Política

Após ‘auditoria’ e derrota no TSE, bolsonaristas batem cabeça e não conseguem unificar discurso

Adiamento da eleição – sem qualquer base legal – opôs diretamente figuras de destaque na campanha do ex-capitão

Após ‘auditoria’ e derrota no TSE, bolsonaristas batem cabeça e não conseguem unificar discurso
Após ‘auditoria’ e derrota no TSE, bolsonaristas batem cabeça e não conseguem unificar discurso
O ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Mauro Pimentel/AFP
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A frágil denúncia contra rádios levada ao Tribunal Superior Eleitoral pela campanha de Jair Bolsonaro (PL) foi encarada nas redes bolsonaristas como uma bala de prata, ou seja, um fato novo capaz de mudar os ventos da eleição, mais favoráveis – segundo as pesquisas – a Lula (PT). O episódio virou, no entanto, mais uma derrota judicial para o ex-capitão e motivo de divergência entre apoiadores.

Ao rejeitar o pedido de Bolsonaro para investigar suposta irregularidade em inserções no rádio, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, anotou que os autores não apresentaram “base documental crível, ausente, portanto, qualquer indício mínimo de prova”. Mais: acionou o procurador-geral eleitoral, Augusto Aras, a fim de apurar “possível cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito” e determinou o envio do caso ao Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Inquérito das Milícias Digitais.

Irritado, Bolsonaro convocou uma entrevista minutos depois, na quarta-feira 26, para prometer um recurso ao STF e levar suas demandas sobre as rádios “às últimas consequências dentro das quatro linhas da Constituição”.

Bolsonaristas de maior impacto – deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) à frente – e de menor relevância – a exemplo do senador Lasier Martins (Podemos -RS) – flertaram abertamente com o adiamento da eleição, medida desprovida de base legal.

“Tem um candidato que está sendo depreciado e um que está sendo favorecido. Isso está ferindo a democracia. Se fosse dado todo o direito de resposta a Jair Bolsonaro, é tanto tempo que seria necessário adiar essa eleição. Se a eleição for domingo já temos uma certeza: Jair Bolsonaro foi prejudicado e não teve direito a reparação”, afirmou Eduardo, durante entrevista ao site BNews.

Adiar a eleição significaria, na prática, um golpe do qual o Centrão, aliado de ocasião de Bolsonaro, não se beneficiaria. Não à toa, figuras como Valdemar Costa Neto, presidente do PL, manteve-se distante do episódio das rádios.

Outro cacique do Centrão, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), apressou-se a afirmar em entrevista ao Poder360, ainda na quarta 26, não existir “previsão legal para adiar uma eleição”.

Nesta sexta 28, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, se disse arrependido de levantar suspeitas sobre falhas nas inserções após o tema “escalar” e virar munição para bolsonaristas tentarem impedir a eleição. Partiu de Faria o ato inicial do caso, ao convocar uma entrevista coletiva na segunda 25 para apresentar a “denúncia”, sem mostrar evidências.

À Folha de S.Paulo, Faria argumentou que sua ideia era de que o TSE concedesse à campanha de Bolsonaro o mesmo número de inserções que supostamente não teriam sido divulgadas nas rádios. Ele também reconheceu não haver culpa da Corte no episódio.

A falha era do partido, que percebeu o problema tardiamente, e não do tribunal”, admitiu. “Como havia pouco tempo para o TSE fazer uma investigação mais aprofundada, eu iniciei um diálogo com o tribunal em torno do assunto.”

O ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, um dos responsáveis pela área na campanha de Bolsonaro, estava ao lado de Faria na entrevista de segunda. Nesta sexta, ele foi às redes sociais para comentar as declarações do ministro das Comunicações.

“Não há arrependimento em relação às denúncias apresentadas ou no que diz respeito ao pedido de recomposição das inserções. Apenas lamentamos que um tema técnico escalasse para uma discussão política na qual pessoas externas à campanha insinuaram o adiamento”, escreveu.

Wajngarten ainda declarou que “a campanha do Presidente Bolsonaro jamais cogitou pedir adiamento da eleição”, alegação difícil de sustentar diante de insinuações como a de Eduardo, filho de Jair Bolsonaro e um dos mais ativos atores da campanha.

Em cenário delicado na disputa eleitoral, Bolsonaro insistiu nesta sexta, em entrevista a um canal no YouTube, que o TSE “nada faz” diante de um suposto problema com “dezenas de milhares de inserções no rádio”. Um dia antes, Alexandre de Moraes já havia reforçado que “não é, nunca foi e continuará não sendo” responsabilidade da Corte a distribuição das inserções de candidatos a serem exibidas por emissoras de TV e rádio.

O ministro também teve de reforçar que não recai sobre o TSE a tarefa de “fiscalizar rádio por rádio no País” para saber se as transmissões ocorreram devidamente. “Todos os partidos de boa-fé sabem, todos os candidatos de boa-fé sabem.”

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