Política

Bancada da Bala em São Paulo quer usar mortes no Guarujá para tirar as câmeras de PMs

A discussão é encabeçada por parlamentares da extrema-direita, ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro,

Bancada da Bala em São Paulo quer usar mortes no Guarujá para tirar as câmeras de PMs
Bancada da Bala em São Paulo quer usar mortes no Guarujá para tirar as câmeras de PMs
Foto: Rovena Rosa/ABR
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A volta dos deputados estaduais de São Paulo ao trabalho após o recesso promete uma nova onda de pressão sobre o governador Tarcísio de Freitas pelo fim das câmeras nos uniformes de policiais militares.

A discussão é encabeçada por parlamentares da extrema-direita, ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, e ocorre em meio à repercussão sobre a ação da PM que matou pelo menos 14 pessoas no Guarujá, litoral paulista.

Entidades de defesa dos direitos humanos receberam relatos de tortura durante a Operação Escudo e investigam mortes que – ao menos até a tarde desta terça-feira 1º – não constam dos dados oficiais. Isso, porém, fica em segundo plano para a chamada Bancada da Bala.

“Está na hora de debatermos em São Paulo a retirada das câmeras no peito dos nossos policiais! A bandidagem não pode ter essa vantagem”, escreveu o deputado Gil Diniz (PL), o Carteiro Reaça, nas redes sociais.

A mensagem do bolsonarista é uma resposta a uma declaração do ministro da Justiça, Flávio Dino, sobre a importância de analisar as imagens captadas pelas câmeras corporais a fim de esclarecer o que ocorreu no Guarujá.

Major Mecca (PL-SP), presidente da Comissão de Segurança Pública e Assuntos Penitenciários da Alesp, também tem usado as redes para prestar solidariedade à polícia e exaltar a condução da operação.

“Esse tipo de ação policial, essa resposta é o que o cidadão de bem da cidade do Guarujá, o que o povo do estado de São Paulo espera da sua polícia. Polícia forte, com segurança jurídica, que enfrente o criminoso”, afirmou em um vídeo. “O resultado é o ladrão que escolhe: se vai preso ou para o cemitério. Governador Tarcício, secretário Derrite [da Segurança Pública], apoiem a sua polícia.”

Mecca ainda pediu que a Operação Escudo não dure trinta dias, como planejado inicialmente, mas anos.

A postura é chancelada pela conduta de Tarcísio, a viver o dilema entre se apresentar como um “bolsonarista moderado” e um aliado dos extremistas que ascenderam ao poder na esteira do ex-capitão. Na segunda 31, o governador disse, em coletiva de imprensa, que a atuação da polícia no litoral paulista teria sido “profissional” e sem “excesso”. Moradores do Guarujá, por outro lado, denunciam a prática de tortura.

A defesa do uso de câmeras por policiais militares encontra respaldo em dados concretos. A mortalidade de adolescentes em intervenções policiais sofreu queda de 80,1% em São Paulo, em 2022, após a instalação dos equipamentos, conforme um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Unicef divulgado em maio.

O uso das câmeras também levou à queda de mortes entre policiais, em serviço ou não. Em 2020,, 18 PMs foram vítimas de homicídio enquanto trabalhavam. Em 2021, foram quatro (-77%). No ano passado, houve seis mortes (-66%).

A chegada de Tarcísio ao Palácio dos Bandeirantes, porém, estabelece um novo desafio. As mortes decorrentes de intervenção policial em serviço no estado subiram 26% no primeiro semestre do governo: foram 155, diante das 123 registradas no mesmo período do ano passado. Os dados de julho – incluindo as mortes no Guarujá – não entram na conta.

Com o retorno dos deputados estaduais aos trabalhos, o governador terá de se equilibrar entre a cobrança de “bolsonaristas raiz” pelo fim das câmeras corporais (e pela chancela a toda e qualquer ação policial) e a construção de um personagem menos identificado com a extrema-direita, de olho na eleição presidencial de 2026.

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