Política

‘Abin está de olho nele’: As anotações da agenda de Augusto Heleno apreendida pela PF

O conteúdo da agenda do ex-ministro de Jair Bolsonaro, réu pela trama golpista, foi revelado pela ‘CNN Brasil’

‘Abin está de olho nele’: As anotações da agenda de Augusto Heleno apreendida pela PF
‘Abin está de olho nele’: As anotações da agenda de Augusto Heleno apreendida pela PF
O ex-ministro de Jair Bolsonaro, o general Augusto Heleno. Foto: Evaristo Sa/AFP
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Uma agenda do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo de Jair Bolsonaro (PL), localizada pela Polícia Federal, traz nomes de pessoas ligadas ao PT e indicações como a “Abin está de olho nele”, em referência à Agência Brasileira de Inteligência, que era subordinada a Heleno. O canal CNN Brasil revelou as anotações nesta quarta-feira 13.

Heleno é um dos investigados no chamado caso da ‘Abin Paralela’, um esquema que, segundo a PF, servia para usar a estrutura do governo para monitorar desafetos de Jair Bolsonaro no período em que o ex-capitão passou pela Presidência da República. A agenda à qual a CNN teve acesso tem mais de 100 páginas.

Em uma dessas páginas, revela a emissora, é possível ler anotações sobre o ex-deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) – sobre quem a Abin estaria “de olho”. Cândido é apontado como “o novo Vaccari” – João Vaccari foi tesoureiro do PT, condenado à prisão no contexto da operação Lava Jato.

A página que cita Vicente Cândido tem um recado no topo: “falar c/ o pres” – o que indica que Heleno teria feito anotações de assuntos a tratar com Jair Bolsonaro. Não há data registrada e, portanto, não há como saber o exato contexto em que foram escritas.

A mesma página traz o nome de outras duas pessoas ligadas ao PT: Alexandre Padilha (ex-deputado federal por São Paulo e hoje ministro da Saúde) e José Eduardo Cardozo (que também foi deputado e atuou como ministro da Justiça e da Advocacia-Geral da União). Os dois nomes aparecem sem informações adicionais.

Além disso, é possível ler as frases “Aras se aproximou da Abin”, em provável referência ao ex-procurador-geral da República, Augusto Aras; “bunker em S. Paulo” e “braço em Brasília”; “PF preparando uma sacanagem grande”; e “grupo de manifestantes chilenos podem vir atuar no Brasil”.

Desafeto de Jair Renan

Em outra página da agenda apreendida pela PF, as anotações fazem referência a um desafeto de Jair Renan Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro e hoje vereador em Balneário Camboriú (SC) pelo PL. O alvo da espionagem era, segundo a agenda, o empresário e personal trainer Allan Lucena, que rompeu relações com Jair Renan.

Em 2021, Lucena suspeitou estar sendo monitorado no prédio onde morava, em Brasília, e acionou a polícia. Foi identificado que o suspeito era um agente da PF que, na época, estava cedida à Abin – então subordinada a Heleno.

Na agenda estava escrito: “Após notícias da imprensa de que o filho do presidente estava utilizando um veículo cedido por um estranho, apenas apuramos que o referido carro na realidade estava na posse de outra pessoa. Na verdade, o filho do Presidente, cuja segurança é de responsabilidade do GSI, nunca utilizou aquele carro. Ele é filho do presidente, portanto é atribuição da Abin verificar o fato”.

As anotações possivelmente fazem referência a um caso de 2021, quando o filho de Bolsonaro teria sido presenteado com um carro elétrico avaliado, na época, em 90 mil reais, dado por uma empresa que teria negócios com o governo. Entretanto, o veículo teria sido repassado para Lucena.

Heleno não se pronunciou sobre o conteúdo das anotações apreendidas pela PF e reveladas pelo canal de TV.

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