Política

Bolsonaro defende isentar ruralistas de punição para crimes no campo

Medida permite a não punição a autores de crime no campo e vai ao encontro das ações do governo para beneficiar agronegócio

Bolsonaro defende isentar ruralistas de punição para crimes no campo
Bolsonaro defende isentar ruralistas de punição para crimes no campo
Jair Bolsonaro Agrishow (Foto: Alan Santos/ PR)
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O presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta segunda-feira 29, que enviará à Câmara dos Deputados um projeto de lei para incluir o produtor rural na excludente de ilicitude – princípio jurídico que isenta de punição aquele que cometer um crime.

Bolsonaro afirmou ainda que essa é uma maneira de combater a violência no campo, e que vai pedir em outro projeto para que ruralistas – nomeados pelo presidente de “cidadãos de bem” – possam usar de arma de fogo em todo o perímetro da propriedade. É possível assistir as declarações a partir do minuto 9’09”:

As declarações foram feitas na abertura da Agrishow, evento que reúne o agronegócio para pautas do setor. Alegando não querer “atrapalhar quem produz”, o presidente expressou o desejo de tirar o Estado “do cangote” do agronegócio e exaltou a propriedade privada como “sagrada”.

O que é a excludente de ilicitude?

Prevista no artigo 23 do Código Penal brasileiro, a excludente permite a qualquer pessoa cometer um ato criminoso sem ser punido por ele. Juridicamente, é um direito que atua como exceção à regra – um juiz deve reconhecer o caso e absolver o culpado de pena. Na lei, é o caso de matar em legítima defesa, por exemplo.

Para Maíra Zapater, professora de direito da FGV e especialista em direito penal pela Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, a proposta de Bolsonaro toma duas vias: a da demagogia ou a da inconstitucionalidade. “Hoje, qualquer pessoa que tiver sua vida ameaçada pode recorrer à excludente de ilicitude. O produtor rural tem o mesmo direito de qualquer cidadão”, comenta.

Porém, caso o projeto de lei atue no sentido de equiparar o direito à vida e o direito à propriedade, ele vai encarar falhas processuais e constitucionais. “A legítima defesa só é reconhecida como um ataque à integridade física. O projeto pode aumentar a possibilidade de que pessoas tenham autorização para praticar crimes”, diz a especialista.

Não é a primeira vez que o governo Bolsonaro defende a flexibilização da excludente de ilicitude para grupos específicos. O projeto anticrime de Sérgio Moro estende a condição para policiais em confronto, o que foi criticado por especialistas por dar o “direito de matar” para agentes do Estado.

O suporte ao agronegócio é um fator de preocupação para Bolsonaro. Em uma das suas primeiras ações como presidente, ao assinar a flexibilização da posse de armas, beneficiou o produtor rural ao incluí-lo no grupo que tem “automaticamente” a necessidade de se armar, e aumentou de cinco para dez anos o prazo de validade da autorização para manter uma arma na propriedade.

No evento, Bolsonaro também defendeu a escolha de seus ministros como provas de sua boa relação com o setor. “O que seria da nossa querida Tereza Cristina se o nosso ministro do Meio Ambiente tivesse o perfil dos outros que ocuparam essa pasta do passado?”, afirmou. Quando retomou a ideia de fazer uma “limpa” no Ibama e no ICMBio, o presidente foi aplaudido pela plateia.

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