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Nunca houve ameaça tão intensa aos direitos constituídos das classes trabalhadoras brasileiras como agora
O dia 1° de maio está inscrito na memória das trabalhadoras e trabalhadores do mundo inteiro como uma data que relembra as lutas para a obtenção de direitos trabalhistas, a melhoria das condições do trabalho, o direito de organização dos operários e camponeses e as lutas por uma sociedade mais justa.
A data faz referência à histórica greve de trabalhadores de Chicago, que pararam em 1886 para exigir a redução da jornada de trabalho. Comandados sobretudo por militantes anarquistas, mais de 300 mil trabalhadores se mobilizaram, foram duramente reprimidos – alguns chegaram a ser presos e condenados à morte ou prisão injustamente – mas a luta se consolidou. No Brasil, o feriado dos trabalhadores foi sancionado pelo governo de Arthur Bernardes, em 1925.
Com a obtenção de direitos trabalhistas, dentro da política de concessões estabelecida pelo presidente Getúlio Vargas, o Brasil montou um projeto de estado de bem-estar em que a preocupação com a proteção do trabalho diante da força do capital, foi a tônica de políticas públicas voltadas para a promoção da justiça social.
O atual momento é extremamente grave para as trabalhadoras e trabalhadores brasileiros. O processo de reforma da previdência social que o governo de Jair Bolsonaro tenta impor ao país penaliza duramente os mais pobres, não ataca os privilégios das grandes fortunas e de megaempresas, propõe um modelo de capitalização que fragiliza os trabalhadores e protege os bancos.
As propostas carecem de discussão mais ampla com segmentos da sociedade civil e de trabalhadores organizados, as negociações no congresso envolvem barganhas políticas rasteiras e os maiores interessados, os trabalhadores do Brasil, são tratados como mera estatística de discursos chantagistas que tentam vender a sórdida ideia de que se a reforma não passar o país estará inviabilizado.
Os números recentes sobre as taxas de desemprego também são extremamente preocupantes. Recentemente os jornais noticiaram que o mercado de trabalho formal fechou o mês de março no vermelho. Segundo dados do próprio Ministério da Economia, baseados no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o saldo entre admissões e demissões ficou negativo em 43.196 vagas. Sem considerar o ajuste sazonal, o país fechou o trimestre com criação de 164,2 mil vagas. O número representa uma queda de 15,8% em relação aos 195,2 mil empregos criados em igual período no ano de 2018.
Com tudo isso, o 1° de maio de 2019 se configura como uma data que conclama os trabalhadores, a sociedade civil organizada, os setores progressistas comprometidos com a democracia e a justiça social, a amplas mobilizações em todo o país.
Nunca houve, desde que a luta de operários e camponeses e o trabalhismo de Getúlio Vargas lançaram as bases do estado de bem-estar social, ameaça tão intensa aos direitos constituídos das classes trabalhadoras brasileiras como agora.
O dia é de celebração da história dos trabalhadores, mas é sobretudo de luta e perseverança diante de tempos que exigem união, destemor e coragem.
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