Política

Autoridades públicas proferiram 94 discursos racistas durante o governo Bolsonaro, aponta levantamento

Os principais autores dos discursos foram o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo

O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, ao lado do presidente da República, Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Twitter
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Um levantamento divulgado nesta terça-feira 22 apontou 94 discursos racistas proferidos por autoridades públicas do Executivo, Legislativo e Judiciário, desde o início do mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL) até 31 de dezembro de 2021. O estudo Quilombolas contra Racistas foi realizado pelas organizações Terra de Direitos e Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas.

Os pesquisadores tiveram como base casos expostos pela imprensa e conteúdos nas redes sociais. Segundo esses dados, os anos de 2020 e 2021 tiveram mais discursos racistas do que 2019. Foram 16 registros contabilizados no primeiro ano, 42 no segundo e 36 no terceiro.

O maior número de ocorrências foi registrado entre cargos do governo federal, como ministros, secretários e presidentes de autarquias. As autoridades com mais registros são o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, com 19 ocorrências (20% do total), e Bolsonaro, com 17 ocorrências (18%).

O levantamento mapeou cinco tipos principais de discursos racistas:

  • A promoção da supremacia branca;
  • A negação e a minimização do racismo;
  • O reforço a estereótipos racistas que degradam a dignidade de indivíduos ou grupos;
  • A incitação à restrição de direitos, como a negação de políticas de ação afirmativa e a direitos territoriais e culturais;
  • A justificação ou a negação da escravidão e do genocídio.

A esmagadora maioria dos autores dos discursos racistas é composta por homens: 96%. Somente quatro mulheres tiveram casos expostos pela mídia, todos eles em 2020.

O levantamento elenca, em uma plataforma na internet, discursos racistas contra pessoas negras, indígenas e de origem asiática. Um dos discursos registrados ocorreu em 20 de fevereiro de 2020, quando Bolsonaro disse que o deputado federal Hélio Negão (União Brasil-RJ) “deu uma queimadinha” ao nascer.

Em outro evento, de 1º de março daquele ano, Bolsonaro afirmou que um apoiador negro estava com “oito arrobas”, em referência à unidade utilizada para pesar suínos e bovinos.

Em relação a Camargo, foi relembrado no estudo um discurso de 30 de abril de 2020, em que classificou o movimento negro como “escória maldita” e atacou religiões de matrizes africanas ao dizer que “macumbeiro não vai ter nenhum centavo”.

Também aparecem na lista o ex-secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, que fez performance de um discurso nazista em janeiro de 2020, além do ex-ministro Abraham Weintraub, dos deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Daniel Silveira (União Brasil-RJ), entre outros senadores, vereadores e juízes.

De todos os casos, somente em um deles houve responsabilização. Na ocasião, o vereador Jonathas de Azevedo (PROS-BA) havia chamado um colega parlamentar negro de “canalha”, “bandido”, “imoral”, “picareta” e “desavergonhado”.

Coordenadora executiva do Conaq, Sandra Maria Andrade diz no estudo que “o discurso de autoridades revelando seu racismo potencializou as pessoas a fazerem o mesmo, com muita violência” e que “com aval de autoridades, as pessoas que cometem racismo têm a confiança de que não serão punidos”.

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