Política

A participação de Eduardo Bolsonaro na rede internacional de desinformação pró-golpe no Brasil

Levantamento do Centro Latinoamericano de Investigação Jornalística mostra participação do deputado em reuniões com lideranças de extrema-direita na América e articulação com Steve Bannon, guru ideológico de Trump

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Foto: Alan Santos/PR
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Depois da derrota de Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nas eleições de outubro de 2022, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, participou de uma série de reuniões com lideranças da extrema-direita internacional, a fim de levar à frente o plano de contestação do resultado eleitoral no Brasil. No centro das reuniões, estava a tese de que houve fraude nas eleições, uma inverdade contestada pelos principais órgãos de controle do país.

Nesta segunda-feira 7, parte do plano – com detalhes sobre como aconteceram as reuniões, quais eram os principais personagens e como a extrema-direita internacional se movimentou para questionar o pleito brasileiro – foi revelado pela iniciativa de vinte veículos de imprensa latino-americanos e cinco organizações de investigação social. Entre os veículos estão a Agência Pública e o UOL. A iniciativa foi liderada pelo Centro Latinoamericano de Investigação Jornalística (CLIP).

Reuniões com lideranças em prol do golpe

Além das reuniões com lideranças latino-americanas, Eduardo Bolsonaro esteve presente, segundo levantamento da Agência Pública, em 82 reuniões com membros da extrema-direita dos Estados Unidos, no período. No total, apontam os registros, o filho do ex-presidente participou de 125 reuniões.

Também para entender o papel do filho do ex-presidente, é preciso focar em um personagem: Steve Bannon, figura conhecida na extrema-direita global como um dos articuladores políticos de Donald Trump. É dele a tese, levada à frente por Trump, que impõe, falsamente, a noção de que a imprensa é “inimiga do povo”. O seu método de combate à apuração jornalística passa, justamente, pela disseminação permanente de desinformação.

Foi Bannon, por exemplo, que, já no primeiro turno das eleições brasileiras, espalhou mentiras ao dizer que houve fraude na eleição brasileira. Para isso, ele utilizou o seu podcast War Room, ao lado de Matthew Tyrmand, membro do Projeto Veritas, uma organização conservadora que tem como mira o jornalismo profissional, e Darren Beattie, antigo redator de discursos da Casa Branca durante o governo Trump. Bannon dizia, segundo a publicação, que era “matematicamente impossível” que Bolsonaro tivesse ficado atrás de Lula na votação do primeiro turno. 

A nível global, Bannon foi uma das principais vozes a incentivar Jair Bolsonaro a não reconhecer o resultado das urnas. Um dos termos usados pelo articulador foi “Brazilian Spring”, em referência à Primavera Árabe, que foi a onda de protestos no Oriente Médio, há mais de uma década. O mote serviu de inspiração para os atos golpistas de 8 de Janeiro.

A publicação mostrou que, em 19 de novembro de 2022, Eduardo Bolsonaro esteve na Cidade do México para participar de um evento conservador, liderando um painel intitulado “A Luta no Brasil”. Nele, o filho do ex-presidente mostrou imagens das ações antidemocráticas no Brasil e exaltou Bannon, que também participou do evento. 

A relação entre Eduardo Bolsonaro e o norte-americano Steve Bannon não é exatamente nova: em 2019, Bannon nomeou Eduardo como representante sul-americano do The Movement, uma coalizão que visa “apoiar o nacionalismo populista e rejeitar a influência do globalismo”.

Outras figuras extremistas, como o ex-apresentador da Fox News Tucker Carlson e o organizador dos protestos Stop The Steal, Ali Alexander, também são apontados pela reportagem como auxiliares de Eduardo Bolsonaro na difusão de desinformação sobre o processo eleitoral no Brasil. O fundador do Gettr, o ex-assessor trumpista Jason Miller, é outro nome indicado como um dos integrantes da rede de fake news pró-golpe.

“Depois dos ataques de 8 de janeiro em Brasília, os mesmos aliados americanos apoiaram o ocorrido e espalharam a versão de que estava ocorrendo um ‘levante popular’ totalmente justificado pelas ‘fraudes'”, cita a matéria investigativa.

Por fim, lembra a reportagem, Eduardo Bolsonaro estava em estava em Washington na véspera do ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. O evento é tido como um espelho para os atos golpistas no Brasil. Naqueles dias em que esteve em solo norte-americano, ele encontrou com personagens-chave para os eventos terroristas, como o genro de Trump, Jared Kushner, sua esposa Ivanka Trump e o CEO da MyPillow, Mike Lindell, que sugeriu a Trump declarar “lei marcial” para permanecer no poder.

Mais recentemente, empresas em nome de Eduardo Bolsonaro nos EUA, em sociedade com um empresário que participou dos atos golpistas, também reforçam a participação do deputado nesta rede internacional de desinformação.

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