Zanin e as circunstâncias

A indicação do advogado ao STF vem prenhe da contradição dos nossos tempos

ADVOGADO CRISTIANO ZANIN MARTINS. FOTO: SYLVIO SIRANGELO/AFP

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A confirmação de Cristiano ­Zanin para o STF reacende o debate acerca das relações entre política e Justiça. No Brasil, assim como em outros países latino-americanos, o processo de composição das cortes constitucionais é político, com marcada participação do presidente, responsável pela indicação daquele que virá a ser sabatinado pelo Legislativo. A relevância que a coalizão alcança, dada a peculiaridade do presidencialismo tupiniquim, é, porém, só comparável com a importância do próprio processo, considerando o enorme impacto político da atuação do Supremo por estas bandas. Isso releva o quadro institucional complexo do processo de indicação de um ministro para o STF. O governo que se vire entre as suas preferências, as exigências da coalizão e a pressão da opinião pública, em um contexto de protagonismo e hiperexposição do tribunal e de seus magistrados.

O nome de Zanin emergiu, portanto, de um cenário de disputas sobrepostas em múltiplas arenas, que afeta as relações de poder intragoverno, entre os três poderes da República e, ainda, a relação do governo com a opinião pública. Intramuros (de aliados e sua base), Lula enfrentou a pressão pela adoção de um critério de representatividade e diversidade (de gênero e raça). Por outro lado, a difícil relação com o Congresso tornou inafastável a consideração do critério de governabilidade. Lula precisa de aliados no Supremo, cujo desempenho pode selar o destino do governo (quiçá da democracia), a considerar-se a agenda à disposição da Corte, sem que seja necessário sequer projetar o que ainda virá a bater à porta. Não qualquer aliado, mas alguém que disponha do reconhecimento dos demais ministros, da expe­riência do trânsito no Supremo, como um ativo, para que se concretizem, de fato, as possibilidades de interações colegiadas positivas sob a perspectiva do governo.

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2 comentários

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 12 de junho de 2023 02h22
Temos que entender que de todos os presidentes da República desde a redemocratização e da promulgação da CF-88, Lula é o que mais aplica ou tenta aplicar os ditames da Constituição de 1988. O STF é a corte que tem como função básica a guarda da carta magna. Na escolha de Cristiano Zanin, Lula optou pelo homem certo que que tem a reputação ilibada, notório saber jurídico e, certamente, terá a isenção que se espera de um juiz, principalmente de um juiz constitucional. A sabatina que será feita no senado será pró forma e todos os demais ministros e a maioria do senado tem como certo a confirmação do nome de Zanin como substituto de Ricardo Lewandowski. Na próxima vaga da ministra Rosa Weber, Lula teria que reparar um erro que cometeu lá atrás e indicar alguns nomes de juristas que ficaram a ver navios, quando outros, desconhecidos, tiveram a oportunidade por excesso de zelo e satisfação do presidente a setores que sempre defenderam o neoliberalismo e criticaram a própria CF por acharem que ela é inclusiva demais, por isso a não aplicação da CF ainda é um fantasma que não permite a redução das desigualdades sociais e a soberania do país é sempre aviltada pelo próprio judiciário brasileiro.
ricardo fernandes de oliveira 9 de junho de 2023 09h47
O que está errado e presidente indicar ministro do stf. Se Bolsonaro pudesse indicar 5, ele teria o controle de todos os poderes e estaríamos numa ditadura. O art 37 da cf , princípio da impessoalidade, deveria ser observado sempre

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