Política

Ao demitir comandante do Exército, Lula mostra ‘disposição’ em buscar culpados por atos golpistas

O historiador da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira da Silva, avalia os fatores que pesaram na decisão do petista de demitir Júlio Cesar de Arruda

Créditos: CAIO GUATELLI / AFP
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O ato do presidente Lula (PT) em demitir o antigo comandante do Exército, Júlio Cesar de Arruda, mostra uma determinação do governo em responsabilizar autoridades supostamente envolvidas com os atos golpistas em Brasília, no início de janeiro.

A análise é do historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Francisco Carlos Teixeira da Silva. “A demissão do comandante do Exército foi inevitável e marca a nova disposição do Governo Lula em buscar todos os culpados , seja por ação, seja inação“, avaliou, em entrevista à CartaCapital.

A situação entre os comandos dos Exército já era tensa desde que o presidente Lula (PT) manifestou desconfiança em relação aos militares responsáveis pela segurança do Palácio do Planalto no curso dos atos golpistas. Na sexta-feira 20, o presidente se reuniu com os comandantes das Forças Armadas e o ministro da Defesa, José Múcio, para tentar sanar o desgaste, o que não aconteceu. A consequência foi a demissão do comandante do Exército.

Além de Arruda, participaram da agenda o almirante Marcos Sampaio Olsen, da Marinha; o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno, da Aeronáutica; os ministros José Múcio (Defesa) e Rui Costa (Casa Civil), além do presidente da Fiesp, Josué Gomes.

Na análise do historiador alguns fatores pesam na esteira do desligamento do militar, que havia assumido interinamente o comando do Exército em 30 de dezembro, ainda no governo de Jair Bolsonaro (PL). Entre eles, uma espécie de proteção por parte do Exército em responsabilizar devidamente seus integrantes pelos atos ilegais na capital federal.

“Havia uma grande reação do Exército em deixar que seus comandados, principalmente oficiais que participaram dos acampamentos e das ações extremistas em Brasília, fossem processados. Havia já algumas medidas em curso para acusar alguns muito notórios de injúria, difamação, mas não de golpe do Estado, crime previsto no Código Penal, mas não no Código Penal militar dessa forma”, avalia. “O resultado é que isso gerava um impedimento de ações da Advocacia Geral da União e do ministro da Justiça”, completou.

A gota d’água, no entanto, foi o fato de Arruda se negar a cumprir uma determinação de Lula: de exonerar o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid de um posto sensível de comando em Goiânia. Cid, que foi nomeado por Bolsonaro como ajudante de ordens do Palácio do Planalto, é suspeito de operar uma espécie de caixa 2 com recursos em espécie que eram usados, inclusive, para pagar contas pessoais da primeira-dama Michelle Bolsonaro e de familiares dela.

A suposta associação foi possível depois que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, autorizou a quebra de seu sigilo bancário, no contexto de um inquérito que apura o vazamento de informações sigilosas relativos a transações financeiras realizadas no gabinete do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Há suspeitas inclusive que a ascensão de Cid na carreira militar, que aconteceu no ano passado, tenha sofrido interferência de Bolsonaro, o que o ex-capitão nega. O então major foi promovido a tenente-coronel e comandaria o 1° BAC (Batalhão de Ações de Comandos) em Goiânia (GO), a partir de fevereiro deste ano.

“Ele foi presenteado com o comando das forças especiais dos comandos do Brasil de uma forma totalmente indevida. Na verdade, um oficial que está sendo processado, demandado na justiça comum não pode ser promovido e receber comandos. Isso é uma coisa muito clara. Mas ele foi designado pelo Bolsonaro e o comandante do exército [Arruda] assumiu isso e continuou com esse prêmio”, destaca Teixeira da Silva.

Neste sábado 21, ao saber da decisão do presidente Lula pela sua demissão, Arruda reuniu o alto comando do Exército em uma reunião e atribuiu seu desligamento às críticas que o Exército tem recebido por uma suposta leniência com atos golpistas. A conduta também é condenada pelo historiador.

“Isso não é possível. Não é possível reunir o alto comando para discutir a situação política do país. Era preciso que fosse dito ao general Arruda que presidente da república só existe um, e ele foi eleito, não nomeado“.

O presidente Lula nomeou para o comando do Exército o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva que, recentemente, fez um discurso incisivo conclamando os militares a respeitarem o resultado das eleições.

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