. Sua exoneração, porém, foi barrada justamente por ele estar sendo investigado no caso. É dele a assinatura no ofício que pede que funcionários da Receita liberem as joias para o ex-presidente.
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