Política

Adversários tucanos acreditam que Doria fica mais enfraquecido após deixar cargo de governador

Com Eduardo Leite desligado do governo gaúcho, PSDB terá na prática dois ‘pré-candidatos’ na praça

O ex-governador de São Paulo, João Doria. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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Adversários de João Doria dentro do PSDB acreditam que a situação do agora ex-governador de São Paulo como pré-candidato à Presidência da República ficará enfraquecida por causa da sua saída do cargo. Grupos de tucanos da bancada na Câmara Federal, que têm como líder o deputado Aécio Neves (MG), avaliam que sem o respaldo garantido pelo comando do maior estado do país, a tendência é que o paulista fique ainda mais isolado politicamente nas próximas semanas.

O plano traçado pelos que querem tirar da Doria da disputa pelo Palácio do Planalto prevê que até o fim deste mês ocorra um aumento da pressão para que ele desista em favor do também agora ex-governador gaúcho Eduardo Leite. Caso o paulista resista, o debate será levado para a convenção partidária em julho ou agosto. Neste encontro, o gaúcho conseguiria construir uma maioria entre delegados.

Até lá, Leite rodará o país em paralelo com a agenda de Doria. Na prática, o PSDB deve ter dois pré-candidatos na praça. O gaúcho pretende se reunir com lideranças partidárias e também com representantes de segmentos da sociedade. A agenda começa a ser montada numa reunião nesta semana em Brasília com apoiadores do PSDB. Mas hoje, ele já se encontrou com o ex-juiz Sergio Moro. Fora do comando do Palácio Piratini, Leite também montará “QG” em São Paulo com o objetivo de esvaziar o apoio interno a Doria. Um dos seus principais aliados para minar as pretensões de Doria, Aécio Neves defende a convergência dos partidos de centro para definir um representante de terceira via e sempre se colocou contra o nome de Doria como o candidato do PSDB.

Os planos de Leite incluem ainda costurar um acordo com senadora Simone Tebet (MS), pré-candidata do MDB, apesar de ela ter declarado que pretende dialogar com o paulista porque reconhece o resultado das prévias realizadas pelo PSDB. Há também a avaliação de que será possível trazer o União Brasil, o Cidadania, o Podemos e talvez o Novo para a aliança.

O entendimento dos tucanos é que o episódio da última quinta-feira, quando o ex-governador de São Paulo ameaçou desistir de disputar da Presidência, foi um verdadeiro “tiro no pé”. Apesar de ter conseguido que o presidente do partido, Bruno Araújo, divulgasse uma carta em que reafirma sua pré-candidatura, o movimento de Doria abalou, na visão de seus adversários, sua relação com os tucanos de São Paulo, que formavam o seu núcleo mais central de aliados.

A ameaça de permanecer no governo paulista colocava em risco a candidatura do vice, Rodrigo Garcia, ao governo do estado. Caso se concretizasse, poderia, por tabela, dificultar o caminho dos integrantes do PSDB paulista que disputarão uma vaga na Câmara dos Deputados.

Depois de manter o suspense por toda quinta-feira, no fim da tarde, Doria anunciou, ao lado de Garcia que renunciava ao cargo, como manda a legislação, para poder concorrer ao Planalto em outubro.

Após o evento oficial, em entrevista, reconheceu que ameaça de desistir da eleição presidencial era fruto de uma “necessidade de ter um apoio explícito” de seu partido. Depois da carta do presidente da legenda, disse que estava “tranquilo”.

O paulista também atacou fortemente Leite, afirmando que ele precisa “ter postura, ter equilíbrio, e não pode ter esse anseio de golpear junto de outros que têm esse sentimento”. Doria venceu as prévias realizadas pelo PSDB em novembro do ano passado com 53,99% dos votos contra 44,66% de Leite.

O entendimento do grupo de adversários internos é que Doria criou uma animosidade dentro de seu grupo mais íntimo para conseguir, no final das contas, uma carta que dizia apenas o óbvio. Um dia depois, Araújo admitiu a hipótese de a candidatura ser retirada se o nome de Doria não for avalizado por outros partidos, como União Brasil, MDB e Cidadania. As conversas com essas legendas, segundo ele, começarão na próxima semana.

A ameaça de Doria também tende a dificultar a sua investida para atrair outros partidos para o seu projeto presidencial. O movimento, considerado violento, reforça características do paulista que já eram apontadas por integrantes de outros partidos, como a falta de habilidade política.

As dificuldades na relação com outras legendas ficaram claras anteontem com o convite oficial do União Brasil para Rodrigo Garcia deixar o PSDB e disputar o governo de São Paulo pela legenda. Como resposta, o PSDB da Bahia apresentou um convite para que ACM Neto, pré-candidato ao governo da Bahia pelo União Brasil, entrasse no partido.

Doria também viu no mesmo dia um dos seus poucos aliados fora de São Paulo na bancada de deputados federais deixar o partido. Domingos Sávio anunciou nas redes sociais que irá se filiar ao PL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

Entre os apoiadores do ex-governador paulista, o discurso é que o tema está liquidado e que o movimento de quinta-feira foi bem-sucedido porque era necessário ter o apoio do comando do partido. O plano de Doria é iniciar uma série de viagens pelo país, a começar pela Bahia.

O tucano paulista também aposta nas inserções partidárias, que começam a ser exibidas no dia 20, para tentar melhor suas intenções de voto e reduzir a sua rejeição. A última pesquisa Datafolha mostrava Doria com 2% de intenção de votos e 30% de rejeição.

Aliado ex-governador paulista, o tesoureiro do PSDB, Cesar Gontijo, garante que Doria terá toda a estrutura necessária nos próximos meses.

— João Doria terá os recursos suficientes para a pré-campanha, para percorrer o país. Não sabemos ainda o valor exato, mas ele terá todas as condições financeiras.

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