Justiça

Voinha morreu, mas sua ancestralidade vive!

Voinha nos fortaleceu e nos permitiu alçar nossos voos solos e coletivos e, acima de tudo, nos fez pertencentes e pertencidas.

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“Do que ouvi, colhi histórias. Nada perguntei. Uma intervenção fora de hora pode ameaçar a naturalidade da voz de quem conta. Acato as histórias que me contam. Do meu ouvir deixo só a gratidão e evito a instalação de qualquer suspeita. Assim caminho entre vozes. Muitas vezes ouço falas de quem não vejo nem o corpo (…)”

– Histórias de leves enganos e parecenças – Conceição Evaristo

Assim foi com Maria José Cavalcanti Nóbrega, conhecida como Voinha. Conhecemos Voinha pela escrita pulsante de Renata Nóbrega, nossa querida NoNo, juíza do trabalho em Pernambuco. Naquele primeiro texto individual dela na nossa coluna, aquele texto visceral, que gritava a nossa identidade ameríndia, no texto “Quem somos ameríndias?, publicado na coluna quando ainda estava sediava no site Justificando.

Voinha estava lá logo na primeira linha, nos mostrando que a sororidade em pauta era bem mais do que uma coluna: era um resgate de toda a nossa ancestralidade. Um encontro não só daquelas juízas que, com muita dificuldade, expunham pela primeira vez suas opiniões sobre temas jurídicos e “não jurídicos”. Era um encontro também de todas as mulheres que vieram antes de nós que foram tão determinantes na nossa trajetória.

Voinha, mesmo sem saber, contribuiu para o crescimento de cada uma de nós. Ao construir as melhores partes da Renata, construiu, também, as nossas. E constrói as partes de Bia, filha da Renata e bisneta da Voinha, que pelo que sabemos era como se fosse sua Mainha.

 

Voinha, mesmo sem saber, fez parte da sororidade que nos reuniu, nos fortaleceu e nos permitiu alçar nossos voos solos e coletivos e, acima de tudo, nos fez pertencentes e pertencidas. À distância, acompanhamos quando Voinha ficou doente em 2017 e ficamos na torcida por sua recuperação, pois fazíamos parte de uma família expandida por afetos e Voinha é uma de nossas matriarcas. O tempo passa, as vidas se movem, o mundo é outro e, desta vez, não deu tempo de reunirmos nossas melhores vibrações pela saúde de Voinha.

No último sábado, Voinha morreu, vítima de Covid-19.

Antes dela, outras vidas se foram pela mesma doença. Tristes, cada uma em uma parte do país, nos perguntamos: como abraçar aquela que ficou e que – mesmo à distância – sempre foi presença? Quantos lutos sem abraços conseguiremos aguentar? Será que esse texto será suficiente?

Desde que a pandemia da Covid-19 se espalhou pelo mundo, e os estudos dos especialistas se aprofundaram, as primeiras conclusões atestaram que pacientes com doenças mais debilitantes têm menos capacidade de frear o vírus, pois, ao cair na  corrente sanguínea, atinge os pulmões e provoca pneumonia; entre eles, as pessoas com mais de 60 anos, que comumente chamamos de idosos.

Foi assim que, ao chegar em países da Europa, conhecidos pela grande quantidade de idosos em sua população, alastrou-se rapidamente entre esta faixa etária. Na Itália, por exemplo, as autoridades, tentando conter a contaminação, resolveram isolar idosos em Casas especializadas, como a Casa de Idosos Pio Albergo Trivulzio, em Milão, um dos centros para pessoas idosas mais importantes da Europa, mas a medida mostrou-se insatisfatória, contabilizando a morte de 190 idosos.

Levantamentos feitos naquele país contabilizam que entre 10 de fevereiro e 14 de abril, morreram quase 7.000 idosos em asilos de todo o país, sendo 3.045 na Lombardia. No total, 40% dos óbitos são de casos confirmados de Covid-19 ou suspeitos com sintomas. Os números, no entanto, tendem a ser maiores.

Isso se deu, em grande parte, em face das dificuldades dos gestores das casas em monitorar e conter o vírus, especialmente pela falta de fornecimento de equipamentos de proteção pessoal e falta de realização de testes nos idosos e trabalhadores, para isolá-los no momento adequado. Feito o estrago e após milhares de vidas perdidas, abriu-se investigação para apurar a responsabilidade dos envolvidos.

No Brasil, não tem sido diferente, agravado ao fato de que aqui temos ainda grandes desigualdades sociais e incompetências governamentais, em todos os níveis,  na gestão da doença, a exemplo da pouca fiscalização quanto ao isolamento social e na realização de testes e isolamento e monitoramento dos infectados, tornando mais suscetíveis de contaminação os hipervulneráveis, como os idosos, onde se enquadra a nossa homenageada da coluna: a Voinha!

E por que isso acontece? Porque a maioria dos países assolados vertiginosamente pela doença são governados por homens brancos – ao reverso, os locais com mais sucesso no controle da doença são governados por mulheres, como é o caso da Alemanha e da Nova Zelândia. Esses dados empíricos da eficiência feminina à frente de governos no combate à pandemia global do Covid-19 evidenciam que governar é muito mais que contabilizar números. É cuidar.

E, para o que é que servem os Estados Democráticos e Sociais senão para es(aus)cu(l)tar as necessidades dos seus cidadãos e cuidar dessas necessidades?  Quando o princípio feminino do cuidado encontra-se com a instituição criada para cuidar, esses resultados eficientes são inexoráveis. Já esses homens no poder, forjados na cultura patriarcal em que sentimentos e cuidado são coisas de menina, não estão preparados a entender a dimensão da importância de se manter uma Voinha viva e saudável entre os seus e de entenderem que a nossa humanidade está contida na nossa ancestralidade; apenas fragmentam os problemas, racionalizam, fazem contas chegando a afirmar que pela idade já viveram muito e podem morrer.

E Voinha tinha plano de saúde e conseguiu leito de hospital, mas mesmo assim não resistiu. E os que nem essa oportunidade tiveram?

Em uma subjetividade capitalista patriarcal, os velhos não têm valor. Não produzem, não geram lucro, são descartáveis. As velhas menos ainda: nem mesmo para procriar servem mais. Antecipar a sua morte faz bem para a economia que, afinal, não pode parar. O sistema patriarcal desrespeita os ciclos de vida-morte-vida porque há muito se desconectou da natureza. Formou-se um círculo vicioso. O desequilíbrio ecológico gerado pelo capitalismo patriarcal de dominação e devastação da natureza gera doenças que, por sua vez, são mal cuidadas e até mesmo menosprezadas pelo mesmo sistema capitalista patriarcal cuja maior preocupação é continuar dominando a natureza – e, na mesma lógica, os velhos, os indígenas, os negros, as mulheres…

Nessa lógica, voinha se foi juntamente com outras anciãs, guardiãs das florestas. E, quando as guardiãs das nossas memórias, dos nossos afetos e das nossas florestas se vão, nos tornamos ainda mais vulneráveis e o capitalismo patriarcal espalha ainda mais seus tentáculos, minando nossas esperanças de sobrevivência no planeta. Ao ver toda a vida que pulsa como mercadoria e as mulheres como meras fábricas de reprodução da força de trabalho, estamos caminhando rumo à nossa extinção enquanto espécie.

Ignoramos o fato que somos interconectados e ecodependentes.

O vírus nos mostra didaticamente que o ser humano, o grande e invencível predador, é frágil, e está tão vulnerável quanto todos os outros seres que ele sempre menosprezou e pensou que podia dominar. E de tanto fragmentar e analisar, não olhou e não sentiu o todo; esse todo em que um vírus invisível lhe pode provocar a morte em massa, ameaçando a própria existência de sua espécie.

Mulheres camponesas viajam mais de 40 horas de ônibus para a Marcha das Margaridas, em Brasília. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

De sorte que se for tarde para devolver aos seres humanos o equilíbrio entre os princípios masculino e feminino, se for tarde para devolver aos homens brancos no poder o sentido da importância do cuidar e do amar na gestão da vida, que eles possam por medo da extinção, com medo de sua própria morte,  entregar essa gestão às mulheres, abrindo mão de monopolizar o poder de decisão dos rumos da nossa existência.  Se não fizerem por bem, cabe às mulheres lutar para tomar esse lugar. Por nossas Voinhas. Por nossas anciãs e nossos anciãos e pelas gerações futuras.

Enquanto isso não acontece, nossas vidas são vidas descartáveis. Fenômeno social denominado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe de Necropolítica, onde quem detém o poder decide quem vai viver e quem vai deixar morrer. Ao perceber que “vastas populações são submetidas a condições de vida que lhes conferem o estatuto de ‘mortos-vivos'”. Populações que conhecemos muito bem: pobres, mulheres, pretos, crianças, idosos, o que se acentua ainda mais numa crise político-social e sanitária na qual atravessamos.

Mas para nós, que acreditamos que toda vida faz sentido e honramos todos os homens e mulheres que nos antecederam, especialmente as mulheres que, com seus ensinamentos orais, construíram a força e a resistência que há em nós, jamais seremos silentes diante das perdas irreparáveis para cada família que tem a exata dimensão da importância do seu ente querido em suas vidas. E, por isso, seguiremos tecendo a colcha de retalhos que um dia nos uniu, através da escrita, inspirando-nos na continuidade do texto de Conceição Evaristo lá de cima, dizendo no plural, o que ela falou em primeira pessoa: “Digo isto apenas: escrevo o que a vida me fala, o que capto das minhas vivências. Escrevivências.”  E assim, inauguramos uma nova forma de luto e  erguemos a ti nosso texto memorial.

Voinha, saiba que, pela Renata, nossa NoNo, te conhecemos, e por ela e por toda sua descendência, em retribuição te ofertamos manter viva sua história, nas vivências e escrevivências da Sororidade em Pauta. Nós em nós. Nós por nós. “Nós ausentes estarão sempre presentes”. Voinha Presente!

E como seus netos sempre diziam quando chegavam animados em casa amarela: Bença Voinha!


*Além da Voinha e seus familiares, esse texto homenageia todos os familiares e as 80.264 vítimas do Coronavírus, conforme números apurados pelos veículos de imprensa até 21/07/2020.

“Do que ouvi, colhi histórias. Nada perguntei. Uma intervenção fora de hora pode ameaçar a naturalidade da voz de quem conta. Acato as histórias que me contam. Do meu ouvir deixo só a gratidão e evito a instalação de qualquer suspeita. Assim caminho entre vozes. Muitas vezes ouço falas de quem não vejo nem o corpo (…)”

– Histórias de leves enganos e parecenças – Conceição Evaristo

Assim foi com Maria José Cavalcanti Nóbrega, conhecida como Voinha. Conhecemos Voinha pela escrita pulsante de Renata Nóbrega, nossa querida NoNo, juíza do trabalho em Pernambuco. Naquele primeiro texto individual dela na nossa coluna, aquele texto visceral, que gritava a nossa identidade ameríndia, no texto “Quem somos ameríndias?, publicado na coluna quando ainda estava sediava no site Justificando.

Voinha estava lá logo na primeira linha, nos mostrando que a sororidade em pauta era bem mais do que uma coluna: era um resgate de toda a nossa ancestralidade. Um encontro não só daquelas juízas que, com muita dificuldade, expunham pela primeira vez suas opiniões sobre temas jurídicos e “não jurídicos”. Era um encontro também de todas as mulheres que vieram antes de nós que foram tão determinantes na nossa trajetória.

Voinha, mesmo sem saber, contribuiu para o crescimento de cada uma de nós. Ao construir as melhores partes da Renata, construiu, também, as nossas. E constrói as partes de Bia, filha da Renata e bisneta da Voinha, que pelo que sabemos era como se fosse sua Mainha.

 

Voinha, mesmo sem saber, fez parte da sororidade que nos reuniu, nos fortaleceu e nos permitiu alçar nossos voos solos e coletivos e, acima de tudo, nos fez pertencentes e pertencidas. À distância, acompanhamos quando Voinha ficou doente em 2017 e ficamos na torcida por sua recuperação, pois fazíamos parte de uma família expandida por afetos e Voinha é uma de nossas matriarcas. O tempo passa, as vidas se movem, o mundo é outro e, desta vez, não deu tempo de reunirmos nossas melhores vibrações pela saúde de Voinha.

No último sábado, Voinha morreu, vítima de Covid-19.

Antes dela, outras vidas se foram pela mesma doença. Tristes, cada uma em uma parte do país, nos perguntamos: como abraçar aquela que ficou e que – mesmo à distância – sempre foi presença? Quantos lutos sem abraços conseguiremos aguentar? Será que esse texto será suficiente?

Desde que a pandemia da Covid-19 se espalhou pelo mundo, e os estudos dos especialistas se aprofundaram, as primeiras conclusões atestaram que pacientes com doenças mais debilitantes têm menos capacidade de frear o vírus, pois, ao cair na  corrente sanguínea, atinge os pulmões e provoca pneumonia; entre eles, as pessoas com mais de 60 anos, que comumente chamamos de idosos.

Foi assim que, ao chegar em países da Europa, conhecidos pela grande quantidade de idosos em sua população, alastrou-se rapidamente entre esta faixa etária. Na Itália, por exemplo, as autoridades, tentando conter a contaminação, resolveram isolar idosos em Casas especializadas, como a Casa de Idosos Pio Albergo Trivulzio, em Milão, um dos centros para pessoas idosas mais importantes da Europa, mas a medida mostrou-se insatisfatória, contabilizando a morte de 190 idosos.

Levantamentos feitos naquele país contabilizam que entre 10 de fevereiro e 14 de abril, morreram quase 7.000 idosos em asilos de todo o país, sendo 3.045 na Lombardia. No total, 40% dos óbitos são de casos confirmados de Covid-19 ou suspeitos com sintomas. Os números, no entanto, tendem a ser maiores.

Isso se deu, em grande parte, em face das dificuldades dos gestores das casas em monitorar e conter o vírus, especialmente pela falta de fornecimento de equipamentos de proteção pessoal e falta de realização de testes nos idosos e trabalhadores, para isolá-los no momento adequado. Feito o estrago e após milhares de vidas perdidas, abriu-se investigação para apurar a responsabilidade dos envolvidos.

No Brasil, não tem sido diferente, agravado ao fato de que aqui temos ainda grandes desigualdades sociais e incompetências governamentais, em todos os níveis,  na gestão da doença, a exemplo da pouca fiscalização quanto ao isolamento social e na realização de testes e isolamento e monitoramento dos infectados, tornando mais suscetíveis de contaminação os hipervulneráveis, como os idosos, onde se enquadra a nossa homenageada da coluna: a Voinha!

E por que isso acontece? Porque a maioria dos países assolados vertiginosamente pela doença são governados por homens brancos – ao reverso, os locais com mais sucesso no controle da doença são governados por mulheres, como é o caso da Alemanha e da Nova Zelândia. Esses dados empíricos da eficiência feminina à frente de governos no combate à pandemia global do Covid-19 evidenciam que governar é muito mais que contabilizar números. É cuidar.

E, para o que é que servem os Estados Democráticos e Sociais senão para es(aus)cu(l)tar as necessidades dos seus cidadãos e cuidar dessas necessidades?  Quando o princípio feminino do cuidado encontra-se com a instituição criada para cuidar, esses resultados eficientes são inexoráveis. Já esses homens no poder, forjados na cultura patriarcal em que sentimentos e cuidado são coisas de menina, não estão preparados a entender a dimensão da importância de se manter uma Voinha viva e saudável entre os seus e de entenderem que a nossa humanidade está contida na nossa ancestralidade; apenas fragmentam os problemas, racionalizam, fazem contas chegando a afirmar que pela idade já viveram muito e podem morrer.

E Voinha tinha plano de saúde e conseguiu leito de hospital, mas mesmo assim não resistiu. E os que nem essa oportunidade tiveram?

Em uma subjetividade capitalista patriarcal, os velhos não têm valor. Não produzem, não geram lucro, são descartáveis. As velhas menos ainda: nem mesmo para procriar servem mais. Antecipar a sua morte faz bem para a economia que, afinal, não pode parar. O sistema patriarcal desrespeita os ciclos de vida-morte-vida porque há muito se desconectou da natureza. Formou-se um círculo vicioso. O desequilíbrio ecológico gerado pelo capitalismo patriarcal de dominação e devastação da natureza gera doenças que, por sua vez, são mal cuidadas e até mesmo menosprezadas pelo mesmo sistema capitalista patriarcal cuja maior preocupação é continuar dominando a natureza – e, na mesma lógica, os velhos, os indígenas, os negros, as mulheres…

Nessa lógica, voinha se foi juntamente com outras anciãs, guardiãs das florestas. E, quando as guardiãs das nossas memórias, dos nossos afetos e das nossas florestas se vão, nos tornamos ainda mais vulneráveis e o capitalismo patriarcal espalha ainda mais seus tentáculos, minando nossas esperanças de sobrevivência no planeta. Ao ver toda a vida que pulsa como mercadoria e as mulheres como meras fábricas de reprodução da força de trabalho, estamos caminhando rumo à nossa extinção enquanto espécie.

Ignoramos o fato que somos interconectados e ecodependentes.

O vírus nos mostra didaticamente que o ser humano, o grande e invencível predador, é frágil, e está tão vulnerável quanto todos os outros seres que ele sempre menosprezou e pensou que podia dominar. E de tanto fragmentar e analisar, não olhou e não sentiu o todo; esse todo em que um vírus invisível lhe pode provocar a morte em massa, ameaçando a própria existência de sua espécie.

Mulheres camponesas viajam mais de 40 horas de ônibus para a Marcha das Margaridas, em Brasília. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

De sorte que se for tarde para devolver aos seres humanos o equilíbrio entre os princípios masculino e feminino, se for tarde para devolver aos homens brancos no poder o sentido da importância do cuidar e do amar na gestão da vida, que eles possam por medo da extinção, com medo de sua própria morte,  entregar essa gestão às mulheres, abrindo mão de monopolizar o poder de decisão dos rumos da nossa existência.  Se não fizerem por bem, cabe às mulheres lutar para tomar esse lugar. Por nossas Voinhas. Por nossas anciãs e nossos anciãos e pelas gerações futuras.

Enquanto isso não acontece, nossas vidas são vidas descartáveis. Fenômeno social denominado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe de Necropolítica, onde quem detém o poder decide quem vai viver e quem vai deixar morrer. Ao perceber que “vastas populações são submetidas a condições de vida que lhes conferem o estatuto de ‘mortos-vivos'”. Populações que conhecemos muito bem: pobres, mulheres, pretos, crianças, idosos, o que se acentua ainda mais numa crise político-social e sanitária na qual atravessamos.

Mas para nós, que acreditamos que toda vida faz sentido e honramos todos os homens e mulheres que nos antecederam, especialmente as mulheres que, com seus ensinamentos orais, construíram a força e a resistência que há em nós, jamais seremos silentes diante das perdas irreparáveis para cada família que tem a exata dimensão da importância do seu ente querido em suas vidas. E, por isso, seguiremos tecendo a colcha de retalhos que um dia nos uniu, através da escrita, inspirando-nos na continuidade do texto de Conceição Evaristo lá de cima, dizendo no plural, o que ela falou em primeira pessoa: “Digo isto apenas: escrevo o que a vida me fala, o que capto das minhas vivências. Escrevivências.”  E assim, inauguramos uma nova forma de luto e  erguemos a ti nosso texto memorial.

Voinha, saiba que, pela Renata, nossa NoNo, te conhecemos, e por ela e por toda sua descendência, em retribuição te ofertamos manter viva sua história, nas vivências e escrevivências da Sororidade em Pauta. Nós em nós. Nós por nós. “Nós ausentes estarão sempre presentes”. Voinha Presente!

E como seus netos sempre diziam quando chegavam animados em casa amarela: Bença Voinha!


*Além da Voinha e seus familiares, esse texto homenageia todos os familiares e as 80.264 vítimas do Coronavírus, conforme números apurados pelos veículos de imprensa até 21/07/2020.

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