Política

A operação do PT para barrar a indicação de Elmar Nascimento ao ministério de Lula

Desde que teve o nome ventilado para ocupar uma pasta na Esplanada dos Ministérios, o deputado passa por um processo de fritura dentro da transição

Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
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Integrantes do PT colocaram em prática nos últimos dias uma operação para barrar a eventual indicação do deputado federal reeleito e líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), para um ministério do governo Lula (PT).

Dirigentes petistas comunicaram ao presidente eleito que já circula em grupos de WhatsApp da transição um áudio no qual Elmar, às vésperas do segundo turno, afirma que só “tem condenado ou ex-presidiário” no entorno de Lula. A gravação foi feita durante um comício em Campo Formoso, no interior da Bahia, no dia 28 de outubro.

“Se a gente olha os dois candidatos a presidente da República que estão postos, do lado de lá, que chama de companheiro, só tem condenado ou ex-presidiário. Será que é essa turma que a gente quer de volta para o Brasil?”, disse o parlamentar no áudio obtido por CartaCapital.

Desde que teve o nome ventilado para ocupar uma pasta na Esplanada dos Ministérios, o cacique do União passa por um processo de fritura na transição, em grande parte pela influência exercida sobre as emendas de relator, mecanismo que ficou conhecido como Orçamento Secreto.

A ferramenta, utilizada por Jair Bolsonaro (PL) para angariar apoio no Congresso, foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal no último dia 19. O voto decisivo foi de Ricardo Lewandowski, que acompanhou a presidente da Corte, Rosa Weber, assim como Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.

Em outra frente, líderes do PT baiano chegaram a preparar um dossiê contra o parlamentar. O documento, conforme apurou a reportagem com pessoas que tiveram acesso ao conteúdo, contém ainda registros que indicariam supostas irregularidades cometidas por ele na Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco.

Uma reportagem do jornal Folha de São Paulo revelou que a Codevasf estaria instalando cisternas às vésperas da eleição em residências marcadas com adesivos de propaganda eleitoral de Elmar. O atual presidente nacional da estatal, Marcelo Moreira, foi indicado pelo parlamentar baiano.

Lula chegou a se reunir com Elmar na última quinta-feira 22. No encontro, que também contou com a presença do senador Davi Alcolumbre (União-AP), o presidente eleito teria oferecido à legenda o comando do ministério da Integração Nacional. O desejo da sigla, no entanto, é a pasta de Cidades, que já foi oferecida ao MDB.

Se confirmada a indicação dele à pasta, a Codevasf continuaria sob a influência de Elmar. O martelo em relação à presença do União Brasil no governo, porém, ainda não foi batido porque integrantes da sigla ainda resistem à ideia de embarcar no novo governo.

A operação contra Elmar também ecoa entre lideranças do MDB, sigla que também briga por espaço na Esplanada. O ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), por exemplo, que voltou a se movimentar politicamente desde que passou a cumprir prisão domiciliar, tem subido o tom contra o parlamentar.

“Como imaginar o Elmar Ministro se ainda ontem ele estava chamando o Presidente [eleito Lula] de chefe de quadrilha, ex-presidiário e outras coisas impublicáveis? Fora as agressões contra o sempre elegante Senador Jaques Wagner. Surreal, o UB [União Brasil] sempre passa dos limites”, escreveu o cacique emedebista.

O ataque a Wagner, ao qual Geddel se refere, aconteceu também durante a campanha eleitoral. “Jaques Wagner é um democrata, ele gostava é de dinheiro na cueca ou em mala, como foi no mensalão. Pergunte a ele se ele quer a volta do PT para voltar o tempo do dinheiro por fora, nas malas, nas cuecas”, disse Elmar.

A avaliação feita por integrantes do PT é que a indicação do parlamentar baiano pode manchar a imagem do novo governo. “Entendo que o presidente precisa da maioria parlamentar, mas um vagabundo desses, que esculhamba todo mundo, não pode ser aproveitado.”, disse um integrante do PT à reportagem.

Outra ala da sigla, no entanto, acredita que a costura pode retribuir a articulação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na aprovação da PEC da Transição. Elmar é aliado de Lira e foi relator do texto que abre caminho para o pagamento do Auxílio Brasil de 600 reais em 2023. A indicação do parlamentar seria, portanto, uma espécie de ‘gratificação’ a Lira.

A expectativa é que Lula finalize a composição ministerial até a próxima quarta-feira 28. O presidente eleito desembarcou na capital federal nesta segunda-feira com o objetivo de solucionar os conflitos por espaço no novo governo. Na lista de reuniões que o petista deve ter na capital federal está o encontro com Davi Alcolumbre, de onde deve sair a definição sobre a pasta a ser chefiada pelo partido.

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