Economia
Ação da extrema-direita impediu reunião com secretário de Trump, diz Haddad
Ligação com Scott Bessent estava marcada para quarta-feira. O ministro da Fazenda atribui o cancelamento a Eduardo Bolsonaro


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira 11 que a reunião marcada para a quarta-feira 13 com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, foi cancelada após articulação de forças da extrema-direita brasileira junto a assessores do presidente Donald Trump.
Em entrevista à GloboNews, Haddad disse que o comunicado oficial recebido por e-mail alegava “falta de agenda”, mas associou diretamente o cancelamento a declarações recentes do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, segundo ele, agiu para impedir o encontro. “Não há como não ligar o cancelamento com a entrevista [ao Financial Times] do Eduardo Bolsonaro. Depois que ele disse que trabalharia para evitar esse contato, a reunião foi desmarcada”, afirmou.
O ministro destacou que outros países afetados pelas tarifas, como Japão, Coreia do Sul e integrantes da União Europeia, conseguiram agendar reuniões, enquanto o Brasil enfrenta resistência. Para Haddad, a dificuldade não é apenas conjuntural ou ideológica, mas reflete uma mudança estrutural na política comercial dos EUA, que afeta até governos próximos de Washington, como o da Índia. “O que os Estados Unidos estão fazendo é estrutural e está mudando a relação com o mundo inteiro, não importa se é um governo mais amigo ou menos amigo.”
Segundo o ministro, o governo brasileiro trabalha no pacote de medidas para mitigar os impactos do tarifaço, que elevou para 50% as tarifas sobre diversos produtos nacionais. O plano inclui linhas emergenciais de crédito, diferimento de tributos, reforma do Fundo de Garantia para Exportações, novas regras para seguro de exportação e autorização para compras governamentais de produtos prejudicados, como frutas e pescados.
“Vamos oferecer instrumentos modernos para que toda empresa brasileira possa continuar exportando, mesmo que precise mudar o destino das vendas”, afirmou. Haddad reforçou que a medida provisória que será enviada ao Congresso Nacional combinará ações imediatas com reformas estruturais para abrir novos mercados e reduzir a dependência das vendas aos Estados Unidos.
Haddad também criticou a sugestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de que um telefonema do presidente Lula (PT) a Trump resolveria o impasse, classificando a ideia como “ingênua”. “Quando dois chefes de Estado se falam, existe uma preparação prévia para que a conversa resulte na melhor condição de negociação. Não funciona assim, de improviso”, declarou. O ministro acrescentou que a resistência encontrada não parte apenas de autoridades americanas, mas de “pseudo-brasileiros em Washington” que, segundo ele, trabalham contra os interesses do país.
O chefe da Fazenda ressaltou que, além das medidas emergenciais, o governo aproveitará o momento para avançar em mudanças de longo prazo na política de exportações, como a modernização dos instrumentos de crédito e seguro, para dar mais competitividade às empresas brasileiras no cenário internacional. “Estamos trabalhando para diversificar mercados e proteger a economia brasileira. Esse é um movimento que todos os países estão fazendo, e o Brasil não vai ficar para trás.”
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