Política
Bolsonaro: ‘As Forças Armadas não dão recados, elas estão presentes e sabem como proceder’
Em cerimônia com militares, presidente voltou ainda a falar, sem apresentar provas, em eleições com ‘manto de suspeição’
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a insinuar que as Forças Armadas poderiam dar um novo golpe no Brasil caso fosse necessário. Segundo defendeu, a ação não seria previamente sinalizada pelos militares. As declarações foram dadas nesta terça-feira 19 em evento em Brasília organizado pelo governo para celebrar o Dia do Exército.
“As Forças Armadas não dão recados, elas estão presentes e sabem como proceder. Sabem o que é melhor para o seu povo e para o seu país. Elas têm participação ativa na garantia da Lei e da Ordem, da nossa soberania e do regime ao qual o povo quer viver”, disse Bolsonaro após comemorar, entre outras datas, o golpe de 1964.
“Quando se fala em Exército Brasileiro vem à nossa mente que em todos os momentos difíceis que a nossa nação atravessou as Forças Armadas sempre estiveram presentes”, disse o ex-capitão ao elencar ‘datas importantes’, como 1922, 1935 e 1964. Os anos marcam, entre outros itens, supostas tentativas de avanços de um regime comunista no Brasil.
Bolsonaro ainda citou o general Villas Boas, que ameaçou o Supremo Tribunal Federal caso a Corte decidisse por soltar Lula em 2018. Na ocasião, o militar disse que as Forças estariam ‘discutindo ações’ caso o tribunal acatasse o pedido de habeas corpus do ex-presidente. Edson Fachin decidiu por não conceder a liberdade ao petista.
Em 2016, quando assumiu a presidência, Michel Temer (MDB) chegou a procurar Villas Bôas, então comandante do Exército, antes de assumir.
“As tentativas de tomada de poder, de mudanças em nosso governo e alterações na nossa forma de viver, isso é inadmissível em todos os momentos da história”, destacou. “O papel das Forças Armadas e do Exército todos conhecem, não só nos momentos difíceis no tocante a esfera política, bem como em outros momentos, elas sempre estiveram presentes”, acrescentou, retornando ao tema antes de encerrar o discurso.
Ainda na sua participação no evento, Bolsonaro voltou a sinalizar que não pretende ‘aceitar’ uma eleição que ocorra ‘sob o manto da suspeição’, indicando, em seguida, que essa seria uma preocupação sua e do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira. Novamente, ele não apresenta provas que coloquem em xeque o processo eleitoral e as urnas eletrônicas.
“Quem dá o norte para nós são as urnas. […] Não podemos jamais ter uma eleição no Brasil que sobre ela paire o manto da suspeição. Esse compromisso é de todos nós, presidente dos poderes, comandantes de Força, aqui, obviamente, direcionado ao trabalho do senhor ministro da Defesa”, destacou.
Mais adiante, o ex-capitão disse então ‘ter certeza’ que o processo se dará ‘no ritmo normal’ devido à participação das Forças Armadas a convite de Luís Roberto Barroso, ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
“Tenho certeza que as eleições do corrente ano seguirão o seu ritmo normal. Até porque… quero cumprimentar o ministro Luís Barroso que, enquanto presidente do TSE, convidou as Forças Armadas…repito: convidou…a participar de todo o processo eleitoral”, destacou.
Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal; Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados; e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, acompanharam o discurso de Bolsonaro.
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