Política

Aliados elogiam Haddad em debate e opositores destacam críticas

Candidatos ao governo de São Paulo se enfrentaram pela 1º vez em debate na Band

O candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad. Foto: Reprodução
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Apoiadores elogiaram o desempenho de Fernando Haddad (PT) no primeiro debate eleitoral para governador de São Paulo, promovido pela Band na noite do domingo 7.

Ouvido por CartaCapital após o debate, o candidato a senador Márcio França (PSB) disse que o petista foi “preciso”, “demonstrou conhecimento” e que “na pressão, ele vai bem melhor”.

França disse ter percebido, porém, ser necessária uma “avaliação” sobre as colocações feitas contra a Haddad sobre a sua gestão na Prefeitura de São Paulo.

O tema foi levantado pelo adversário bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), logo no início do debate. Na ocasião, o ex-ministro disse que o Google indica Haddad como o pior prefeito da capital paulista.

Em resposta, o petista marcou um dos pontos mais elogiados nas redes sociais, ao recomendar que a plateia digitasse a palavra “genocida” no site de buscas, em uma acusação implícita ao presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a morte de mais de 600 mil pessoas na pandemia.

“Temos que fazer uma avaliação, porque fica aquela história sobre o tempo que passou na Prefeitura. E, no tempo da Prefeitura, ele [Haddad] foi vítima de um instante que tinha aquela história toda da confusão da Dilma, que sobrou um pouco para ele. Hoje, pesquisas apontam Haddad com 45 pontos na Grande São Paulo, o que demonstra que as pessoas reconhecem os méritos dele”, declarou França à reportagem.

Além disso, França considerou que o adversário bolsonarista foi “muito fraco para esse tipo de debate” e que o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB) agiu como “imitação do Doria, sem a astúcia”.

Para Marina Silva (Rede Sustentabilidade), que vai concorrer à Câmara dos Deputados, Haddad apresentou um “ótimo desempenho” e que suas propostas foram retratadas com “preparo”, “consistência” e “sensibilidade”.

Em relação a Freitas, a ex-ministra disse que ficou refletida a posição “antidemocrática” do bolsonarismo.

“O bolsonarismo é um conjunto de pessoas que estão liderando uma proposta que é antidemocracia, anti-direitos humanos, anti-meio ambiente e anti-participação da sociedade. Isso se reflete em todos os lugares onde eles estarão”, declarou ela a CartaCapital.

Marina Helou, também da Rede, considerou que Haddad priorizou “temas fundamentais” e citou “a fome, a necessidade de ter comida para ter um bom trabalho e a necessidade de ter um estado que pense nas pessoas”.

Haddad começou confrontos com Garcia

A primeira ofensiva de Haddad se deu contra Garcia, ao se referir de forma negativa duas vezes sobre uma declaração do governador tucano em relação à responsabilidade do seu cargo quanto à Cracolândia.

Em resposta a um questionamento da Band, Garcia disse “pode não ser de responsabilidade direta do governador”, mas que “todo problema de São Paulo é um problema do governador”. Haddad decidiu se apegar à citação sobre a “responsabilidade direta” para criticar o oponente.

“A Cracolândia é assunto do governador. Tudo o que acontece no estado é assunto do governador. Não é indiretamente”, afirmou Haddad. Na ocasião, prometeu retomar um programa criado por ele quando prefeito que, segundo ele, garantia “teto, tratamento e trabalho” às pessoas com dependência química.

Haddad também criticou Garcia ao responder a uma pergunta sobre o Poupatempo, projeto criado por Mário Covas (PSDB) em 1997 que presta serviços como a emissão de documentos. O petista elogiou o projeto tucano, mas disse que “não tem nada a ver” com Garcia, uma vez que ele havia rompido com Covas para se juntar a Celso Pitta e Paulo Maluf na época do lançamento dos Poupatempos.

Em resposta, o atual governador ironizou Haddad ao dizer que o petista “acorda tarde” e afirmou ter dobrado o número de Poupatempos no estado quando era secretário de governo. Garcia acusou Haddad e o ex-presidente Lula (PT) de “lamber as botas” de Maluf em 2012 para obter apoio ao PT na disputa para a Prefeitura de São Paulo. Maluf foi prefeito de São Paulo e hoje cumpre prisão domiciliar.

“Quem foi lamber as botas do Maluf para se candidatar a prefeito de Rio Preto [o tucano queria dizer São Paulo] foi você e o Lula que visitou o Maluf na casa dele para pedir apoio”, afirmou Garcia.

Em resposta, Haddad disse dispensar o apoio de Garcia em uma eleição.

“Uma coisa eu posso te dizer: eu não gostaria do seu apoio. Porque você não tem coerência. Você está negando aqui que apoiou o Maluf e o candidato dele a Prefeitura de São Paulo. Que foi ele sim o pior prefeito da história da cidade, saiu quase escorraçado da Prefeitura de São Paulo”, declarou.

Haddad reclamou duas vezes das reações do que chamou de “claque” do adversário tucano e pediu para recomeçar a sua resposta por interrupções. Na segunda vez, pediu para que Garcia “falasse com a sua claque para respeitar as regras do debate” e ressaltou ser um “debate democrático”.

A queixa se deu em um confronto direto entre ambos numa discussão sobre saúde. Haddad sustentou que “os paulistas não moram na propaganda do PSDB” e acusou o governo de falta de assistência às Santas Casas, disse que o projeto do “Corujão da Saúde” de Doria foi esquecido e apontou o atraso de 1,2 milhão de procedimentos.

“É coisa de marketing“, afirmou o petista. “Um milhão e duzentos mil procedimentos em fila. Você contratou 78 mil, faltando quatro meses para terminar o seu governo. E você acha isso razoável? Quanto que é 78 mil em um milhão e duzentos? Seis, sete por cento? Faltam 93% ainda para você contratar, e você não tem mais tempo.”

Petista também mirou em bolsonarista

Além de ter dito a Freitas que digitasse “genocida” no Google, Haddad fez outras críticas que citaram Bolsonaro. Uma delas foi quando prometeu elevar o salário mínimo no estado para 1.580 reais mensais. Na ocasião, o petista criticou Bolsonaro por não oferecer aumento do valor acima da inflação.

“A maior crueldade que foi cometida neste País, e é o que está atravancando a economia brasileira, é o reajuste do salário mínimo. Bolsonaro deu reajuste abaixo da inflação”, afirmou Haddad, em um diálogo com Elvis Cezar (PDT). “Quero dizer em alto e bom som: para a economia rodar, tem que ter comida na mesa do trabalhador. Dia 1º de janeiro, o salário mínimo paulista será de, no mínimo, 1.580 reais.”

Em uma resposta a uma jornalista, sob comentário de Freitas, Haddad também disse ser “absolutamente contra” a privatização da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo, a Sabesp. A ideia foi, porém, considerada como positiva por Freitas.

“A Sabesp não vai ganhar nada, e o consumidor vai ganhar menos ainda, porque vai ver a conta de água subir, e subir muito”, declarou Haddad sobre a empresa de capital aberto. “Ela tem toda a liberdade que qualquer empresa privada tem de universalizar o serviço. Então, não à privatização da Sabesp.”

Declarações de Haddad são criticadas

Algumas declarações do petista, porém, receberam críticas nas redes sociais. Uma delas se deu na mesma ocasião em que disse ser contra a privatização da Sabesp.

Nessa resposta, Haddad disse que a privatização e a estatização de empresas não é uma “questão dogmática” e disse defender a privatização da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, a Ceagesp.

Um dos críticos à declaração vem da própria esquerda. Gabriel Colombo (PCB), um dos concorrentes ao governo, mas que não participou do debate, disse no Twitter que a privatização da Ceagesp “vai agravar a situação de fome e desabastecimento”.

Outra declaração sobre privatização também foi criticada, mas sobretudo por opositores de direita. Ao mencionar promessas de barateamento de tarifas a partir da venda de empresas, Haddad citou o ramo da telefonia celular: “Veja quanto você está pagando hoje de telefonia celular, de telefonia fixa. Compare com o passado”.

Internautas lembraram que os aparelhos telefônicos eram bem mais caros antes da privatização, mas há um debate sobre se os créditos são da privatização do sistema ou se a popularização se deu pelo próprio advento tecnológico.

Ao contrário da opinião de aliados de Haddad, um interlocutor do entorno de Tarcísio de Freitas, ouvido pela reportagem, avaliou que o petista perdeu pontos com o debate por, segundo sua observação, ter agido com nervosismo em algumas respostas. Houve também uma avaliação positiva sobre a forma como Freitas utilizou a sua experiência como ministro da Infraestrutura para falar sobre a realização de obras no estado.

Uma avaliação geral é de que o debate se nacionalizou pouco. As menções a Lula e Bolsonaro, apesar de terem ocorrido, não protagonizaram as discussões. Garcia, inclusive, aproveitou que não tem representante do partido na disputa presidencial para dizer que não pretende comprometer sua campanha com “briga ideológica” e usou a questão para se diferenciar de Haddad e Freitas.

De acordo com a última pesquisa eleitoral Real Time Big Data, divulgada pela TV Record, em 3 de agosto, Haddad aparece com 33% no 1º turno, seguido de Freitas, com 20%, e Garcia, com 19%. Vinicius Poit (Novo) tem 2%, e Elvis Cezar, 1%.

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