Justiça

‘Não sei quem fez e não sei quem mandou fazer’, diz Anderson Torres sobre minuta golpista

Documento que previa prisão de ministros do STF e fechamento do TSE foi encontrado na casa do ex-ministro de Bolsonaro

‘Não sei quem fez e não sei quem mandou fazer’, diz Anderson Torres sobre minuta golpista
‘Não sei quem fez e não sei quem mandou fazer’, diz Anderson Torres sobre minuta golpista
Ex-ministro Anderson Torres, réu pela trama golpista, depõe ao STF. Foto: EVARISTO SA / AFP
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O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo de Jair Bolsonaro (PL), Anderson Torres, disse nesta terça-feira 10 que sempre passou ao então presidente que a sua pasta não havia encontrado nenhuma falha ou fragilidade nas urnas eletrônicas. Deu a declaração durante depoimento sobre a trama golpista no Supremo Tribunal Federal, quando também negou ter participado da produção da chamada ‘minuta golpista’.

Segundo Torres, os questionamentos feitos por ele sobre as urnas eletrônicas em reunião ministerial de 5 de julho de 2022 eram baseados em recomendações do setor de inteligência da Polícia Federal.

“Eu nunca questionei a lisura do processo eleitoral. Todas as minhas falas são em relação às sugestões de melhorias que os peritos trouxeram naqueles documentos”, afirmou.

Torres foi questionado pelo ministro Alexandre de Moraes sobre uma live em 29 de julho de 2021, em que Bolsonaro fez ataques ao sistema eleitoral ao lado do seu ministro. Sem provas, o então presidente levantou dúvidas quanto à segurança das urnas eletrônicas.

Conforme o ex-ministro, nunca houve nenhum indício de fraude nas urnas. “Tecnicamente falando, nós não temos nada que aponte fraude nas urnas. Nunca chegou essa notícia até mim. E quando era questionado pelo presidente ou por qualquer autoridade eu sempre passei isso. Que nós não tínhamos tecnicamente nada a dizer sobre as urnas eletrônicas”, disse.

A minuta golpista

Torres é o segundo réu da trama golpista a ser ouvido nesta terça no STF. Ele é apontado como um dos operadores da confecção de uma minuta golpista para manter Bolsonaro no poder e um dos facilitadores da insurreição do 8 de Janeiro.

Naquele dia, o ex-delegado da Polícia Federal estava de férias nos Estados Unidos e foi preso ao retornar ao Brasil, uma semana depois.

Além disso, Torres é acusado de implementar bloqueios da Polícia Rodoviária Federal para impedir eleitores de presidente Lula (PT) de chegarem às urnas no segundo turno de 2022.

Moraes questionou se Torres deu assessoramento jurídico ao ex-presidente Bolsonaro sobre a decretação de um estado de sítio ou estado de defesa no país. Torres afirmou que ele nunca prestou auxílio jurídico sobre esse tema, nem sobre qualquer outro. 

O ministro do STF, então, perguntou o porquê da minuta golpista ter sido encontrada na casa do ex-ministro da Justiça. Torres confirmou que o documento estava em sua posse, mas disse que era só mais um dos que ele sempre recebia de apoiadores do ex-presidente. O erro, conforme Torres, foi não ter destruído o texto.

“Eu nunca discuti esse assunto, eu não trouxe isso à tona. É uma fatalidade que era para ter sido destruída há muito tempo, mas o documento era muito mal escrito, cheio de erro português, até o nome do tribunal estava errado. Então não é da minha lavra, não sei quem fez, não sei quem mandou fazer, nunca discuti esse tipo de assunto”, afirmou Torres.

Outros depoimentos

A Corte ouviu, na véspera, o delator Mauro Cid, tenente-coronel que atuava como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e o deputado Alexandre Ramagem (PL), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin. 

Mais cedo nesta terça, o Tribunal interrogou Almir Garnier, ex-comandante da Marina. Além dele e de Torres, o STF também se prepara para ouvir outros quatro réus. Todos fazem parte do núcleo 1 da trama. São eles:

  • Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
  • Jair Bolsonaro, ex-presidente;
  • Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa; e
  • Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente.

Walter Braga Netto será o único a depor por videoconferência, uma vez que está preso preventivamente desde dezembro, no Rio de Janeiro.

Para colher todos os depoimentos, o STF agendou mais três sessões, além da audiência desta terça-feira:

  • Quarta-feira 11, às 8h;
  • Quinta-feira 12, às 9h; e
  • Sexta-feira 13, às 9h.

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