Política

Só 8% acreditam que os novos eleitos farão as “mudanças necessárias”

Dos 29.632 entrevistados na Pesquisa Radar – Mudança Política, 41% elegem a economia como o setor mais preocupante

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pesquisa21.jpg A imagem digitalizada nos telejornais noturnos é nítida e colorida. Sobre a tela plana, as linhas exibem o desempenho de cada candidato na sequência das pesquisas eleitorais. Raramente, porém, os institutos procuram identificar o pensamento do cidadão acerca da política e do rito de escolha de seus representantes.

Neste início de setembro, o Data Popular e o Instituto Ideia Inteligência assumiram essa missão, ao realizar a “Pesquisa Radar – Mudança Política”. Três perguntas diretas, feitas via telefônica para 29.632 pessoas, distribuídas por 129 cidades brasileiras. Não se trata de uma pesquisa eleitoral, mas sim de uma pesquisa sobre o sentimento dos milhões de brasileiros sobre a política e o Brasil.

Para nós não era importante saber em quem o cidadão irá votar. Em nossa sondagem, o próprio eleitor é o foco. Às vésperas da eleição, será que os brasileiros acreditam que os próximos eleitos farão as mudanças que o eleitor espera? Tabulados os dados, surgiu no computador uma “pizza” estatística surpreendente. Nela, uma mirrada fatia de 8% representava aqueles convictos de que os políticos eleitos em outubro próximo promoverão as mudanças necessárias ao país.

Pode-se deduzir, assim, que o pensamento do eleitor segue mergulhado em águas turvas de ceticismo. Essa descrença em resultados, no entanto, não se traduz em alienação do processo político. As pessoas têm opiniões. Questionadas sobre mudanças prioritárias, 41% elegem a economia, com ênfase no controle da inflação. Uma parcela de 34% aspira a melhorias nos serviços públicos. Para 25%, o mais importante é o combate à corrupção.

Entre os mais jovens (16 a 24 anos) é maior o número de preocupados com os serviços públicos. Buscam qualificação em setores como transportes, saúde e educação. Para eles, prevalece o aqui e o agora.

A turma dos mais velhos tem a maior parcela dos que elegem a economia como prioridade: 46%.

pesquisa11.jpg As respostas podem revelar um amadurecimento no que tange à visão sistêmica da política. Indagados sobre o que significa a mudança na política, apenas 26% declararam que trata-se exclusivamente de mudar o governante.

Há uma série de dados particularmente relevantes à compreensão do pensamento do eleitor. Emergem do cruzamento de duas categorias de perguntas formuladas pelos pesquisadores. Entre aqueles que priorizam o combate à corrupção, encontramos a maior fatia de pessoas que condicionam a mudança à troca de governantes: 46%. Neste grupo, verifica-se uma tendência mais acentuada de se personalizar a crítica ao universo político. Apenas 5% apontam como fundamental mudar exclusivamente a forma como se governa.

Paralelamente, entre aqueles que priorizam a economia, apenas 31% restringem a mudança à troca de governantes. Nesse coletivo, aliás, aparece a mais gorda fatia dos que acreditam ser necessário mudar exclusivamente a forma como se governa: 12%.

Nos últimos 20 anos, com a estabilização da economia e os programas sociais, o Brasil cresceu, incluiu e reduziu a desigualdade. Essa evolução na qualidade de vida e na ampliação de oportunidades, no entanto, não é vista por vastas porções da população como resultado do esforço governamental. Convém revisitar dados do Data Popular do início do ano: eles mostram que mais da metade dos brasileiros atribuem a melhora de vida ao esforço pessoal.

Nesse ambiente de desconexões, a eleição de outubro apontará a vitória de uns e a derrota de outros. É provável, entretanto, que permaneça extenso o abismo de comunicação entre votados e votantes.

Até agora as candidaturas não foram capazes de apontar caminhos seguros para o futuro do eleitor. Em tempos complexos, convém aos políticos dialogar mais com seus eleitores, aprender com suas indagações e contemplar honestamente suas demandas. É o caminho, inevitável, para o aprimoramento da democracia.

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