Opinião

Rui Daher: A familiar e os pequenos

Queridas e queridos, mentem-nos descaradamente. Continuarão

Rui Daher: A familiar e os pequenos
Rui Daher: A familiar e os pequenos
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Em minha coluna na semana passada, “A recriação na agropecuária”, opinei sobre a capacidade intrínseca, apesar das imbecilidades atuais cometidas pelo Regente Insano Primeiro (RIP), clã, acólitos e apoiadores, de o Brasil permanecer no futuro “agro potente e exitoso”. No próprio artigo já confessava estar usando “vista assim do alto”, como Paulinho da Viola certa vez olhou a Mangueira e a viu “como um céu no chão”. Na maioria das vezes, tenho preferido olhar com minha lupa crítica.

Diante da impossibilidade de receber comentários diretos aos textos (acho), sempre os encaminho pelas vias digitais de que disponho. Já cheguei a pensar em imprimi-los e enviar pelos Correios, mas além de trabalhoso e caro, ouço dizer que irão privatizá-lo. Boa sorte. Para nós, usuários.

É a forma de saber da receptividade de meus textos. Muito prezo as respostas, sejam para a crítica dura ou concordância, desde que bem fundamentadas.

Seleciono a do amigo Edvaldo, de Boituva/SP, engenheiro agrônomo, mestrando em agronomia, ambos pela ESALQ, Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz, também produtor de tomates.

“E para nós pequenos, seja produtor, agricultor familiar, empresa, comércio, está muito difícil. Crédito não existe, governo veta o auxílio; ou seja, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Mas sempre foi assim né! Vamos lutando, sem perder as esperanças. Somos brasileiros, teimosos e persistentes!”

Edvaldo logo percebeu que não usei a lupa. Uso-a agora.

José Antônio, de Campinas/SP, outro amigo de modas de viola e apreciador, como eu, de singelos destilados de cana-de-açúcar, nada comentou, mas carimbaria sobre o que escreveu Edvaldo.

Em troca de insumos orgânicos, recebia produtos da horticultura familiar para entregar nos CEASA da região. Escambo, sim. Os produtores ficaram sem demanda e ele sem fregueses. Com o isolamento social, resultado da pandemia, houve mudanças nos hábitos e na mobilidade para aquisição desses produtos “da roça”. E muitos perguntam: por quê? As folhas e telas cotidianas quando veem alguns itens subirem de preços estranham e entrevistam consumidores para depois chamarem os produtores de vilões da inflação.

Ora, vão se catar habitantes do gueto do notebook, tão poucos somos frente a desemprego, subemprego e extrema pobreza? Este o “novo normal”?

Duas notinhas, uma atrás da outra, de 2/9, no Valor: 1) Mais uma vez os bancos não conseguiram emprestar todo dinheiro que são obrigados a destinar ao crédito rural com juros controlados. O que eles chamam de “direcionamento” ficou R$ 2,5 bilhões pra trás; 2) Depois de ouvir o Banco Central, “o crédito rural representou menos de 1% da margem de lucro dos bancos em 2019”. Mais uma vez, egrégios diretores de bancos culpam o teto das taxas de juros e os altos custos que eles têm ao financiar o agronegócio e, mais ainda, burocratizam, a agricultura familiar.

E eu, tonto, escrevendo em meu blog no GGN uma série sobre a “burrice nacional”. Engano meu. Entre esses senhores existem ganância, esperteza e safarnagem.

Não acreditam? Sugiro o primeiro boteco, alguns amigos alcoolizados a 70 graus, máscaras, e discutam como tivemos uma queda histórica (9,7%) do PIB no segundo trimestre e, ao mesmo tempo, “explosão na venda de imóveis”.

Queridas e queridos, mentem-nos descaradamente. Continuarão. Prometem alta expressiva para o próximo trimestre. Óbvio quando se parte de uma base baixa-fosso. Cansado, deixo para vocês.

Inté!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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