Documentos analisados pelo jornal O Estado de S. Paulo e publicados neste domingo 31 mostram que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) enviou documentos ao Palácio do Planalto alertando sobre a necessidade do isolamento social para conter o aumento do coronavírus no Brasil.
Segundo a reportagem, há relatórios que datam de 27 de abril a 13 de maio, período no qual o Brasil já observava o aumento progressivo das infecções pelo coronavírus e das mortes causadas pela covid-19, doença gerada pelo vírus. Os alertas foram entregues ao gabinete de Bolsonaro, ao Ministério da Saúde e ao chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, que lidera o Centro de Coordenação de Operação do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 (CCOP).
“A participação do Brasil [no cenário da pandemia] torna-se mais significativa se for considerado que o país tem 10 a 15 vezes menos testes diagnósticos realizados por milhão de habitantes do que os demais e, portanto, é provável que os números brasileiros estejam subestimados e sejam de maior proporção do que os apresentados”, diz um trecho de um informe entregue aos responsáveis.
No dia 11 de maio, segundo a reportagem do Estadão, a Abin destacou que os estados que tomaram medidas restritivas em relação à abertura de comércio e circulação de pessoas, por exemplo, apresentaram uma queda no número de casos. “O Distrito Federal foi uma das primeiras UFs a decretar suspensão de aulas e de atividades não essenciais, o que provavelmente contribuiu para controle do crescimento de número de casos locais”, analisaram.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro antagonizou governadores e prefeitos que seguiram as regras mundiais de contenção do coronavírus, participou de atos antidemocráticos e causou aglomerações ao frequentar lanchonetes ao redor de Brasília.
A Abin também faz parte da crise política instaurada no País após a saída do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro de seu cargo. Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal com fins políticos, o que o presidente nega. Moro diz que a Abin entregava constantemente relatórios para Bolsonaro, que reclamava, na época, de não saber das medidas de inteligência tomadas nas esferas federais.
Para isso, o presidente afirmou que tinha um “serviço de informação particular” composto por policiais civis e membros do Exército que lhe forneciam dados interessantes a ele. “O que é o meu serviço de informação particular? É o sargento que tá no batalhão do Bope [Batalhão de Operações Especiais] do Rio de Janeiro, é o capitão que tá num grupo de artilharia lá em Fortaleza, é o policial civil que tá em Manaus, é o amigo dele, é um amigo meu que tá na reserva, esse é meu serviço de informação particular que funciona melhor do que esse que eu tenho oficialmente que não me traz informações! Essa é minha crítica!”, afirmou o presidente na época.
Na reunião ministerial de 22 de abril, o tópico da pandemia foi praticamente esquecido pelos ministros e demais convidados, que focaram em atacar instituições e discutir planos políticos.
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