Política

Após novos indícios de omissão, Bolsonaro tenta afastar sua responsabilidade pela crise yanomami

Segundo diz o ex-capitão, seu governo foi o que mais deu atenção aos indígenas; números e resultados do programas mostram o contrário

Foto: Evaristo Sa/AFP
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tornou a tentar se defender da responsabilidade pela crise sanitária e humanitária que vivem os indígenas yanomamis em Roraima. A tentativa de defesa foi feita pelas redes sociais na noite deste sábado 28 e ocorre após o surgimento de novos indícios de omissão do seu governo diante da situação dos povos da região. Na sua última declaração sobre o tema, ele chamou de ‘farsa da esquerda’ o caos registrado em vídeos e fotos na terra indígena.

Segundo escreveu o ex-capitão, seu governo teria sido o que forneceu ‘mais atenção e meios aos indígenas’. A publicação é acompanhada de uma imagem de uma criança indígena com sinais de desnutrição registrada, segundo a legenda, em 2008 no Maranhão.

Há ainda um link para o site do seu filho, Flávio Bolsonaro, onde está disponível um relatório produzido em 2008 pelo então deputado Vicentinho Alves sobre a subnutrição de crianças indígenas naquele período. A tentativa é de ligar o problema ao então governo da época, comandado por Lula.

Na prática, porém, os números e resultados de programas oficiais desmontam a tentativa de defesa de Bolsonaro no caso. O próprio Ministério Público Federal já apontou que a causa da atual crise foi a omissão do Estado na gestão do ex-capitão. Até aqui, foram revelados, entre outras questões, que Bolsonaro ignorou 21 pedidos de ajuda para os indígenas yanomamis; mentiu na ONU sobre o cenário encontrado em Roraima; permitiu e incentivou a entrada de garimpeiros na região; e promoveu um desmonte completo de entidades e órgãos de fiscalização.

Pesa ainda contra o ex-capitão o fato de que foi a sua gestão que não colocou em prática um plano do Ibama para resolver a questão do garimpo em terras yanomamis. A omissão permitiu que cerca de 20 mil garimpeiros se instalassem em Roraima, causando a atual crise entre os indígenas da região. A acusação consta em outra arguição do MPF contra o ex-capitão.

Foi também o governo Bolsonaro que permitiu a escalada do desmatamento nas terras indígenas, que saltou 309% durante a última gestão. Foi Bolsonaro também quem desmontou o programa de saúde focado em atender os povos originários do País. Não por acaso, mais de 21 mil casos de malária foram registrados durante os últimos 4 anos. Centenas de mortes por causas evitáveis também ocorreram por falta de ações do governo federal.

Por fim, durante toda a carreira política como deputado, Jair Bolsonaro fez projetos contra o interesse dos indígenas, em especial na tentativa de barrar a demarcação de terras e permitir que a grilagem e o garimpo fossem instalados na região. Os yanomamis eram seus principais alvos. Durante seu mandato como presidente não demarcou nenhuma nova terra para os indígenas, cumprindo uma promessa de campanha feita aos líderes do agronegócio. A ação também é apontada como uma das causas da atual crise instalada no território yanomami e deixa outras regiões e populações indígenas em alerta por todo o País.

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