Sobre o PL das Fake News

A liberdade que a democracia constitucional demanda e consagra assenta no pressuposto da tolerância limitada

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O PL das Fakes News, em tramitação na Câmara dos Deputados desde 2020, após ser aprovado no Senado, voltou à pauta depois dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, que culminaram com a depredação dos prédios dos Poderes da República e dos trágicos episódios de violência nas escolas em todo o País. A ideia é instituir uma nova lei no Brasil, a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. A discussão divide os congressistas a partir de um falso dilema: defesa do combate à desinformação e ao discurso de ódio versus liberdade de expressão.

A realpolitik informa, contudo, tratar-se de mais um teste de resistência do bolsonarismo, que dá sustentação parlamentar à oposição ferrenha à proposta, apoiada, por outro lado, pelo governo Lula. Não é de hoje que o bolsonarismo se alimenta do debate mal resolvido sobre liberdade de expressão. Na Presidência, Jair Bolsonaro atacou jornalistas, censurou dados públicos, perseguiu críticos e opositores e investiu pesado nas plataformas digitais para proliferar mentiras, teorias conspiratórias, violência e ódio, impondo a bandeira da liberdade como falácia. Na disputa eleitoral de que saiu derrotado, em 2022, adicionou um quarto elemento ao lema “Deus, Pátria e Família”, que vinha entoando desde 2018: Liberdade. Seus aliados persistem porque a liberdade de expressão tornou-se o refúgio, em face das evidências de suas intenções e atos antidemocráticos: os bolsonaristas bradam aos democratas que não passam, eles, de ditadores porque pretendem impedir que digam o que quiserem, quando e como quiserem.

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2 comentários

ricardo fernandes de oliveira 24 de maio de 2023 10h23
E um equívoco associar apenas o bolsonarismo a oposição a liberdade e a defesa das fake news. Na campanha de 2014, por exemplo, o pt usou e abusou de fake news contra Marina. Também promoveu uma campanha difamatória contra Joaquim Barbosa. E quis ressuscitar a lei de imprensa. A verdade é que nenhum partido brasileiro defende a democracia e a liberdade, apenas a própria liberdade de dar sua versão
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 21 de maio de 2023 02h24
A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro, disse o filósofo britânico Hebert Spencer. Desse modo na lógica bolsonarista existe uma espécie de liberdade infinita que excede até o limite das leis, desde que seja para fundamentar o direito de distorcer a verdade, ofender, de escrachar e desqualificar as pessoas e até as instituições a desejar se abusar do princípio de liberdade de expressão, como sendo um direito até de se praticar crimes. O que vimos nessas Big Techs foi a extrapolação de se querer passar por cima de nossa legislação e tentando acobertar pessoas inescrupulosas a utilizar o mundo virtual como uma terra de ninguém. Por isso se faz urgente, para todo parlamentar de bom senso que se aprove esse projeto de lei das Fake News, já que o mundo e a sociedade estão inseridos nessa realidade virtual. Ofensas de cunho racistas, xenofóbicos, étnicos, religiosos, de procedência nacional já previstos na lei 7.716/89 são praticados no ambiente cibernético sem punição alguma, além das fake News em que se espalham mentiras contra a ciência e contra a honra alheia sem nenhuma punição. A responsabilidade dessas plataformas devem ser estabelecidas pelo legislativo e sancionadas pelo judiciário, eis que nos quatro anos do governo Bolsonaro houve uma cultura de disseminação dessas mentiras e ofensas extremistas praticadas pelo próprio Estado o que propiciou que tais empresas operassem suas plataformas sem nenhuma regulamentação. Numa democracia, os princípios devem ser postos, desde que um não neutralize o outro pela força do poder econômico e político. Indivíduos que se aproveitaram de seus cargos, se utilizaram de mecanismos sorrateiros para desqualificar seus adversários, tratando-os como inimigos e até querendo destruí-los como fez a Operação lava jato nas figuras de Moro e Deltan Dallagnol.

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O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

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