Bolsonaro minimiza delação de Mauro Cid e promete abraço no ex-ajudante de ordens

Ex-presidente insiste na enfraquecida tese de que o tenente-coronel, seu principal auxiliar, era apenas um burocrata na sua equipe e que, portanto, não teria nenhuma informação contra ele para oferecer na delação

Foto: Alan Santos / PR

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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizou o ‘poder ofensivo’ da delação do seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, homologada no sábado 9 pelo Supremo Tribunal Federal. De acordo com o ex-capitão, seu principal auxiliar não teria nenhuma informação relevante para ofertar na investigação por ser um mero secretário na sua equipe e só estaria delatando por estar sendo ‘pressionado emocionalmente’ pelos ministros da Corte.

“O Cid é uma pessoa decente. É bom caráter. Ele não vai inventar nada, até porque o que ele falar, vai ter que comprovar”, avaliou Bolsonaro ao jornal Folha de S. Paulo. A entrevista foi feita na segunda-feira 12, pouco antes das cirurgias, mas publicada apenas no final do dia.

De acordo com o ex-capitão, Cid só optou por fazer a delação por estar ’emocionalmente esgarçado’ pela prisão. O militar ficou preso desde o dia 5 de maio e foi liberado, sob condições, apenas no último domingo, 10 de setembro.

“Mauro Cid sofreu um esgarçamento emocional por ficar preso quatro meses sem denúncia e sem ter como se defender”, diz um membro da defesa de Bolsonaro, ao interromper uma resposta do ex-capitão. “Eu vejo da mesma forma que o advogado fala aí”, completa então o ex-presidente.

Na conversa, em mais de uma oportunidade, Bolsonaro optou por descredibilizar o papel desempenhado por Mauro Cid na sua equipe. Ele insiste que o militar seria da sua confiança, mas cumpria apenas funções burocráticas, sem conhecimento ou influência em decisões políticas. As mensagens no celular do militar e as participações de Cid em episódios como a venda das joias, no entanto, divergem da alegação do ex-capitão.

“Ele era de confiança. Tratava das minhas contas bancárias. Cuidava de algumas coisas da primeira-dama também. Era um cara para desenrolar os meus problemas. Um supersecretário de confiança”, alega Bolsonaro. “[Cid] Fala inglês, é das forças especiais, é filho de um general da minha turma [Mauro Lourena Cid]. Mas ele não participava [de decisões políticas e de governo]“, insiste em seguida.


Ao fim, o ex-capitão ainda promete que dará um abraço em Cid assim que tiver a oportunidade.

“Tenho, tenho [afeto por Cid]. Sempre o tratei como um filho meu. Eu sinto tristeza com o que está acontecendo, né? Eu não queria que ele estivesse nessa situação. Ele é investigado desde 2021. Por fake news? Por causa das minhas lives, em que eu falava de Covid-19? Qual é a tipificação de fake news no Código Penal? Não tem. É como ser acusado de ter maltratado um marciano. Não existe isso aí”, distorce Bolsonaro.

“Nos meus dias de reflexão, eu me coloco no lugar do Cid. E eu tenho um pensamento sobre ele: eu pretendo –e brevemente, se Deus quiser– dar um abraço nele. É só isso que eu posso falar”, finaliza sobre o tema.

Ainda na conversa, Bolsonaro tentou se desligar dos episódios do 8 de Janeiro, mas reconhece que o episódio é um dos problemas da sua gestão. Apesar disso, minimiza os muitos escândalos enfrentados por ele ao longo dos últimos quatro anos. Ele ignora, por exemplo, os casos de corrupção no MEC e na Codevasf.

“Se você tirar da minha vida os presentes [joias e outros kits luxuosos] e o 8 de Janeiro, que foi depois do fim do meu mandato, não tem o que falar do meu governo, com todo o respeito”, prega o ex-capitão ao ignorar outros escândalos. “Posso ter tido briga com a imprensa e falado palavrão, porque a gente fica revoltado. Fora isso, não há nada para falar”, completa.

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