Justiça
A avaliação do Planalto e da base do governo sobre a votação apertada de Gonet no Senado
O PGR recebeu apenas 4 votos além do necessário para um novo mandato
A recondução de Paulo Gonet ao comando da Procuradoria-Geral da República, aprovada na quarta-feira 12 por 45 votos a 26, foi muito mais do que um resultado apertado no Senado. Para governistas, o placar mais baixo desde a redemocratização foi uma operação cuidadosamente orquestrada por senadores bolsonaristas com o objetivo de mandar um recado direto ao presidente Lula (PT): a Casa está disposta a reagir diante da provável indicação de Jorge Messias, atual advogado-geral da União, para o Supremo Tribunal Federal.
O movimento da oposição surpreendeu não pelo resultado final, mas pela virada de posição de parte expressiva da base dita conservadora. Em 2023, o procurador havia sido aprovado com folga, por 65 votos a 11, com amplo apoio da direita, que via nele um perfil cristão, discreto e “conservador”. Dois anos depois, o mesmo grupo articulou uma ofensiva silenciosa contra sua recondução, como retaliação pela atuação da PGR nos processos que levaram à condenação de Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado.
A reversão do apoio ilustra o desgaste da relação entre Gonet e os bolsonaristas, que se sentiram “traídos” pela ofensiva do Ministério Público contra o ex-presidente e seus aliados. O procurador-geral apresentou as denúncias que culminaram em mais de 700 condenações relacionadas aos atos golpistas de 8 de Janeiro de 2023. Para a ala mais radical da oposição, a votação era uma oportunidade de puni-lo e, de quebra, testar o ambiente para futuras indicações do governo Lula.
Desde 1988, nenhum procurador-geral havia sido reconduzido com uma votação tão baixa. Gonet superou, negativamente, o recorde de Aristides Junqueira, aprovado em 1989 por 47 votos a 3.
O placar de 45 a 26 foi interpretado no Planalto como um recado. Mostra que o Senado não dará carta-branca a Lula em futuras nomeações, especialmente no caso de Jorge Messias, cotado para a vaga aberta pela aposentadoria antecipada de Luís Roberto Barroso no STF.
Ainda assim, o governo não vê motivo para alarme. Interlocutores de Lula avaliam que o episódio tem natureza distinta e que Messias não enfrentará a mesma resistência. “São histórias completamente diferentes”, afirmou um aliado do presidente. A avaliação é que os senadores podem até mandar recados, mas ninguém quer comprar briga com um futuro ministro do Supremo.
A análise no Planalto é de que, apesar da tensão política, Jorge Messias reúne condições sólidas para ser aprovado, mesmo que por margem estreita. Diferentemente de Gonet, ele não está associado diretamente a investigações que atingem a base bolsonarista. Além disso, congressistas do centro, que hoje atuam como fiadores do equilíbrio entre governo e oposição, dificilmente se engajariam em uma batalha pública contra um indicado do presidente.
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